Além de juntar seres mitológicos do Brasil e do Japão, o livro infantil Quando Curupira Encontra Kappa (WMF Martins Fontes) também reúne a escritora e cantora Fernanda Takai com o artista gráfico e ilustrador Daniel Kondo. Os dois são artistas com ascendência nipônica que, cada um em sua área, conquistaram reconhecimento pelo território brasileiro. Nesse encontro, a literatura é aproveitada em defesa da natureza.
Fernanda estará na 70ª Feira do Livro de Porto Alegre nesta quinta-feira (14), divulgando Quando Curupira Encontra Kappa. Primeiro, ela participa de um bate-papo com Katia Sumann e Arthur de Faria no Teatro Petrobras Carlos Urbim, às 17h30min. Depois, às 19h, ela autografa o livro na Praça de Autógrafos Gerdau.
Aos 53 anos, natural do Amapá e há décadas vivendo em Minas Gerais, Fernanda se projetou pelo seu trabalho como vocalista da banda Pato Fu, além de ter uma carreira solo consolidada. Mas ela também tem um lado escritora, tendo lançado quatro livros — Nunca Subestime Uma Mulherzinha (2007) e A Mulher que Não Queria Acreditar (2011), ambos de contos e crônicas, A Gueixa e o Panda Vermelho (2013) e O Cabelo da Menina (2016), os dois infantis.
Natural de Passo Fundo, mas radicado no Uruguai, Daniel Kondo coleciona prêmios pelo mundo — para exemplificar, ganhou Jabuti 2022 na categoria Livro Infantil por Sonhozzz, em colaboração com a escritora Silvana Tavano — e parcerias com nomes como Lulu Santos, Djavan, Gilberto Gil, Bela Gil, entre outros. Ele descreve que a relação do ser humano com a natureza inspira grande parte de sua obra literária, voltada costumeiramente para o público infantil.
As origens nipônicas foram o ponto de encontro para Fernanda e Kondo realizarem a obra, como relata a escritora. No livro, que traz ilustrações do gaúcho, criaturas da mitologia brasileira e japonesa são convocadas para protegerem a Floresta Amazônica: pelo lado do Brasil, por exemplo, há Curupira, Saci e Jurupari, enquanto Kappa, Tengu e Ogro Vermelho representam o Japão. Há um "Elucidário" no final explicando o que são cada um dos seres.
Sobre a parceria com Kondo, Fernanda o descreve como um artista muito ágil: ela compartilhava uma ideia e o ilustrador já apresentava um esboço rapidamente. Em Quando Curupira Encontra Kappa, os dois trabalham com um assunto inestimável para uma geração que precisará construir um futuro mais sustentável.
— O tema Amazônia é muito precioso para o mundo inteiro — atesta Fernanda. — Acho que falar com as crianças sobre isso é sempre um caminho que pode dar muitas sementes para serem plantadas, que podem florescer.
A edição é bilíngue, em português e japonês. Como frisa Fernanda, a ideia é que o livro chegue nas escolas japonesas que existem no Brasil, além de encontrar brasileiros que vivem no Japão.
A autora relata que, para a obra, leu muitos livros sobre mitologia e folclore do Brasil, além de algumas de lendas japonesas, que adquiriu enquanto visitava o Japão.
A primeira versão de Quando Curupira Encontra Kappa foi escrita há dois anos e meio. Só que o assunto foi avançando: entre janeiro e setembro de 2024, a Amazônia foi o bioma mais atingido pelas queimadas, correspondendo a 11,3 milhões de hectares atingidos.
— A urgência do livro foi ficando maior — pontua a autora.
Para defender a natureza, o livro traz a união de seres tidos como malvados — como o próprio Kappa indicado no título, criatura reptiliana que gosta de afogar pessoas, conforme a lenda. A ideia, como acrescenta Fernanda, é mostrar que a natureza é muito mais forte do que todos nós.
— Neste caso, se não tiver Amazônia, nem os seres malvados vão sobreviver — diz. — Usei esse argumento para engajar os seres malvados do Japão com os daqui. E, no fundo, ninguém é bom ou mau o tempo todo. Existe um espaço de ternura, pelo qual podemos conseguir as coisas para o bem.