De casa, Pedro Bial está de volta para seus encontros de segundas a sextas com convidados de diferentes partes do mundo. E a estreia da nova temporada de Conversa com Bial, nesta segunda-feira (8), logo após o Jornal da Globo, terá a participação do cineasta americano Woody Allen, que falará sobre os momentos mais relevantes de sua vida e trajetória profissional, tendo como fio condutor a autobiografia lançada no ano passado.
O formato via internet permitiu uma produção sem fronteiras desde o início do distanciamento social e garantiu momentos históricos, como a entrevista com o ex-presidente norte-americano Barack Obama. Além dos bate-papos com o ator Willem Dafoe e a cantora Carla Bruni.
Em entrevista por e-mail, Bial fala mais sobre a naturalidade adicionada ao programa pelo fato de conversar com a pessoa “diretamente de casa” e a paixão pela TV.
Como é seu ritual de preparação para as entrevistas?
Não tenho exatamente um ritual. A minha preparação é como a de qualquer jornalista para uma matéria, uma entrevista. Procuro fazer um bom dever de casa e buscar adivinhar quais são as principais curiosidades e perguntas que o público teria a fazer.
O Conversa com Bial ganhou outro tom a partir do momento em que os entrevistados começaram a falar diretamente de suas casas. Além da intimidade e eles ficarem mais soltos, o que essa mudança proporcionou, na sua opinião?
O tom que o Conversa ganhou com as pessoas falando diretamente de suas casas, além da intimidade, é, na minha opinião, talvez uma facilidade de acesso. Hoje, para a gente fazer uma entrevista com alguém de fora do Brasil, por exemplo, não precisa pegar um avião e fazer toda uma produção. Basta conseguir a essência, que a pessoa tope falar, que as coisas se tornam mais, entre todas as aspas, simples. Porque não é simples, há muitas dificuldades no processo de gravar, e a internet ainda tem a sua instabilidade. Mas acho que é isso, tudo ficou mais perto.
Um dos destaques da última temporada foi a conversa com Barack Obama. Como ocorreu essa ponte com ele e como se sentiu naquela entrevista? O que ficou de mensagem desse encontro?
Sem dúvida foi um dos destaques da última temporada e um dos momentos da minha carreira que nunca vou esquecer. A ponte foi por meio da editora do livro nos Estados Unidos, aqui no Brasil. Eu já vinha tentando há alguns anos uma aproximação com a família Obama e aí acabou dando frutos. Eu me empenhei pessoalmente nisso.
Quem falta entrevistar na sua lista? E quem você gostaria de entrevistar de novo?
Falta o mundo inteiro. Todos que eu ainda não entrevistei (risos). Mas estou realmente querendo muito que o Pelé fale comigo. Vamos ver.
No ano passado, você dedicou as sextas para os 70 anos da TV brasileira. O que foi mais memorável e qual é a sua primeira lembrança?
Nossa, foi tão feliz essa série marcando os 70 anos da televisão brasileira. Por mim, continuava, e continuarei, falando da história da televisão, sem necessariamente estar atrelado aos 70 anos. As minhas lembranças mais remotas do aparelho... Eu me lembro de ver Os Três Mosqueteiros em preto e branco e com legendas, e nem sabia ler. Depois, vi O Vigilante Rodoviário, a Gladys, desenhista que contava e desenhava histórias ao mesmo tempo, com personagens como a formiguinha Gilda e outros. Depois, crescendo, mais tarde, além de todos os desenhos animados mais clássicos, via o Agente 86, o National Kid, e tudo... Adorava ver televisão, os comerciais, o esporte, naturalmente, além do jornalismo, que começou a me atrair na adolescência. Enfim, sempre fui um bicho de televisão. Hoje, talvez seja a etapa da minha vida em que eu menos assisto, mas ainda assisto.
Um programa de entrevistas que alterna entre o entretenimento e o jornalismo acaba sendo uma forma de falar sobre o país. Como você avalia o governo neste momento? Que tipo de lacuna o programa busca preencher?
Um programa de televisão, seja de entrevistas ou qualquer outro, busca preencher espaços. Acho que a gente está atendendo a uma necessidade e a um desejo de debate público de qualidade, de pensamento livre de amarras ideológicas. É claro que sempre vêm algumas pessoas com as suas opiniões, às vezes, um pouco firmes ou feitas, com suas convicções arredadas, mas é expondo essas convicções a outras contrárias, ou não, que a gente pode chegar a outras ideias. Acho que é isso, a gente busca um espaço para o debate público. Não quero fazer avaliações sobre um governo, em particular o que está no poder agora, quero pensar sempre em termos de um projeto de nação. Quem tem projeto de nação, quais são os projetos que estão aí e como eles podem dialogar, para que a gente leve adiante essa ideia que pode ser tão bonita, que é a ideia de Brasil.