Antonia Pellegrino e José Padilha já estavam praticamente acertados com uma plataforma de streaming internacional – especula-se que era a Amazon – para fazer a série de ficção sobre a trajetória da vereadora do PSOL Marielle Franco, quando o Globoplay se mostrou interessado no projeto.
A socióloga Marielle Franco foi morta a tiros junto com o motorista Anderson Gomes, na zona norte do Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018. A morte da vereadora causou grande comoção no Brasil e reverberou para outras nações que pediam a identificação e punição do assassinos – até hoje, a pergunta de quem matou a vereadora segue em aberto.
Além do documentário do Globoplay, que será disponibilizado na sexta-feira (13) na plataforma de streaming e um dia antes será exibido na Globo após o Big Brother Brasil, Pellegrino e Padilha vão criar uma série ficcional sobre a socióloga que saiu do Complexo da Maré para a Câmara dos Vereadores.
Padilha afirma que o projeto da série ficcional já estava sendo desenvolvido, com um bom aporte financeiro, até que a "Globo fez uma oferta ainda mais generosa".
— Nós pensamos que isso era o ideal, porque vamos ter uma distribuição enorme no Brasil, e o interesse é levar essa história para o brasileiro.
O cineasta diz ainda que já costuram parcerias para que a produção seja apresentada no mundo inteiro, "já que a Marielle representa valores que são universais".
O projeto é o primeiro desenvolvido pelo cineasta com a Globo. A ideia da série, que ainda não tem título e deve estrear em 2021, foi desenvolvida por Antonia Pellegrino, escritora, diretora, roteirista e amiga pessoal de Marielle Franco.
Ela convidou Padilha para entrar no projeto e, mesmo com outros trabalhos, ele diz que sentiu que deveria se debruçar sobre a série. Amigo do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), o diretor conta que estava presente no dia em que o parlamentar conheceu a vereadora do PSOL. Foi em uma exibição aberta ao público no Cine Odeon, no Rio, do seu documentário Ônibus 174.
— A gente não sabia, mas estava sentada na plateia a Marielle, que depois veio se apresentar e conversar com a gente — disse.
Foi ali, segundo o cineasta, que nasceu a parceria entre Freixo e a futura vereadora. Esse fato e a carreira profissional com longas que narram a violência no Rio (como os dois filmes Tropa de Elite) levaram Padilha a aceitar o convite.
— Eu sempre fui muito amigo de Marcelo Freixo, apesar de muitas pessoas acharem que eu sou de direita, eu já doei bastante dinheiro para o PSOL — brinca.
Pellegrino conta que resolveu chamar Padilha para o projeto porque "precisava de alguém que pudesse levar a história ainda mais longe".
— O assassinato de Marielle Franco não é o único crime que aconteceu no Rio de Janeiro, mas é sim o único crime capaz de revelar esse esgoto da cidade, que a gente insiste em chamar de maravilhosa, mas que talvez a gente já tenha que começar a chamar de cidade do crime — completa.
Antonia afirma que conheceu e se tornou próxima de Marielle cinco anos antes do atentado que a matou. A vereadora, aliás, teve papel de cupido ao comentar com Freixo que ele deveria namorar alguém como Antonia – os dois se casaram no ano passado.
A escritora lembra que foi uma das primeiras pessoas a chegar à cena do crime, antes da polícia, e diz guardar na memória uma imagem "brutal" e que jamais vai esquecer. Antonia vai atuar como criadora e produtora executiva da série. Já Padilha, como diretor, criador e produtor executivo.
Soma-se ao projeto George Moura - de séries como Onde Nascem os Fortes (2018) e Amores Roubados (2014) - que vai liderar o time de roteiristas. A obra será realizada em coprodução com os Estúdios Globo.
Com previsão de duas temporadas, a primeira vai girar em torno da biografia de Marielle Franco, culminando com as circunstâncias do crime que chocou o Brasil e o mundo. Já na segunda, o foco será nos mandantes e, se o caso for solucionado, na resolução do crime.
Ainda não foi divulgado o elenco que deve integrar a série.
— A série será ficcional, como os dois Tropa de Elite foram ficcionais. Mas baseada em uma história real e na vida de Marielle Franco, e em tudo o que ela representa — pontua José Padilha.