Matuê não esquece que, da primeira vez em que esteve no Planeta Atlântida, em 2020, fez o chão tremer. O público ficou tão empolgado que pulava muito durante a apresentação do rapper. Ele retornou ao festival no ano passado, fazendo um dos shows mais esperados da edição, no palco principal. Agora, o artista cearense volta ao evento ao lado de WIU e Teto, representando a gravadora 30PRAUM, do próprio Tuê, como é chamado pelos parceiros e fãs.
E eles não poderiam ficar de fora deste line-up, afinal, o trap vem em ascensão no Brasil desde 2017 — apesar do movimento ter começado um pouco antes, por volta de 2015, tendo Matuê como um dos artistas na linha de frente. O subgênero do rap vem conquistando cada vez mais espaço e, hoje, por exemplo, figura no top 5 dos mais ouvidos do Spotify. Até por isso, 30PRAUM chega ao Planeta Atlântida com força para fechar o festival.
— A gente sempre quis ocupar essa posição. Ter este destaque em um festival como o Planeta Atlântida me deixa sem palavras. Sou de 1993, então sempre eu via minhas bandas favoritas de rock, pela TV ou pela internet, no Planeta Atlântida. Bandas de hardcore que eu curtia fazendo história. O próprio Charlie Brown Jr. várias vezes fez história neste palco. Então, para mim, tem essa importância — explica Matuê.
WIU e Teto também já passaram pelo festival, mas não foram atrações no palco principal do evento, como serão em 2024. E a dupla se mostra empolgada para fazer o show de encerramento do evento, que deverá ter duas horas de duração, já na madrugada do domingo (4).
— Mó responsa, hein? — brinca Teto, que se diz confiante para o desafio: — É como se a gente recebesse uma missão quando se está nessa posição de fechar um festival como esse. E essa missão, todos nós três, abraçamos como uma missão de vida. A gente sabe como aquele momento representa para essa rapaziada. É um encontro genuíno, que pode ser a primeira vez na vida deles. Então, estar ali no palco, de verdade, inteiramente, de coração, significa muito para esse momento.
WIU, pouco antes da entrevista, estava analisando o line-up do Planeta Atlântida 2024 e, ao ver vários nomes de peso entre as atrações, diz ter sido tomado por uma grande felicidade, porque, independentemente do gênero que cantem, todos que estarão na festa acreditam no mesmo propósito: o poder da música. E se apresentar para o público que estará lá, pronto para compartilhar da mesma vibe que o trio, o deixa ainda mais empolgado para o show, que ele promete ser uma grande celebração a obra dos três:
— A gente entra na música um do outro, a gente se dá essa liberdade de participar um pouco mais musicalmente, meio que criando em cima do palco. A gente faz algumas dobras, a gente adiciona um pouco do nosso toque de chefe em cada pedaço da música um do outro. Para mim, essa é diversão maior. Então, pelo menos do meu lado, o Wiuzinho gosta de se divertir. A expectativa é essa: resenhar muito, dar muita risada e fazer muita música boa para a rapaziada no Planeta.
O novo
Calcado na ostentação, na superação e, também no sexo, o trap ainda tem espaço para, tal qual o seu gênero de origem, expor os problemas sociais, mas em menor proporção — e é esse desvio de foco que alguns ouvintes mais velhos do rap reclamam. Para os adolescentes, porém, não há menor problema. Esse é o novo rap.
E são esses jovens, muitos deles nascidos neste milênio, que lotam os shows de Matuê, WIU, Teto, entre muitos outros, que estão brigando com o sertanejo pelo reinado no topo dos gêneros mais ouvidos no país. A 30PRAUM, por exemplo, é uma gravadora com foco em artistas nordestinos e, atualmente, já tem o seu próprio evento, o Plantão Festival, que, neste ano, ocorre em 19 e 20 de abril, em Fortaleza, reunindo vários nomes importantes da cena e mostrando a força da iniciativa.
— A gente consegue influenciar boa parte da rapaziada jovem — destaca Matuê, que relembra que tanto WIU como Teto chegaram muito jovens na 30PRAUM, vindos de uma origem humilde e, hoje, fazem sucesso mundo afora. — Eram dois moleques que se conectaram com essa caminhada do trap. Acharam a sua forma de se expressar dentro disso, da mesma forma que eu achei. E isso aí é a força do trap: a rapaziada vê outros jovens, pessoas que eles se espelham, vencendo, vê a gente criando, trabalhando com arte, seja ela musical, visual, a gente se expressa de várias maneiras, e temos a nossa voz. É uma coisa que muita gente vê e fala: "Pô, mano, quero fazer isso também" — acrescenta.
Os três artistas que fazem parte da 30PRAUM e que acumulam milhões de visualizações e streams em cada nova música lançada não são apenas fenômenos na internet. O trio ainda lota casas de shows por onde passa — celebrados, inclusive, no Rap in Cena, sendo alguns dos nomes mais populares entre os participantes do festival da cultura hip hop de Porto Alegre. E para o público que torce o nariz para esta nova vertente musical, eles afirmam: é temporário, as pessoas vão acabar se rendendo ao trap.
Para a apresentação no Planeta Atlântida, Matuê promete:
— A gente vai tentar manter este show o mais "alta energia" possível. Essa é a vibe. E, para este ano, o meu objetivo: fazer várias rodas punk, fazer um show bate-cabeça firme.
Para quem quiser ir aquecendo em casa, antes do evento, cada um cravou qual música de seu repertório não vai ficar de fora do show: Minha Vida é um Filme (Teto), Eu Tenho que Me Decidir (WIU) e É Sal (Matuê). E, visto a popularidade do trap, provavelmente, o Planeta inteiro vai estar cantando todas a plenos pulmões, sabendo as letras de cor. É um fenômeno.