A paratleta Luiza Oliano, 27 anos, tem um rosto conhecido pelos entusiastas do judô. Ela vem acumulando vitórias também em outra modalidade: o cavaquinho. Desde que começou a aprender o instrumento musical, há cerca de sete anos, a gaúcha compartilha nas redes sociais vídeos dedilhando clássicos do samba e do pagode.
As publicações se tornaram virais, levando a jovem a somar quase 100 mil seguidores, entre Instagram e TikTok, e despertar a atenção também de artistas do gênero.
No início deste mês, ela foi convidada pelo grupo Menos é Mais a subir ao palco do evento Churrasquinho, que reuniu cerca de 10 mil pessoas no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, na Capital. Além dos pagodeiros brasilienses, Luiza também já tocou com nomes como Belo, Ferrugem e Suel.
— Quando comecei no instrumento, não imaginava que chegaria ao ponto de tocar com artistas que são meus ídolos. Sou persistente em tudo que faço e acredito que posso alcançar coisas grandes, mas isso foi além da minha imaginação — confessa a cavaquinista.
A lesão que a introduziu na música
Praticante de judô desde os seis anos de idade, Luiza deu entrada no universo da música em 2017, quando enfrentou uma lesão que a retirou dos tatames por algum tempo. Com uma trajetória vitoriosa no esporte – o que inclui um ouro no Mundial de Judô para Cegos e uma prata nos Jogos Parapan-Americanos –, a atleta do Grêmio Náutico União (GNU) buscava um hobby para desenvolver no período em que estivesse "de molho".
— Sempre tive vontade de tocar um instrumento, mas, com a rotina intensa do esporte, não tinha tempo para me dedicar. Quando houve a lesão, decidi que ia aproveitar o tempo livre para aprender a tocar cavaquinho, um instrumento cujo som sempre me encantou — conta Luiza, que convive com a deficiência visual desde a infância.
Infelizmente, o esporte paralímpico é muito pouco valorizado. Tanto que eu praticamente não tinha seguidores antes da música
LUIZA OLIANO
Com a decisão tomada, era preciso encontrar uma escola onde ela pudesse aprender os primeiros acordes no cavaquinho. Contudo, segundo Luiza, a busca foi mais difícil do que deveria:
— Eu chegava nas escolas de música e só ouvia negativas e desculpas. Diziam que não tinham preparação para me ensinar, por causa da minha deficiência, ou que não tinha mais vaga. Fui procurando, procurando, e cada vez era uma desculpa diferente. Estava quase desistindo de aprender quando encontrei o meu professor, Max Garcia, a única pessoa que aceitou me ensinar.
Sucesso nas redes sociais
Luiza e o músico descobriram juntos a melhor forma de avançar no aprendizado do instrumento, construindo uma didática adaptada às necessidades dela. A parceria deu tão certo que persiste até hoje e resultou na profissionalização da paratleta, que agora se credencia como cavaquinista e é contratada para tocar em eventos diversos.
Parte disso se deve, justamente, às redes sociais. Luiza começou a publicar vídeos tocando as canções que aprendia em aula de forma despretensiosa, para incentivar outras pessoas com deficiência a também se desafiarem em novas áreas. De uma hora para a outra, os conteúdos passaram a ser compartilhados por páginas do segmento do samba e do pagode, caindo nas graças dos internautas.
— O meu Instagram mudou drasticamente, e passei a experimentar uma visibilidade diferente da que estava acostumada. Eu até era uma pessoa conhecida no meio do judô, mas nada comparado ao que sou hoje, porque, infelizmente, o esporte paralímpico é muito pouco valorizado. Tanto que eu praticamente não tinha seguidores antes da música — comenta Luiza.
O céu é o limite, basta termos persistência e não desistirmos dos nossos sonhos. Essa é a mensagem que eu tento levar para as pessoas
LUIZA OLIANO
Atualmente, Luiza concilia a vida de atleta com a de instrumentista. Ela permanece ligada ao judô, com uma rotina de treinos semanais e disputas de campeonatos, mas confessa ter diminuído o ritmo, pois já não vinha lidando bem com a pressão comum ao meio esportivo. Já na música, ela planeja investir cada vez mais.
A cavaquinista sonha em conquistar mais espaço no mercado do Sudeste do país e, quem sabe, integrar algum grande grupo de samba ou pagode. Ela também cogita estudar canto, mas brinca que as aulas talvez não surtam resultado, pois "não leva muito jeito para cantar".
Paralelamente a isso, Luiza pretende continuar atuante nas redes sociais. O objetivo, segundo ela, é mostrar a todos que deficiência não é sinônimo de incapacidade:
— Todo mundo pode fazer o que quiser, porque deficiência não define ninguém. O céu é o limite, basta termos persistência e não desistirmos dos nossos sonhos. Essa é a mensagem que eu tento levar para as pessoas.