Terra do Festival de Cinema, Gramado quer gravar de vez o nome da serra gaúcha no mapa do turismo cultural no Brasil. De 2 a 11 de setembro, a cidade realizará a primeira edição do Festival Internacional de Literatura de Gramado, o FiliGram.
A festa literária deve substituir a Feira do Livro do município, que terá sua função comercial integrada ao festival, depois de 25 anos desde a primeira edição. O agora antigo evento, apesar de longevo, é considerado "tímido" pelo secretário de Cultura Ricardo Bertolucci, uma vez que não entrava no circuito de grandes mobilizações da cidade tal qual o Natal Luz e o próprio Festival de Cinema.
— Sempre fui consumidor da Feira do Livro de Gramado, desde criança, e percebia que a cidade tinha potencial de desenvolver um novo evento literário. Gramado sempre prima pela excelência dos eventos que faz, então eu ficava pensando: "Por que será que a Feira do Livro é tão tímida?" — diz o secretário, enfatizando que dificilmente alguém procurava o município sob o pretexto de participar do evento.
E o objetivo é mesmo ambicioso: fazer do FiliGram não só mais um atrativo turístico que levará público à cidade, mas também um dos grandes eventos literários do país, com direito a reconhecimento internacional — aos moldes do que é hoje a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
Para isso, uma megaestrutura será montada no complexo do lago Joaquina Rita Bier, QG oficial do evento que vai sediar feira de vendas, sessões de autógrafos, palestras, formações, oficinas e shows musicais, enquanto uma série de outras atividades deve mobilizar toda a extensão do município com intervenções artísticas e ações de descentralização da cultura, neste ponto com atenção especial para a comunidade local.
Isso porque, apesar de visar o turismo, explica o secretário, a ideia é que toda a cidade se envolva com o festival, em especial as redes escolares. Conforme ele, "não nos interessa fazer um evento só para gringo ver". Os estudantes, por exemplo, devem ter transporte até o festival custeado pela Prefeitura e receber palestras e formações integradas ao evento diretamente nas escolas.
— Vejo a literatura como uma das manifestações artísticas mais complexas e que mais desenvolvem o intelecto das pessoas. Quando a gente envolve, por exemplo, as escolas do município, a gente está formando leitores, pessoas com o senso crítico mais apurado, pessoas aptas a interpretar um texto e até mesmo formando escritores — projeta Bertolucci. — Nosso desejo é entregar para a nossa comunidade o acesso a grandes autores, grandes discussões e, do ponto de vista turístico, também atrair um público interessante.
Entre os grandes autores citados pelo gestor, alguns nomes internacionais já foram confirmados: o português Afonso Cruz, grande destaque desta primeira edição até o momento, autor de sucessos como Vamos Comprar um Poeta e A Boneca de Kokoscha, e o britânico Michael Bhaskar, escritor especialista em mercado editorial. Já no hall de escritores nacionais, marcarão presença nos painéis, entre outros, nomes como Aline Bei, dos best-sellers O Peso do Pássaro Morto e Pequena Coreografia do Adeus, e a cartunista Laluña Machado, que vem para falar sobre o gênero literário.
Também estão confirmados representantes regionais como Jeferson Tenório, colunista de GZH, ex-patrono da Feira do Livro de Porto Alegre e vencedor do Jabuti de melhor romance com O Avesso da Pele; Clara Corleone, de Infelizmente o Homem Tem que Acabar e Porque Era Ela, Porque Era Eu; e Natália Borges Polesso, autora de títulos como Amora, vencedor do Jabuti, e o recente A Extinção das Abelhas. Mais nomes devem ser anunciados nos próximos meses, bem como a programação completa, que promete incluir shows musicais com artistas nacionais de peso, ainda não confirmados.
Tudo isso, enfatiza Bertolucci, para fazer de Gramado a cidade do Natal, da Páscoa e do cinema tanto quando a da literatura:
— Queremos fazer um evento com a cara de Gramado, o tamanho de Gramado e o que eu acho que Gramado pode entregar para a literatura. Acreditamos que a médio ou longo prazo temos a possibilidade de nos tornarmos referência como o "festival literário do frio", assim como a Flip é do calor — planeja.