Em uma madrugada na quarentena, no ano passado, Biba Meira passava por mais uma noite de insônia. Acordada, assistia a uma série, até que deparou com uma cena com várias pessoas datilografando em máquinas de escrever. Passou o resto da noite com uma inquietação. Pensou: por que não? Encontrou um instrumento. Surgia o Microscópicos Ritmos de uma Máquina de Escrever, que está em campanha de financiamento coletivo.
Baterista da formação clássica do DeFalla e fundadora do projeto As Batucas — Orquestra Feminina de Bateria e Percussão, Biba utiliza a máquina de escrever como percussão e o fio condutor para as faixas que integram seu segundo trabalho solo — o primeiro, Suave Coisa Nenhuma, foi lançado em 2018. Além da máquina de escrever, ela também transformou outros objetos como percussão neste projeto — chaleira, panela, bandeja etc.
— Sempre me chamou atenção o som da máquina de escrever. É super percussiva, como o cavalo quando está galopando. Quando observo um objeto, fico imaginando o som. Se tem um copo na minha frente, daqui a pouco quero fazer música com esse copo. Tem um balde do meu lado, tiro um som com o balde. Tenho esse olhar mais musical para as coisas — relata.
Suas músicas costumam surgir no improviso. Ela lembra que seu primeiro disco conta com algumas faixa criadas subitamente.
— É algo que curto muito: pego o microfone, a máquina e saio gravando. Sem pensar em absolutamente nada. Só o que me vem à cabeça. Me identifico mais com essas coisas malucas, tanto de instrumentos quanto na construção de uma música — sublinha.
Em 2020, a instrumentista lançou cinco músicas desse projeto. Cada faixa contava com participações especiais: Micro I, com Marcelo Fornazier; Micro II, com Nina Nicolaiewsky; Micro III, com Raquel Pianta e a filha, Julia Pianta; Micro IV, com Nenung e Marcelo Granja; e Micro V, com Daniela Garcia e Arthur de Faria. Biba chamou os convidados para que cada música tivesse um estilo diferente, tendo a máquina de escrever como fio condutor.
Biba resolveu continuar com o projeto agregando, desta vez, os sons de Porto Alegre. Moradora do Bom Fim, a poucos passos da Redenção, ela passou a gravar aquilo que ouvia: o trânsito, os pássaros, a ambulância passando etc. Ela começou a passear no parque e a registrar as sonoridades dali, o que inclui o sino da Igreja do Santíssimo Sacramento e de Santa Teresinha de Lisieux.
— A ideia é unir a máquina de escrever com sons da cidade, onde vou utilizá-los de maneira percussiva também, às vezes orgânica. Por exemplo, posso deixar o sino também correr pela música com a máquina de escrever em cima — destaca.
Com distribuição exclusivamente digital pela Ímã Records, Microscópicos Ritmos de uma Máquina de Escrever deverá contar com mais seis faixas, com diferentes parcerias. Entre os novos nomes confirmados estão Edu K, Flávio Santos e Castor Daudt (companheiros de DeFalla), Diego Dias, Miriã, Samara, Negra Jaque, Gutcha Ramil, Dessa Ferreira, Dejeane Arruèe, Luciano Albo, Carlos Stein e Veco Marques. Também deverá haver vídeos para cada música, que serão produzidos por nomes como Rogério Brasil Ferrari, Lisi Kieling, Eduardo Christofoli, entre outros. O álbum em formato EP, com total de 11 faixas, está previsto para ser lançado em setembro.
Financiamento coletivo
Com a finalidade de bancar as pessoas que trabalham no projeto, especialmente os produtores audiovisuais, Biba iniciou a campanha de financiamento coletivo na plataforma Benfeitoria. O objetivo é arrecadar R$ 8.819,00 até as 23h59min do dia 16 de agosto. Trata-se de uma campanha do tipo "tudo ou nada": se a meta mínima não for atingida, todos os apoiadores recebem o dinheiro de volta.
Entre as recompensas do projeto estão o próprio álbum, agradecimentos nas redes sociais, oficinas de percussão com As Batucas, entre outras. Mais detalhes em benfeitoria.com/bibameira.