Debaixo de uma chuva que ora diminuía e ora apertava, um cortejo de gaiteiros, produtores, leitores e frequentadores da Feira do Livro de Porto Alegre percorreu a Praça da Alfândega na noite desta quarta-feira (15) para encerrar mais uma edição de um evento que beira as sete décadas dando lição de resistência.
O grupo era liderado pelo patrono, Tabajara Ruas, trajado em uma elegante combinação de terno e chapéu pretos. Como reza a tradição a cada cerimônia de encerramento, ele distribuía rosas vermelhas conforme passava pelas barracas de livros, algumas já sendo desmontadas.
Atrás do bando de pessoas que caminhava a passos lentos entoando a marchinha "Ai ai ai/ Está chegando a hora", Arlete Saldanha, 70 anos, carregava sua flor contra o peito.
— Isso tem todo um significado. Sem cultura, sem leitura, não há vida. Espero que todos os anos a gente possa ter uma Feira do Livro sem viver a dúvida se ela vai sair ou não — disse a aposentada, referindo-se à angústia pela incerteza decorrente da falta de verba oriunda da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).
Foi uma valentia ter conseguido realizar a 69ª Feira do Livro sem um recurso que sempre foi dado como certo, avalia o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur. Para ele, ainda que o total de livros vendidos não bata o recorde, o sucesso pode ser considerado devido a todos os contratempos que se acumularam.
— Mais de 30% dos 20 dias de Feira tiveram chuva. E ainda assim o público compareceu. Hoje, mesmo com essa chuva, o pessoal está aqui. A Feira foi um sucesso — insistiu.
Fazendo cara de cansaço enquanto encaixotava os livros na banca da Traça Livraria, Carmen Menezes, 62 anos, também tem a sensação de objetivo alcançado.
— O povo foi valente. O público veio se despedir mesmo com essa chuva. As vendas foram boas. Foi legal — disse brevemente, apressada para desmontar a barraca e chegar ao fim dos 20 dias de evento.
Sempre há os que deixam para comprar livros nos últimos momentos. No caso de Sílvia Letícia Ferreira de Oliveira, 42 anos, a morte de sua mãe no final de semana adiou a ida à Praça da Alfândega, passeio que já faz parte da rotina da família.
— Minha filha e meu marido me tiraram de casa hoje porque sabem que eu gosto da Feira e que vir aqui iria me ajudar. Agora, ouvindo essa música de despedida... Faz todo o sentido, porque o gosto por livros vem desde que eu sou pequena e minha mãe sempre me incentivou.
O balanço da 69ª Feira do Livro de Porto Alegre será divulgado nesta quinta-feira (16), às 10h, no Z Café, na Rua dos Andradas.