O vento forte que predominava em Porto Alegre neste sábado (4) pouco importou para quem decidiu participar de uma atividade de criação de história na Feira do Livro. Na verdade, foi até simbólico, pois parece que deu um impulso para a imaginação do público voar alto.
Durante a tarde, os escritores Eduardo Spohr, Affonso Solano e Gilson Luis da Cunha foram os responsáveis pela iniciativa Criação e Recriação de Mundos, em que foi criada, do zero, toda uma narrativa. Eles tiveram apoio das cerca de 200 pessoas que estiveram no Espaço Petrobras Carlos Urbim. Juntos, elaboraram desde o cenário, passando pela trama e enredo, até chegar nas características dos personagens.
No começo, eles explicaram as diferenças entre low fantasy e high fantasy. A primeira é exemplificada com a saga Harry Potter, com um mundo fantástico adaptado dentro do mundo real, seguindo regras e histórias pré-estabelecidas. Já a segunda, como O Senhor dos Anéis, não tem amarras com os fatos, tendo o autor liberdade para criar o que bem entendesse.
Dada esta base, foi decidido criar uma história em low fantasy. Desenvolto, Solano começou a circular pela plateia e pedir sugestões para a criação da história inédita. Entre as diversas opções dadas de cenário, o vencedor foi o período da Guerra dos Farrapos. Na sequência, elementos bizarros foram sendo inseridos.
Entrou, então, novas sugestões. A partir disso, a história ficou resumida como um meteorito que cai no Rio Grande do Sul, enquanto ocorreria a Guerra dos Farrapos, e, dentro dele, estão macacos gigantes alados do futuro, que chegam para mudar o curso da história. Porém, ao final, os seres cósmicos, tal qual em A Guerra dos Mundos, são derrotados ao ingerirem chamarão. O nome desta saga criada na Feira do Livro? Bah Nana!
Em seguida, os participantes dissertaram sobre sua experiência ao criar mundos para seus livros de fantasia e suas inspirações na literatura. Para Spohr e Solano, por exemplo, Robert E. Howard, criador de Conan, é um grande referência. Já para Cunha, Duna, de Frank Herbert, serve como grande alicerce da literatura fantástica.
— O universo de Conan se passa no nosso mundo, mas antes de grandes catástrofes. Assim, ele tem uma liberdade de desenvolver a sua história sem precisar ser fiel. Ele, então, espelha as histórias humanas, mas sem obrigatoriedade de respeitar a história — explica Spohr.
— O ser humano tem a necessidade de se espelhar em algo maior do que a sua própria existência. O monomito, então, conversa com as mais diversas culturas, pois as pessoas seguem uma estrada semelhante, com os mesmos elementos— complementa Solano, referenciando como objeto de identificação a Jornada do Herói para ligar o ordinário com o extraordinário.
Cunha segue a linha dos colegas:
— A humanidade tem a necessidade do pertencimento e é essa necessidade que move a questão literária. É preciso de uma certa mortalidade.
Os três focaram em explicar na verossimilhança na criação das histórias e como colocar elementos que condizem com o universo, puxando pelo lado humano, consegue fazer o leitor mergulhar na obra. Segundo eles, por mais fantástica que seja a história, conseguir se conectar com quem está lendo é primordial e, por isso, este lado humano é fundamental.
Para os nerds
O público, majoritariamente jovem, teve como principal atrativo para o evento a presença de Solano, criador do podcast Matando Robôs Gigantes. Um animado grupo que marcou presença era composto pelos amigos e estudantes Gabriel Simas, 19 anos, e Pedro Menezes, 21, bem como Ester Nunes, 19, namorada de Pedro.
— Sou nerd e gosto de conteúdo nerd no geral. Já li os livros do Affonso e apresentei para ele (Pedro). Acompanho ele do podcast e o Spohr também, gosto muito do que eles dizem — destacou Simas.
— A gente gosta bastante de RPG, criação de histórias e estamos aqui para ver eles falando sobre isso, que é uma coisa bem interessante — apontou Menezes.
— Eu não conheço nada, estou aqui só acompanhando — brincou Ester.
O trio, muito concentrado, ficou até o final da palestra dos escritores, que se estendeu até quase 19h.
A 69ª Feira do Livro de Porto Alegre segue até o dia 15 de novembro na Praça da Alfândega, com todas as atividades sendo gratuitas.