A Força do Querer foi escolhida para voltar ao ar na faixa das nove da Globo depois que a reprise de Fina Estampa acabar, entre agosto e setembro. Enquanto a emissora grava os últimos 23 episódios da paralisada Amor de Mãe, o telespectador será contemplado novamente com uma das melhores e mais contemporâneas novelas de Gloria Perez.
A trama de 2017 desconstrói a ideia de que "querer não é poder" ao acompanhar a trajetória de vários personagens movidos pelo querer e pelas escolhas. Apesar de diferentes, eles têm algo em comum: a luta pelos sonhos e suas consequências.
A novela também fala de diversidade, tolerância e respeito às diferenças - um assunto tão necessário, principalmente nos turbulentos dias de hoje. Vejo os principais pontos pelos quais a novela merece ser assistida novamente:
A busca pelos sonhos
As figuras centrais são Rita (Isis Valverde), uma jovem apaixonada por si mesma e que adora sentir o fascínio que exerce sobre os homens; Jeiza (Paolla Oliveira), uma policial linha dura que sonha em se tornar lutadora de MMA; e Bibi (Juliana Paes), que vive o amor ao extremo e tem o curso da vida alterado por isso.
Das três, a personagem que ainda permanece no imaginário do público é a de Juliana Paes. Inspirada em uma história real, Bibi Perigosa foi mocinha e vilã ao mesmo tempo. Viveu altos e baixos e se tornou meme da internet diversas vezes, principalmente nas cenas de ação e de briga (quem lembra dela colocando fogo em tudo?).
Seu destino muda bruscamente ao apostar na avassaladora paixão por Rubinho (Emílio Dantas). Na pior das circunstâncias, ela também encontra, 15 anos depois, o advogado e antigo amor Caio (Rodrigo Lombardi).
A vida de Bibi também se cruza com a de Jeiza, policial que trabalha no Batalhão de Ações com Cães. Além do entrar para o mundo MMA, ela quer achar um amor que entenda e respeite seu trabalho. Seu personagem abordou o preconceito com mulheres que assumem postos de trabalho onde os homens sempre foram a maioria.
LGBT+ em pauta
Pela primeira vez nos últimos anos, Gloria Perez não abordou o choque de culturas entre diferentes sociedades, algo típico de seus enredos, como visto em O Clone (2001) e Caminho das Índias (2009). Mas a autora seguiu tratando de assuntos polêmicos, delicados e importantes.
A Força do Querer foi a primeira novela a abordar a transexualidade de forma detalhista e didática, mostrando as diferenças entre identidade de gênero (na qual a pessoa se identifica) e orientação sexual (referente à atração por outra pessoa), ao acompanhar o processo de transição de Ivana/Ivan (Carol Duarte).
Não podemos esquecer do personagem que alçou o nome de Silvero Pereira ao sucesso na TV. Oriundo do teatro, o ator viveu Nonato/Elis Miranda, que passa a maior parte da trama com medo de contar ao seu patrão Eurico (Humberto Martins) que é travesti e faz apresentações em uma casa noturna.
Em um mundo onde a comunidade LGBT+ ainda é cercada de preconceito, nada melhor do que uma novela no horário nobre para abordar outras expressões de sexualidade.
Uma novela, vários rostos
Desde o início, A Força do Querer foi pensada para não ter um casal de protagonistas fixo, mas sim três figuras centrais (Bibi, Jeiza e Rita). O público pode não ter percebido, mas o trio aparece em todos os capítulos, cada uma a seu modo.
A ideia de Gloria Perez de mostrar diversos personagens em várias histórias animou os telespectadores. A novela registrou, em 2017, a melhor média de audiência desde a inesquecível Avenida Brasil (2012), atraindo novamente o público para um horário que registrava uma baixa desde Carminha, Nina e companhia.
De fato, na época, os telespectadores estavam órfãos de uma boa história - assim como estão hoje, sem um capítulo inédito de novela há quatro meses. Talvez, novamente, A Força do Querer chegue para preencher essa falta, apesar das críticas que a escolha da reprise tem recebido. É claro que, por ora, o ideal seria o retorno de Amor de Mãe. Mas, por enquanto, o nosso querer está mais afastado do poder. Só por enquanto.