Depois de um ano e três meses sem receber espectadores, a Casa da Ospa — Orquestra Sinfônica de Porto Alegre — reabriu as portas neste sábado (5), na Capital, cercada de cuidados. Com ocupação de 15% da capacidade e rígidos protocolos sanitários, o espaço acolheu e embalou um público seleto, fiel e saudoso, que até então vinha acompanhando as apresentações de forma virtual.
Para reduzir os riscos, o acesso à sala de espetáculos incluiu medição de temperatura e farta oferta de álcool gel. Somente pessoas com máscara puderam entrar, e o uso do equipamento de proteção foi obrigatório durante toda a apresentação.
Separados por placas de acrílico, os músicos executaram com maestria o programa que havia sido previsto para a abertura da temporada — e que acabou adiado por conta da pandemia.
— Vivemos em um país cheio de atritos irracionais, que nos impedem de nos desenvolvermos. A música é o caminho. É a elevação da nossa alma — celebrou o presidente da Ospa, Luís Roberto Ponte, na abertura.
Para deleite da plateia, a exibição começou com a Sinfonia nº 5 em Si Bemol Maior, D. 485, do austríaco Franz Schubert. Em seguida, o grupo interpretou o Concerto para Piano nº 1 em Dó Menor, Op. 35, do compositor russo Dmitri Shostakovich, que teve a pianista convidada Catarina Domenici e o trompetista da Ospa Elieser Fernandes Ribeiro como solistas.
— É lindo testemunhar esse retorno. Sou assídua frequentadora dos concertos há muitos e muitos anos. No passado, eu e uma amiga, Majô Jung, recebemos do dr. Ivo Nesralla (ex-presidente da Ospa, morto em 2020) o apelido de "ospetes", porque não faltávamos nunca. Como eu deixaria de vir agora? Eu queria muito estar presente e desfrutar do astral de ver a Ospa tocar outra vez — disse a empresária Ieda Nudelman, 74 anos.
A expectativa não era só do público, mas também dos instrumentistas e de seus familiares. Companheira do violinista Luiz Guilherme Nóbrega, integrante da orquestra, a professora de piano Marina Gimenez, 31 anos, estava satisfeita:
— Eu vinha com frequência, porque sou esposa de um dos músicos. Foi muito difícil quando tudo parou. Hoje vivemos um momento único.
Fagotista da Ospa desde 2004, Siarhei Faminon lembrou das dificuldades impostas pela pandemia e dos desafios de tocar para uma tela, via internet.
— Estou feliz com o retorno, porque é muito difícil tocar sem a presença do público. Precisamos ver a expressão das pessoas, sentir a vibração delas. Estou otimista. Espero que possamos ter logo a orquestra completa no palco outra vez — projetou o músico.
De acordo com o regente e diretor artístico da Ospa, Evandro Matté, a apresentação de reabertura contou com 45 integrantes (no total, são cerca de cem). A intenção, aos poucos, é ampliar o quadro, à medida que avançar a vacinação e se o cenário pandêmico permitir.
— Optamos, neste momento, por um repertório que não utilizasse uma grande quantidade de instrumentos de sopro e metais, justamente para garantirmos o distanciamento no palco. A ideia é, gradativamente, ir ampliando o tamanho da orquestra. Esperamos que esse recomeço seja um marco e que não seja preciso voltar atrás — destacou Matté.
A partir de agora, segundo o maestro, o grande objetivo é seguir recebendo o público. Ainda assim, continuará sendo possível assistir aos concertos de casa. A Ospa seguirá realizando a transmissão gratuita e ao vivo das apresentações todos os sábados, às 17h, por meio de seu canal no YouTube e da plataforma #CulturaEmCasa.