O encontro não poderia ser mais natural, dadas as circunstâncias: dois artistas que perderam os respectivos parceiros com os quais criaram espetáculos que fizeram história. Hique Gomez encenou Tangos & Tragédias durante três décadas ao lado de Nico Nicolaiewsky, e Simone Rasslan esteve em cartaz durante nove anos com Adriana Marques em Rádio Esmeralda. Mas as afinidades não terminam por aí. Rádio Esmeralda surgiu de uma participação de Simone e Adriana em Tangos e foi dirigido pelo próprio Hique.
Com nova temporada a partir desta sexta-feira (7/7) no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, o espetáculo A Sbørnia Køntr'Atracka marca uma nova parceria que vem sendo desenvolvida desde janeiro de 2016, quando Hique e Simone apresentaram no mesmo teatro Kraunus e Convidados – foi a primeira vez que ele se caracterizou como Kraunus Sang desde a perda de Nico, dois anos antes.
– Isso é muito sbørniano: tragédias que construíram uma obra de arte – diz Simone, que afirma estar entrando "de pés descalços": – É uma baita responsabilidade estar em um trabalho que foi construído durante 30 anos, com o peso do nome do Nico, que era genial.
Recuperando e expandindo o universo ficcional de Tangos, A Sbørnia Køntr'Atracka é uma continuação e, ao mesmo tempo, uma obra diferente, como explica Hique:
– Nesse momento de crise pela qual passa o país, em que aparentemente perdemos tudo, a alegria ninguém pode tirar de nós. É a forma que encontramos para permanecer junto às pessoas.
Estarão presentes canções que o público cantava com Kraunus e o Maestro Pletskaya (Aquarela da Sbørnia, Ana Cristina, A Trágica Paixão de Marcelo por Roberta e Trem das Onze), músicas do repertório de Rádio Esmeralda (Chattanooga Choo Choo e Padaria), outras composições de Cláudio Levitan (o Professor Kanflutz do universo sbørniano) e uma de Hique que já caiu nas graças do público: Coxinha e Petralha ("Ela é coxinha/ E ele é petralha/ Isso não os atrapalha").
Cantando para os invasores
Aqui, o bom e velho Kraunus Sang encontra Nabiha, uma pianista carrancuda, mas apenas na aparência (a propósito: era o nome da avó paterna de Simone, de origem libanesa). O espetáculo contará com participações da sapateadora Gabriela Castro dos Santos e, nas sessões da semana que vem, também do Coral Jovem da Ospa, ou melhor, do Jungst Kørahl Sbørniani.
A ideia de falar do Brasil por meio de um país inventado segue presente no novo espetáculo, como observa Hique:
– A Sbørnia é o Brasil. É a ideia de fazer, a partir de um universo fictício, uma crítica social, o que é uma das funções da arte e do humor.
No roteiro, a Sbørnia sofre com invasores que pretendem se apoderar de suas reservas de Sclerks de Bizuwin, uma cobiçada flor que, uma vez ingerida, dá a resposta para perguntas que ainda não foram feitas. Kraunus e Nabiha tentam se comunicar com eles sem sucesso até descobrir que falam inglês. Assim, interpretam a "canção de protesto" From the Other Side, de Levitan. A produção conta, ainda, com cenas do longa de animação Até que a Sbørnia nos Separe (2014), de Otto Guerra e Ennio Torresan. E o tradicional desfecho apoteótico em frente à Praça da Matriz que caracterizou Tangos está garantido.
A SBØRNIA KØNTR'ATRACKA
Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 18h. Temporada até 16/7.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 40 (galerias), R$ 60 (camarote lateral), R$ 80 (camarote central) e R$ 100 (plateia e cadeira extra).
Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda na bilheteria do teatro de segunda a sexta, das 13h às 18h30 (ou até o início do espetáculo, quando houver), e sábados e domingos, das 15h até o início do espetáculo.