Um total de 32 livros ocupava o carrinho de duas rodinhas da professora estadual aposentada Maria Inês Farias Borne, 59 anos, na Feira do Livro de Porto Alegre. Nesta quarta-feira (15), a moradora de Charqueadas passava em frente às bancas e era saudada pelos livreiros do evento.
— No mínimo, deve fazer 10 anos que frequento a Feira. Procuro livros diferentes para trabalhar com meus alunos. Faço contação de histórias e levo autores às escolas — explica Maria Inês, sentada em um banco da Praça da Alfândega.
A reportagem de GZH procurou Maria Inês após descobrir que havia uma senhora na Feira que tinha o costume de comprar todos os livros a serem autografados no local. Ela própria esclarece a situação:
— Faço uma aposta, compro e vou ver se o livro é bom. É uma maneira de descobrir autores. Já descobri muitos autores novos assim — detalha.
Dessa maneira, é possível perceber que Maria Inês não é uma acumuladora ou tem algum tipo de obsessão em relação aos livros. Trata-se da matéria-prima que conduz o seu trabalho.
Com uma biblioteca em casa com mais de 3,5 mil exemplares devidamente registrados, a aposentada não costuma contar quantos leva para casa em seu carrinho, chamado carinhosamente por ela de "meu companheiro".
— Nos primeiros dias da Feira do Livro, levo mais livros para casa. Normalmente, faço lista, porque sei que tem descontos — compartilha.
Os livros são levados de ônibus até Charqueadas. Maria Inês faz viagens frequentes, não transportando todos juntos de uma única vez. Quando permanece na Capital, ela costuma ficar abrigada no alojamento do CPERS, localizado na Avenida Alberto Bins.
— Quando tenho o carrinho cheio levo para Charqueadas — diz.
Questionada sobre os autores preferidos para desenvolver suas atividades junto ao público infantojuvenil, Maria Inês enumera alguns nomes, como Carlos Urbim, Maria Dinorah, Hermes Bernardes Júnior, Caio Riter, Marô Barbieri e Antônio Schimeneck.
— Gosto muito de trabalhar com os autores gaúchos vivos — menciona.
Também participa de um clube da leitura junto à biblioteca pública municipal de Charqueadas. Os encontros ocorrem desde abril deste ano e abordam as mais variadas obras da literatura mundial.
— Gosto muito de fantasia. Começamos discutindo O Médico e o Monstro (de Robert Louis Stevenson), Drácula (de Bram Stoker) e o Frankenstein (de Mary Shelley). Depois fomos para O Colecionador (de John Fowles) e O Morro dos Ventos Uivantes (de Emily Brontë).
Ela aproveita para elogiar o escritor Duda Falcão, conhecido por obras com a temática do horror, como Mausoléu, Treze, Comboio de Espectros, O Estranho Oeste de Kane Blackmoon, entre outras.
— O Duda tem livros maravilhosos. Gosto muito dele.
Maria Inês conta que sua mãe era uma leitora assídua. Como também era professora, isso possibilitou que a filha passasse longas jornadas cercada por livros na biblioteca da escola onde a mãe cumpria expediente.
Além disso, sua mãe tinha a coleção de livros infantis formada por 12 volumes da Livraria Quaresma. O conjunto dessas obras foi herdado pela filha.
— Eu devorei — revela, dizendo que sempre adorou ler.
Esquecida na biblioteca
Por sinal, ela tem uma história bastante curiosa em relação às bibliotecas. Certa vez, foi deixada em torno das 13h pela tia na biblioteca da Escola Estadual de Ensino Fundamental Mineiro Nicácio Machado, em Charqueadas. Às 17h, o local foi fechado e ninguém percebeu que a criança estava lá dentro absorta na leitura. Quando a família notou sua ausência, foi preciso correr para resgatá-la. Os funcionários da limpeza do colégio ajudaram na ocasião. Mas ela não teve medo.
— Estava tão envolvida na leitura que nem me dei conta — recorda.
Atualmente, Maria Inês está concentrada na leitura de Quincas Borba, de Machado de Assis, que ainda precisa concluir. E no livro de contos Vestígios, de Ana Maria Machado, que será o próximo. Além desses, ela se dedica à leitura de Transmutação, de Cláudia Gelb.
— Vamos discutir o livro da Cláudia (escritora de Charqueadas) em saraus literários promovidos pelo município — relata.
Antes de se despedir, ela ainda recebe o carinho da atendente Mara Regina Becker, da barraca do Instituto Estadual do Livro (IEL):
— Esta é nossa compradora mais assídua. Não sei como ela consegue carregar tanto livro.