Mariana Marques: é o que há de novo
Ao contrário da MPB, historicamente povoada de cantoras, a música regional gaúcha nunca teve muitas vozes de mulher. Por isso, deve-se saudar a chegada de Mariana Marques, que já no álbum de estreia, De Campo e Taba, surge como revelação. Pela voz bonita, clara, suave, e pelo repertório diferenciado.
Três referências são suficientes para indicar o perfil da moça de 23 anos nascida em Ajuricaba, um dos portais das Missões: tem influências das argentinas Mercedes Sosa e Teresa Parodi, seu padrinho musical é Luiz Carlos Borges (que faz a direção artística do disco). Elogiada nos textos do encarte por João Sampaio e Érlon Péricles, ela selecionou músicas que em maioria têm como tema a terra, a paisagem e a cultura missioneira - e que, embora feitas por homens, expressam sentimentos femininos.
Acompanhada por Jonatan Dalmonte (acordeão), Yuri Menezes (violão), Lucas Araújo (violão 7 cordas), Rodrigo Maia (baixo) e Rafael Marques (cajón, percussão), todos muito bons, com Borges em alguns vocais, Mariana canta Balseiros do Rio Uruguai (Barbosa Lessa), Bolicho (Cenair Maicá/Gilberto Carvalho), Rio de Minha Infância (Cenair), A Terra É do Índio (Borges/Humberto Zanatta), Pago Santo (Telmo de Lima Freitas), Soy el Chamamé (Antonio Tarragó Ros), Que Linda É Minha Terra (Honeyde Bertussi), Ah, Mi Corrientes Porã (Manuel Garcia/Lito Bayardo), De Campo e Taba (Borges/João Sampaio) e Fronteira do Iguaçu (Borges).
Além de cantar bem, ser inteligente e bonita, ela ainda - outra raridade - toca gaita ponto. Meu palpite é que chega para ficar.
Campo e Taba
De Mariana Marques
Acit Discos, R$ 11,90.
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Antônio Gringo: natureza com leveza
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Prisma Vídeos, Divulgação
Com quase 40 anos de carreira, Antonio Gringo tornou-se conhecido por identificar seu trabalho com a causa dos pequenos agricultores e pela justiça social. Já em 1984, por exemplo, a capa do LP Por que Canto mostrava uma família capinando um roçado.
É esse meio, o da região em que nasceu, no Norte do Estado, e não o das estâncias do Sul, que caracteriza seu repertório na postura de cantar opinando. Mas no novo (14º) disco, Aurora Camponesa, não há nenhuma música mais, digamos, engajada - embora nem de longe o cantador tenha aderido aos formatos tradicionalistas. Sua temática básica segue sendo a natureza, como no chamamé que dá título ao CD, sobre o amanhecer em que "se mistura a voz do homem com o som da bicharada".
A faixa de abertura, Dá Risada, Nego Veio, é um engraçado vanerão que homenageia um descendente de escravos. O humor também aparece em Ma que Pôca Vergonha, brincando com os trajes de banho em uma praia de rio - música que já gravara em 1989. Em Vanera Nossa, são lembrados os bailes antigos. Outra sobre a paisagem rural, Minha Terra, é um chote. Para a dedicatória afetiva de À Minha Companheira, escolheu uma valsa. Então: natureza com leveza.
Cinco das 15 faixas são dele sozinho. Jaime Brum Carlos, Bruno Neher e Sérgio Rosa estão entre os parceiros. Sérgio também é, há muito tempo, o gaiteiro de Antonio Gringo, assim como o violonista e baixista Jair Medeiros. Os três juntos criam os arranjos.
Aurora Camponesa
De Antônio Gringo
Gravadora Vertical, R$ 14,90.