Um dos grandes nomes da cultura negra no Rio Grande do Sul, o percussionista Giba Giba morreu na tarde desta segunda-feira. O cantor, compositor e instrumentista pelotense sofreu um choque hemorrágico após se submeter a uma gastrectomia (procedimento de remoção de parte do estômago) em função de neoplasia gástrica.
Giba Giba lutava contra um tumor no duodeno, motivo pelo qual foi operado em 20 de janeiro. Desde então, seu estado de saúde era frágil. O velório ocorre nesta terça-feira no Centro Municipal de Cultura (Erico Verissimo, 307), a partir das 8h. Seu enterro está marcado para as 16h, no Cemitério São João (Rua Ari Marinho, 297), no mausoléu da Casa dos Artistas do Rio Grande do Sul.
Natural de Pelotas, Gilberto Amaro do Nascimento tinha 77 anos - mas, bem-humorado, preferia dizer que tinha 150. Cidadão emérito de Porto Alegre, o músico tem sua trajetória confundida com a história da música afro-brasileira no Sul do Brasil. Pesquisou as origens da cultura negra em sua cidade natal e deu início ao desenvolvimento da técnica do tambor sopapo, mais tarde espalhada por todo o Brasil.
- Ele teve uma carreira tímida fora do Rio Grande do Sul, até por não ser um músico popular. Mas dentro do nicho da música negra, da percussão, é uma referência no país inteiro - destaca o crítico musical Juarez Fonseca.
A falta de vontade de aparecer foi ressaltada pelo próprio Giba em Visceral Brasil - As Veias Abertas da Música, série de TV que percorreu o país em busca dos antigos mestres do cancioneiro popular.
- Sou de uma geração de artistas ortodoxos, que não se adaptam, não sabem se vender. Por isso, estou bem feliz com esse reconhecimento - declarou, com o riso solto, uma de suas características mais marcantes.
A discrição não o impediu de desenvolver um trabalho rico, consistente e de vanguarda. Tanto que foi o fundador da Praiana, primeira escola de samba de Porto Alegre, fundada na década de 1960. Na década seguinte, passou a acompanhar o pessoal que misturava música regional com MPB, pop e rock.
Giba Giba concebeu e participou de espetáculos musicais como a A Ópera dos Tambores, a Missa da Terra Sem Males e o show Sons do Universo, ao lado de Fernando do Ó, Giovani Berti, e o pianista Geraldo Flach. Em 1999, criou o projeto cultural CABOBU, que se desdobrou em festivais realizados em 2000 e 2001, unindo músicos brasileiros como Chico César, Naná Vasconcelos a percussionistas gaúchos como Sandro Cartier, em Pelotas. Em 1994, recebeu o Prêmio Açorianos de Melhor Disco por Outro Um. Também recebeu o Prêmio dos Palmares, pela atuação artística e cultural. Participou da premiada trilha sonora do filme Netto Perde a Sua Alma e do curta O Negrinho do Pastoreio. Foi tema samba-enredo do carnaval de Porto Alegre e representou o Brasil no Festival de La Paz. Nos últimos anos, foi conselheiro na Secretaria da Cultura do Estado para assuntos afro-brasileiros.