Um dos mais completos documentos sobre a música do Rio Grande do Sul está agora acessível a todos os músicos, pesquisadores e entusiastas da cultura local. Com 30 fascículos e mais de quatro quilos, a enciclopédia Som do Sul, lançada originalmente em 2002, acaba de ganhar a leveza e a disponibilidade da era digital: pode ser baixada na internet de modo gratuito pelo site do autor, o compositor Henrique Mann.
Trata-se de uma obra de peso não apenas no sentido literal. Abarca a história da música do Estado desde as primeiras décadas do século 20 até o início dos anos 2000, quando foi publicada. Não está restrita a gêneros, compreendendo desde manifestações rurais a urbanas, passando pelo regionalismo dos festivais, música de galpão, pop e rock gaúcho, entre outras vertentes.
Os textos são organizados por meio de longos verbetes com a biografia dos principais artistas do Rio Grande do Sul, contendo também partituras e algumas fotos exclusivas. Os Bertussi, Paixão Côrtes, Túlio Piva, Gildo de Freitas, Plauto Cruz, Giba Giba, Raul Elwanger, Zé Caradípia, Humberto Gessinger e Yamandu Costa são alguns dos citados que aparecem com destaque, dando uma ideia da diversidade da coleção.
– Se queres saber quando e onde nasceu determinado artista, quem foram seus pais, em que escola estudou, porque e como tornou-se artista, está tudo ali – afirma Henrique Mann.
A coleção tomou 15 anos de trabalho. Músico e escritor, Mann aliou pesquisa e prática musical desde o início da carreira, seja em livro, como A Música Popular Brasileira em Debate (1991), ou em disco, como Porto Alegre Boêmia – Um Século de Canções (1997). Sempre sofreu com a falta de informação sobre artistas locais.
– Sempre que eu procurava informações sobre os músicos do Rio Grande do Sul, esbarrava na falta quase absoluta de material de pesquisa. Era mais fácil encontrar material sobre os artistas do centro do país do que dos do Sul, que estavam aqui ao meu lado. Eu tinha que entrar em arquivos de jornais, museus ou perguntar para os próprios… E isso nem sempre era fácil ou possível. Foi quando decidi que era necessário construir um profundo material de pesquisa – conta Mann.
Colaboração
Mann tem o perfil de ir a fundo em tudo o que faz. Um exemplo disso é sua faceta de lutador de artes marciais. Não é um mero praticante: já teve academias de luta e há dois anos regularizou títulos internacionais de instrutor de boxe, professor de MMA e mestre de kickboxing, para poder dar aulas em Portugal, onde mora (mas a pandemia turvou os planos de voltar ao tatame). Com a enciclopédia, queria dissecar o cenário musical gaúcho. Mas percebeu que a tarefa seria impossível.
– Seria até uma arrogância imaginar que tudo estaria ali de forma definitiva. Depois de mim, muita gente viria a escalar os mesmos degraus e acrescentaria coisas novas, recuperaria o que deixei escapar. Por mais que eu pretendesse fazer algo gigantesco, por maior que fosse, jamais seria completo ou perfeito. Então apenas exigi de mim que fizesse o melhor possível, sem nenhuma economia de esforço – conta Mann.
Segundo Mann, mais de 240 músicos, jornalistas e amigos colaboraram para a execução de seu projeto. Após disponibilizar os arquivos na web, o autor prepara a nova fase do Som do Sul. Pretende transformar a enciclopédia em uma plataforma aberta a colaboradores externos:
– Meu projeto é deixar que cresça, ou seja, que outras pessoas possam acrescentar artigos, biografias, informações, correções. Que o Som do Sul se torne uma mini-Wikipédia da música do Rio Grande do Sul.