Se em 2018 o rap não apresentou o mesmo brilho exibido em 2017, também é verdade que diversas produções relevantes surgiram ao longos dos meses. No âmbito nacional, o ano que passou foi de afirmação para dois MCs da nova geração: o mineiro Djonga e o baiano Baco Exu do Blues.
O primeiro aprimorou o seu estilo característico de batidas fortes e letras cruas. O segundo surpreendeu ao apresentar Bluesman, álbum com uma roupagem sonora bem diversa do seu disco anterior, Esú. Aclamado como um dos destaques da música brasileira em 2018, Baco Exu do Blues mostrará Bluesman em Porto Alegre no dia 11 de abril, no Opinião.
Outra afirmação no cenário nacional foi Drik Barbosa, com Espelho, que projetou a rapper para além dos limites de Mandume e trouxe uma crítica afiada ao machismo e ao racismo. Seguindo a tendência dos últimos anos, artistas fora do eixo Rio-São Paulo também tiveram destaque, caso do pernambucano Diomedes Chinaski, com Comunista Rico, e do mineiro Fabricio FBC, com S.C.A., álbuns com fortes influências da vertente trap rap, tão em voga nos Estados Unidos.
Os lançamentos internacionais contaram com a volta do “bom moço” J. Cole (KOD) e do sempre polêmico Kanye West, que teve um ano de sucesso enquanto produtor, artista solo e em dupla com Kid Cudi — projeto que resultou no intrigante Kids See Ghosts. Após três anos, Earl Sweatshirt retornou para lançar seu álbum mais elogiado até o momento, Some Rap Songs. Vale destacar as parcerias pesadas, como Beyoncé e Jay-Z (Everything Is Love), e a união de diversos artistas, entre eles SZA e Kendrick Lamar, que resultou em Black Panter The Album, trilha do filme Pantera Negra (2018).
Em 2018, veteranos do rap voltaram ao microfone e mostraram que ainda têm muito a contribuir com o gênero. Se Eminem, como uma metralhadora, jogou versos venenosos a todos que o criticam em Kamikaze, Ice Cube, ex-integrante do lendário grupo N.W.A., tinha apenas um alvo em Everythang’s Corrupt: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Por fim, o ano que ficou para trás registrou o elogiado Astroworld, de Travis Scott, o empoderado Queen, de Nicki Minaj, o aguardado Culture 2, do Migos, e a máquina de hits protagonizada por Cardi B em Invasion of Privacy.
Veja 10 destaques do rap nacional e internacional do ano que passou, nomes que devem manter o gênero aceso e pulsante também em 2019.
*Colaborou Mariana Bavaresco
DESTAQUES NACIONAIS
Djonga - O Menino que Queria ser Deus
Um dos artistas mais talentosos e necessários que a nova geração do rap nacional revelou, o mineiro Djonga mostra em seu segundo disco de estúdio uma evolução notável em comparação ao álbum de estreia, Heresia (2017). Com sonoridade, performances e flexões vocais únicas, o rapper destaca, ao longo de 10 faixas, que tem coragem e habilidade para ser, sim, um “Deus” do rap brasileiro.
Baco Exu do Blues - Bluesman
Baco afirmou que as canções de Bluesman fazem uma reflexão sobre “a saúde mental dos negros”. É por esse roteiro que o baiano fala sobre suicídio, em Girassóis de Van Gogh; bipolaridade, em Me Desculpa Jay-Z; depressão, em Queima Minha Pele; e codependência, em Flamingos. As canções são todas muito bem produzidas, com destaque para as participações especiais, como as da cantora 1LUM3, de Tim Bernardes e Tuyo. Com este disco, Baco se mantém entre os maiores da nova geração, posição conquistada com Esú.
Drik Barbosa - Espelho
Para muito além de Mandume, canção em colaboração com rappers como Emicida que foi o cartão de visita de Drik para um público mais amplo, a rapper apresenta em Espelho todas as facetas que a credenciam como uma das mais destacadas artistas da cena nacional. Nessa produção com cinco faixas, a cantora revisita o passado e projeta o futuro com canções costuradas por seus característicos versos fortes, que abordam a hipocrisia de uma sociedade racista, machista e excludente.
BK’ - Gigantes
Atração confirmada no Lollapalooza 2019, BK’ é considerado o responsável por ressignificar o trap no Brasil, trazendo peso, conteúdo e mensagem ao subgênero do rap. Castelos & Ruínas (2016), primeiro álbum do cantor, foi a preparação para o conceito de sua segunda obra. Gigantes é como um livro que traz uma história com início, meio e fim. Com beats maduros, instrumentais com referências de rap, jazz e funk, ele conseguiu manter em seu segundo trabalho, mesmo com a proposta diferente, a personalidade já evidenciada no álbum de estreia.
