Quando se apresentou pela primeira vez em Porto Alegre, em 23 de setembro de 2017, Baco Exu do Blues recém havia lançado o seu disco de estreia. Os presentes na Cucko, na Cidade Baixa, foram os primeiros a conferir ao vivo as músicas de Esú, disponibilizado 19 dias antes.
— O Baco tinha uma visão muito diferente do rap, e a gente queria trazer ele para a galera conhecer mais — recorda Helder Oliveira, DJ e produtor da festa Downtown 1037, responsável pela estreia do artista na Capital. — O show foi bem forte. As pessoas que foram na festa acreditavam na mensagem do músico.
Hoje com 23 anos, Baco lembra com carinho daquela noite:
— Foi foda. Pela primeira vez, vi a galera cantando Te Amo Disgraça — diz o rapper, citando seu maior hit, hoje com mais de 20,5 milhões de visualizações no YouTube.
Passado pouco mais de um ano e meio daquela apresentação, Baco volta a Porto Alegre para um show no Opinião com o status de um dos principais artistas do país, após lançar, em novembro passado, o elogiado Bluesman – o disco foi apontado como o melhor de 2018 pela revista Rolling Stone.
Bluesman é o ponto de chegada de uma carreira que tem um marco, o lançamento, em agosto de 2016, de Sulicídio, uma parceria do MC baiano com o pernambucano Diomedes Chinaski. Na ocasião, a música movimentou a cena rap do Brasil, com duras críticas à visão do hip-hop do Sudeste em relação ao do Nordeste. A letra diz: “Sem amor pelos rappers do Rio/ Nem paixão por vocês de São Paulo/ Vou matar todos a sangue frio”.
— A raiva de um garoto de 19 anos é bem o que Sulicídio expressa. Há um motivo para existir essa raiva e uma vontade para combater aquilo. Só que ainda não se tem um entendimento geral das coisas. Lutei para chegar num lugar com a emoção de um adolescente — afirma Diogo Alvaro Ferreira Moncorvo, nome de registro do artista.
O tal entendimento a que Baco se refere aparece em seu segundo trabalho, Bluesman, que chegou combinado com uma maturidade artística apenas 14 meses após Esú. Foi uma concepção, apesar do pouco tempo em relação ao lançamento do primeiro álbum, sem grandes apreensões e medos.
— Rolou bem menos do que o primeiro disco porque eu sabia aonde queria chegar. No de estreia, eu estava usando tudo o que aprendi na minha carreira para criar uma parada. Eu não sabia o que ia criar, mas sabia que ia criar alguma coisa com esses ensinamentos. No segundo disco, já não. Sabia o que eu queria e precisava fazer, tanto que dirigi o álbum — reflete o rapper.
Em Bluesman, Baco se apropria do termo blues, gênero originado por afro-americanos no extremo sul dos Estados Unidos no fim do século 19, para discorrer sobre a luta dos negros. No centro, está a batida do rap, com toques de soul, R&B e samba. O resultado é uma sonoridade que tem empolgado fãs e críticos que deparam com o disco. O artista explica:
— Queria chegar na camada do blues sem tocar blues, desconstruir o ritmo musical e transformá-lo numa entidade que é maior do que a forma de ser tocada. Foi um experimento de como fazer as pessoas sentirem o blues sem estar ouvindo blues.
O conceito poderá ser conferido ao vivo nesta quinta-feira (11), no palco da tradicional casa de shows da Cidade Baixa, a partir das 23h, para quem teve a sorte de conseguir um dos ingressos, já esgotados.
BACO EXU DO BLUES
Opinião (Rua José do Patrocínio, 834)
Quinta (11), às 23h. Abertura da casa: 21h30min.
Classificação: 16 anos.
Ingressos esgotados.