Obra referencial do escritor americano J. D. Salinger (1919 - 2010), O Apanhador no Campo de Centeio (1951) é um dos livros que ajudaram a moldar a imagem do adolescente no mundo contemporâneo. O romance narra um fim de semana tumultuado do jovem anti-herói Holden Caufield, com muitas pitadas de revolta e angústia, e influenciou movimentos contraculturais. Em 2013, o livro foi adaptado pelo diretor Zé Adão Barbosa para um musical. Coube a Thedy Corrêa escrever as composições e realizar a direção musical da montagem. Na última sexta-feira (20), as canções foram lançada em disco nas plataformas digitais.
Segundo o músico, o disco do projeto só foi sair agora porque teve uma brecha na agenda de lançamentos do Nenhum de Nós. Intitulado O Apanhador, assim como o musical, o álbum traz 12 faixas – sendo uma versão acústica e outra demo–, que transpõe os devaneios e elucubrações de Holden. O protagonista dividia o palco do espetáculo com uma encarnação do próprio Salinger, além de uma banda. A música entremeava a montagem.
– Assim que o roteiro ficou pronto, me debrucei sobre o texto procurando os momentos onde poderiam entrar canções, ou dar mais ênfase em alguma carga dramática importante. Fomos construindo o musical em conjunto – relata Thedy.
Ora a temática das faixas é descritiva, ora funciona como uma cortina entre acontecimentos. O rock and roll predomina no disco. O músico relata que as inspirações da sonoridades das canções estão dentro do universo do rock, mais próximas do rock de garagem.
– Retrata as coisas que eu vinha ouvindo na época, como Arctic Monkeys ou uma banda chamada Arbouretum, onde se trabalhava uma sonoridade de guitarra diferente, usando bastante pedal fuzz – explica.
Além dos vocais de Thedy, as faixas de O Apanhador trazem participações das vozes de Gabriela Lery, Thainá Gallo, Fernanda Petit, Manú Menezes, Gustavo Susin e Nícolas Vargas – este último viveu Holden no musical.
Atemporal
Thedy lembra que leu O Apanhador no Campo de Centeio pela primeira vez quando tinha 15 e 16 anos, em uma época que o livro circulava entre o grupo de amigos da escola. O músico recorda ter se sentido impactado pela prosa de Salinger.
– É um livro muito divertido e bem escrito. Ele te cativa, te faz ler vorazmente. Lembro de ter lido várias vezes ao decorrer da minha existência – descreve.
Para Thedy, as reflexões de Holden são próximas dos adolescentes de qualquer geração, mesmo que a trama se passe nos anos 1950.
– Quando li nos 1980, me senti tocado e fez sentido para mim. Como eu vejo que faz sentido hoje, assim como fez sentido para quem viu a peça – avalia. – É uma obra sem dúvida que tem um lugar muito importante na história. Ela definiu um retrato do que era a adolescente, uma coisa que não era muito clara até então.
Nova tradução
O Apanhador no Campo de Centeio ganhou nova tradução e edição no Brasil no ano passado, lançada pela editora Todavia. Com o objetivo de renovar a linguagem da obra, o responsável pela adaptação ao português desta vez é Caetano Galindo – que já havia traduzido Ulysses, de James Joyce, e Graça Infinita, de David Foster Wallace.
Antes, o livro havia recebido uma única tradução no Brasil, em 1965, realizada por Jorio Dauster, Álvaro Alencar e Antônio Rocha para Editora do Autor – empresa fundada em sociedade por Fernando Sabino, Rubem Braga e Walter Acosta.
Publicado em 1951, o romance é um dos poucos livros lançados por J.D. Salinger, que se tornaria lendário como um autor recluso e misterioso.