Karol Conka - Ambulante
Karol Conka não tem medo de ousar e é sua personalidade que a torna a rapper mais famosa da nova geração – e, certamente, uma das mais criativas. Com um instrumental que caminha pelo rap, mas com fortes traços de música eletrônica e pitadas bem marcantes de R&B, Ambulante é forte, fala sobre assuntos densos, mas sem perder a característica divertida sempre presente nos trabalhos de Conka. Se seu primeiro álbum fala sobre pertencimento e empoderamento, o segundo fala sobre libertação. É perceptível no conteúdo dos versos que Karol quer apenas “ser”, sem ter de se autoafirmar.
DESTAQUES INTERNACIONAIS
Nicki Minaj - Queen
Provocativa, polêmica e hipnotizante são clichês que ajudam a descrever Nicki Minaj em Queen, álbum que surge após quatro anos de hiato na discografia da rapper. Com seu empoderamento característico presente em cada frase proferida, a cantora trilha sonoridades que percorrem da vertente calcada em batidas eletrônicas chamada trap — caso de Rich Sex, com Lil Wayne — a uma releitura divertida de Just Playing, clássico lançado nos anos 1990 pelo rapper Notorious B.I.G., em Barbie Dreams.
Juice WRLD - Goodbye & Good Riddance
Assumindo o posto ocupado por Lil Uzi Vert em 2017, Juice WRLD foi o protagonista da vertente descrita como emo-rap em 2018, emplacando um dos principais hits do ano, Lucid Dreams. Em Goodbye & Good Riddance, oferta ao ouvinte toda a profusão de emoções que envolvem e eclodem de relacionamentos amorosos. Partindo da tristeza, flertando com a confusão e chegando à euforia, Juice leva ao público um combo que alegra e também reflete sobre o comportamento social contemporâneo.
Kids See Ghosts (Kanye West e Kid Cudi) - Kids See Ghosts
Este foi um bom ano para Kanye West em termos artísticos. Se na vida pessoal o rapper derrapou pelas declarações polêmicas, no hip hop o marido da Kim Kardashian participou de três ótimos álbuns. Um como produtor, Daytona, do Pusha T; outro próprio, ye; e um terceiro em parceria com o músico Kid Cudi, formando um projeto chamado Kids See Ghosts, cujo disco homônimo surpreendeu os fãs. Contendo apenas sete faixas, KSG traz uma sonoridade bem particular, misturando rap com grunge, soul e um pouco de psicodelia.
Earl Sweatshirt - Some Rap Songs
Em meados de 2009, Earl Sweatshirt foi apresentado ao público por participar do coletivo de hip hop Odd Future, que contava com grandes nomes como Tyler, The Creator e Frank Ocean. Como artista solo, Earl lançou três albuns. O último, Some Rap Songs, tem sido o mais aclamado, tanto pelo conteúdo de suas letras – Earl tem um talento nato com as palavras e consegue transpor para o disco a angústia de sofrer com depressão – quanto pelas batidas elaboradas e samples obscuros, que lembram os melhores momentos de outro grande rapper, MF Doom.
J. Cole - KOD
A morte de jovens proeminentes do rap devido ao uso excessivo de drogas levou J. Cole a fazer um álbum focado nessa temática. KOD, disse o rapper, são as iniciais de Kids on Drugs, King Overdosed e Kill Our Demons. Pelas 12 faixas do aclamado quinto trabalho de Cole, o vício em drogas, sexo e até mesmo em Instagram é detalhado entre suas rimas perspicazes. Em tom quase professoral, o artista traça um panorama amplo das alternativas infernais que a nossa sociedade oferece para uma juventude que só quer fugir da dor.
Outros destaques de 2018
Nacionais:
- FBC — S.C.A.
- Diomedes Chinaski — Comunista Rico
- Rashid — Crise
- niLL — Good Smell Vol. 1
- Negra Li — Raízes
Estrangeiros:
- Travis Scott — Astroworld
- Pusha T — Daytona
- Nas — Nasir
- Black Panther — Soundtrack
- Cardi B — Invasion of Privacy
- Migos — Culture 2
- The Carters — Everything Is Love
- Ice Cube — Everythang’s Corrupt
- Eminem — Kamikaze
- Kanye West — ye