Verão, outono, inverno e primavera: o novo álbum multimídia de Thiago Ramil é conduzido pelas quatro estações do ano. Lançado no dia 29 de abril, o disco O Sol Marca O Andar do Tempo e A Imensidão do Universo Todo Dia reúne os quatro EPs que o músico divulgou semanalmente ao longo do mês passado. Além das canções, cada obra foi acompanhada de curtas-metragens disponibilizados em seu canal no YouTube.
Thiago já alimentava a ideia de trabalhar com EPs há um tempo. O que impulsionou o projeto foi a sua contemplação na Lei Aldir Blanc, que trazia a proposta de agregar diversos artistas. Cada EP traz diferentes produtores: O Sol Marca, EP que representa o verão, foi trabalhado por Felipe Zancanaro e Vini Albernaz; o outono de O Andar do Tempo tem Guilherme Ceron na produção; o inverno de A Imensidão do Universo conta com Pedro Dom; por fim, a primavera trazida por Todo Dia tem a mão de Andressa Ferreira.
Contudo, o músico vislumbrou a possibilidade de consolidar as quatro obras em um único trabalho:
— Digamos que ampliei essa ideia dos EPs, encontrando a unidade na dinâmica das estações do ano, servindo como fio condutor que amarra as quatro expressões distintas.
O álbum final é um trabalho recheado de parcerias, seja nas composições, nas vozes ou nos instrumentos. Lá estão nomes como Gutcha Ramil, Alívio, Thayan Martins, João Ortácio, João Salazar, François Muleka, Marissol Mwaba, entre outros. Thiago define:
— É um álbum que envolve as minhas canções, que assino, mas acolhe muitos artistas. São trabalhos que se encontraram através das minhas composições, com a linguagem de cada um, e ajudaram a produzir esse projeto em conjunto.
O projeto também se converteria em álbum visual. Companheira de vida e no grupo Afluência, a bailarina Geórgia Macedo atua como parceira de composição (Acúmulo e Voltar a Voar) e é a intérprete criadora nos curtas que trazem as faixas de cada EP. Assim como na produção das quatro partes, cada vídeo contou com nomes diferentes na direção, mas tendo Geórgia atuante na concepção e performance.
O curta de Sol Marca é uma animação realizada pela produtora Ilha Maravilha — criada por Vini Albernaz, Marcelo Gafanha e Alércio Pereira. Dirigido por Lucas dos Reis, O Andar do Tempo é um vídeo permeado pela memória e a saudade. Já E a Imensidão do Universo, com direção de Isabel Ramil e de Geórgia Macedo, apresenta mais experimentações visuais, indo mais ao encontro da videoarte. Por fim, Todo Dia é dirigido por Guilherme Becker e traz belas imagens em uma narrativa que se mistura com o fantástico, emitindo um convite para o espectador transbordar.
Cores e estações
Morando em Tramandaí, Thiago gravou as canções em casa, contando com participações remotas. A maior parte das composições foi concebida em 2020, durante a quarentena. Ele ressalta que os registros visuais foram produzidos com equipes reduzidas e os roteiros foram se adaptando para serem gravados em uma diária com o mínimo de pessoas.
— Tem uma metáfora que atravessa este trabalho: o limite também pode ser uma potência — pontua.
Na divisão do repertório, Thiago buscou relacionar cada estação com uma cor: verão com amarelo, outono com vermelho, inverno com azul e primavera com verde. Assim, as faixas variam de cor e sonoridade na transição entre uma estação e outra.
No primeiro ato do disco (ou primeiro EP, O Sol Marca), Thiago apresenta uma sonoridade referenciada pelo samba eletrônico, com composições que ele criou no cavaco. O músico apresenta faixas carregadas na crítica, como Manequim (“Olhei nos olhos, vi a frustração/ De quem ostenta tantas marcas/ Mas passa ali parado/ No nobre salão/ Da loja de roupas”), que aborda a ditadura da beleza, e Acúmulo, enfatizando as atitudes contrárias ao que o indivíduo prega. De qualquer maneira, Thiago atesta que O Sol Marca é um registro que transmite a intenção da estação mais quente do ano:
— Tem a leveza que o cavaco traz, apesar do peso de algumas temáticas. É mais extrovertido, nos movimenta para fora. Nos faz querer tomar uma água bem gelada numa sombrinha de meio-dia (risos).
Já O Andar do Tempo tem a nostalgia como sua temática, seja puxando pela memória olfativa (Cheiro de Chuva) ou por uma lembrança afetiva (Receita). Segundo Thiago, a escolha estética do EP está muito associada aos instrumentos orgânicos, de madeira.
— A maioria dos arranjos tem instrumentos mais acústicos, como o violão. Isso vai ao encontro dessa intenção do avermelhado, que para mim é a tonalidade desse EP. Tom da memória e do afeto também — diz o músico.
O inverno proposto por E a Imensidão do Universo, como Thiago aponta, talvez seja o âmago do projeto. São faixas com abordagens mais existenciais.
— Traz essa ideia de imensidão do universo, da nossa pequenez. Nós achamos que somos os pilotos, que temos o controle de tudo, mas a própria pandemia mostra que a gente é muito pequeno, que não temos controle sobre a nossa vida. Isso me impactou muito — reflete.
Por fim, Todo Dia traz uma primavera pulsante e festiva. As três faixas deste EP estão relacionadas com os três turnos do dia, contando com mais elementos percussivos na sonoridade.
— É um EP marcado pela linguagem da Andressa Ferreira, que trabalha bastante com as afrolatinidades. A escolha de repertório foi mais na direção da leveza para esse encontro — destaca Thiago.
O Sol Marca O Andar do Tempo e A Imensidão do Universo Todo Dia é o terceiro disco de Thiago Ramil. Seu álbum de estreia, Leve Embora (2015), foi indicado ao Grammy latino na categoria de melhor álbum pop em língua portuguesa e foi contemplado em duas categorias do Prêmio Açorianos de Música: melhor intérprete em gênero pop e artista revelação. Já por seu segundo álbum, Em Frente (2018), foi escolhido como melhor compositor pop no Açorianos.
Thiago também integra o grupo interdisciplinar Afluência, que deve lançar um vídeo no segundo semestre chamado Corre o Rio, e o Casa Ramil— com Kleiton, Kledir, Vitor, Ian, Gutcha e João. Sobre o projeto familiar, ele comenta:
— Estamos ansiosos para nos encontrarmos. Havia a previsão de gravarmos um disco, mas essa ideia foi estacionada com a pandemia. Quem sabe a gente encontre formas de fazê-lo, quem sabe à distância. A gente precisa sentar junto e ver o que sai.