Neste 11 de maio, a morte de Bob Marley completa 40 anos. Símbolo do movimento rastafári, a figura do jamaicano tem hoje um status quase místico, envolto em boatos e suposições a respeito de seu estilo de vida, sua morte e seu passado.
A seguir, GZH relembra sete curiosidades sobre a vida e carreira do astro do reggae. Confira:
Origem pobre
Robert Nesta Marley nasceu em Nine Mile, no norte da Jamaica, filho do capitão do exército britânico Norval Sinclair Marley, um jamaicano branco de descendência inglesa, e de Cedella Booker, uma jovem pobre e negra que vivia na região. Norval abandonou Cedella antes do nascimento do filho e acabou morrendo em 1955, antes de Bob alcançar a fama global.
Aos 12 anos, Marley mudou-se com a família para a favela de Trenchtown, em Kingston, tida na época como a maior da Jamaica. O artista foi criado junto com Bunny Wailer, filho de seu padrasto, com quem fundou a banda Wailing Wailers, em 1963, ao lado de Peter Tosh, Beverley Kelso, Cherry Smith e Junior Braithwaite.
Início da carreira
No início, os Wailing Wailers tocavam ska, que misturava os ritmos tradicionais jamaicanos com influências do R&B e do jazz, em alta na época. Simmer Down, primeiro single do grupo, tornou-se rapidamente a canção mais ouvida do país e, nos meses seguintes, Bob Marley e companhia seguiram trabalhando com música, sem, no entanto, receberem o retorno financeiro esperado.
Já casado com a também cantora Rita Marley, o músico se mudou aos 21 anos para Delaware, nos Estados Unidos, onde sua mãe vivia com um novo marido. Lá, durante oito meses, ele trabalhou como garçom e como operário em uma fábrica de automóveis.
Movimento rastafári
Enquanto Bob esteve nos Estados Unidos, o movimento rastafári ganhou força na Jamaica. Em 1966, o país recebeu a visita do rei etíope Hailé Selassié, tido pela religião como um enviado de Deus para salvar os jamaicanos da opressão. Rita, que permaneceu em Kingston, tornou-se rasta e acabou passando as crenças da religião ao músico.
O novo estilo de vida de Bob mudou radicalmente os temas abordados em suas composições, que deixaram de falar sobre a vida no gueto para abordar questões como espiritualidade e desigualdade social. Junto ao grupo que agora se chamava The Wailers, o músico passou a apostar em ritmos mais lentos, como o rocksteady e o reggae, produzindo clássicos como Soul Rebel, Duppy Conqueror, 400 Years e Small Axe.
Estratégia internacional
Após algumas tentativas falhas de impulsionar a carreira internacional — incluindo calotes do produtor Lee Perry e do cantor americano Johnny Nash —, a banda conheceu em Londres o produtor Chris Blackwell, dono da gravadora Island Records. Para agradar novos públicos, o selo introduziu solos de guitarra e linha de teclados ao álbum Catch a Fire, gerando hits como Get Up, Stand Up e I Shot the Sheriff.
Em 1974, após o lançamento do disco Burnin, Bunny e Paul deixaram a banda, que passou a se chamar Bob Marley & The Wailers. Nos anos seguintes, o sucesso se espalhou da Europa para o resto do mundo, impulsionado por No Woman No Cry.
Tentativa de assassinato
Em 1976, ano de eleições na Jamaica, Bob Marley sofreu uma tentativa de assassinato após aceitar participar de um show organizado pelo candidato de esquerda Michael Manley. Dois dias antes do concerto, a casa do músico foi invadida durante um ensaio por um grupo de homens armados. Apesar de ninguém ter sido morto durante o tiroteio, o cantor teve um ferimento no braço esquerdo.
No dia do festival, Bob subiu ao palco. Na ocasião, o músico mostrou as feridas e disse uma de suas mais conhecidas frases:
— As pessoas que estão a tentar destruir o mundo não tiram um dia de folga. Como posso eu tirar, se estou a fazer o bem?
Vinda ao Brasil
Bob Marley já era um astro internacional quando chegou ao Brasil, em 1980, para uma visita de dois dias ao Rio de Janeiro. Durante a estadia, o jamaicano não fez nenhum show, mas participou de uma partida de futebol na Barra da Tijuca com artistas como Chico Buarque, Moraes Moreira e Toquinho, além do então craque da seleção brasileira Paulo Cezar Caju, que a estrela do reggae ficou muito feliz de conhecer.
— O samba e o reggae são a mesma coisa, têm o mesmo sentimento de raízes africanas — disse o músico ao jornal O Globo quando chegou na cidade.
Outra curiosidade da ocasião foi que o grupo não trouxe um cozinheiro para preparar refeições I-tal, comida própria para adeptos da religião rastafári. Devido a isso, Marley se alimentou apenas de sucos e frutas — segundo o Globo, ele adorou manga e maracujá.
Câncer
Em julho de 1977, o músico descobriu uma ferida no dedão de seu pé direito. Inicialmente, ele pensou ser resultado de uma partida de futebol. Depois de um tempo, no entanto, foi diagnosticado com um câncer de pele chamado melanoma lentiginoso acral.
Os médicos o aconselharam a amputar o dedo, mas o cantor recusou o tratamento devido aos princípios rastafáris que diziam que o corpo humano é sagrado e não pode ser modificado. Em 1980, Bob descobriu que o câncer havia se espalhado para o cérebro e outros órgãos. Nessa época, conforme o filho Ziggy Marley, ele havia se convertido ao cristianismo, decidido a seguir tratamentos convencionais para curar a doença.
No ano seguinte, ele tentou voltar da Alemanha, onde realizava tratamento, para a Jamaica, a fim de passar seus últimos dias entre familiares, mas não conseguiu completar a viagem. O avião pousou em Miami, onde o músico morreu no dia 11 de maio de 1981, aos 36 anos de idade.
Mais de 40 mil pessoas acompanharam o velório de Marley na Arena Nacional da Jamaica, que combinou rituais da Igreja Ortodoxa da Etiópia e do rastafarianismo. Ele foi enterrado em uma capela em sua cidade natal, junto com sua guitarra favorita, uma Fender Stratocaster vermelha, uma bola de futebol, um pote com maconha, um sino e uma Bíblia.