Atenção, isso não é um teste: as reservas da Recykla Gran Rechebuchyn, a mais importante relíquia da Sbørnia, chegaram a níveis perigosamente baixos. Em A Expedizsøn, segunda temporada da websérie Sbørnia em Revista, Kraunus Sang (Hique Gomez) e Nabiha Nabaha (Simone Rasslan) saem em busca de artistas para abastecer sua preciosa lixeira cultural com as mais diversas obras.
Nos três novos episódios, os dois personagens partem em uma expedição organizada pelo Professor Ubaldo Kanflutz (Cláudio Levitan), trazendo para a websérie nove participações especiais – entre elas, o gaiteiro Douglas Santana, o percussionista Kako Xavier e o grupo de pagode SambaDelas.
– A Sbørnia tem uma gênese meio leste europeu, as pessoas ligam muito nosso projeto a uma linha de música que vem dos imigrantes. Nós nunca fomos tão a fundo nas origens brasileiras. Tem bastante samba e uma cultura afro bem presente – adiantou Hique no evento online de pré-lançamento de A Expedizsøn, que também exalta a cultura tradicionalista gaúcha.
Os episódios serão lançados neste sábado e nos dias 11 e 18 de abril, sempre às 19h, no canal do espetáculo A Sbørnia Kontr’Atracka no YouTube, onde a primeira temporada da websérie segue disponível.
Órbita
Novamente, a websérie aposta na combinação entre material inédito e momentos marcantes do espetáculo Tangos & Tragédias, que originou o universo ficcional da Sbørnia. Além de dar seguimento aos quadros que já faziam parte da primeira temporada, os convidados são entrevistados em plena órbita terrestre, na estação espacial Sprøtna 4. Tudo isso para dar o exemplo do distanciamento social em meio à pandemia da covid-19.
– A gente tem que imaginar que o sujeito está ali, presente. Na imaginação, as coisas estão acontecendo. Então, temos que ter muito mais fé do que ao fazer o trabalho no palco, acreditar que aquilo ali vai dar certo no fim – apontou Hique.
Contudo, não é apenas de divertidos ineditismos que os trabalhos são feitos. Esta é a primeira vez em 35 anos que a Sbørnia não foi ao Theatro São Pedro. Apesar da crise de coronavírus, o motivo não foi a restrição sanitária. É que existia um projeto de transmissão sem plateia, mas com som e luz, contando a história do local e do próprio universo criado por Hique e Nico Nicolaiewsky. O dinheiro do projeto, porém, ainda não foi liberado.
– Esses recursos estão no Ministério da Cultura esperando para serem aplicados. Não sei em que área, porque na nossa não está sendo (risos). São milhares de projetos que estão esperando liberação – explica Hique.
A história da ilha fictícia da Sbørnia surgiu nos palcos em 1984, em meio à hiperinflação do governo de João Figueiredo e sob a censura da ditadura militar. Após a morte de Nico em 2014, a produção foi repensada de forma a dar vida a um novo show, com a participação de Simone Rasslan. Apesar do recente mergulho no audiovisual representar uma grande adaptação, Hique avalia que, se os novos projetos não fossem recheados de desafios, talvez não fossem tão empolgantes.
Entrevista com Hique Gomez
Quais foram os erros e acertos da primeira temporada que impactaram a segunda?
Eu acho que o trabalho do comediante é incluir o erro. E isso é uma das principais fontes de conteúdo. Os erros que tiveram ali foram todos absorvidos. Na medida em que a gente assume como parte do nosso conteúdo, ele não é mais um erro. Porque o erro é engraçado. O comediante é um errado, os personagens têm que ser errados. Se não, não tem nem razão de ser.
Existe a possibilidade de, voltando aos palcos, seguir com o trabalho na internet?
Totalmente. Temos um tipo de trabalho antes da internet – quando estreamos (nos anos 1980), poucas pessoas tinham computadores. E tem gerações que já nasceram com a internet. Definitivamente agora nós estamos dentro dessa plataforma, produzindo para ela, embora ainda precisemos dominar essa linguagem de massa da internet. Mas contamos com uma equipe que é ótima nisso.
Quais são as principais dificuldades de criar um projeto em meio à pandemia?
Quando a gente entra em uma plataforma que não dominamos ainda, faz o que dá para fazer. E temos acertado. Se estivéssemos criando tudo que estamos criando em uma situação favorável, eu tenho certeza de que seria até melhor do que isso. Mas já está bom, porque criar produtos inusitados é um trabalho nosso. Nós tivemos que passar o roteiro de Tangos & Tragédias pela censura (nos anos 1980), e era só eu e o Nico (Nicolaiewsky). Às vezes, uma condição desfavorável para nós traz um desafio. “E aí? E agora? Agora é ruim mesmo, não tem como fazer show.” “Ah é?!” Alguma coisa nós vamos fazer, sabe?
Há outros projetos em vista?
Tem projeto de filme, tem roteiro de cinema em que estamos trabalhando, tem possibilidade de séries. Produzimos um material desses em uma condição dificultada. Nunca houve condições propícias no Brasil, na verdade, nunca houve condições ideais, mas a gente vai e vence.