Marcos Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros e editor da Sextante, concedeu uma entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta quarta-feira (19). O assunto da conversa foi a intenção do governo federal de aprovar um projeto de reforma tributária que deve encarecer os livros.
A reforma derruba a proteção que o setor tinha, por lei, desde 2004, e passa a cobrar o pagamento de 12% de tributos específicos do mercado de livros. Segundo Pereira, a estimativa de arrecadação do governo com essa mudança seria cerca de R$ 700 milhões por ano.
— O Estado brasileiro tem um déficit com livro e leitura imenso. Se você pega os nossos índices de leitura e os nossos índices de educação... É vergonhoso — disse Pereira.
O presidente do sindicato seguiu comentando sobre eventos e iniciativas que incentivam a leitura, usando como exemplo a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, um dos eventos do ramo mais importantes do Estado:
— Isso devia ser uma coisa que o Estado brasileiro apoiasse permanentemente. E programas de leitura... Existem tantas iniciativas importantes no Brasil, e eu não vejo o Estado brasileiro apoiando, fomentando, criando bibliotecas, formando profissionais. Então taxar o livro levará a um aumento do preço — afirma Pereira.
O editor também destaca que a indústria não vai bem "e não vai conseguir arcar com esse custo adicional". Pereira comenta que não é fácil estabelecer uma estimativa sobre uma porcentagem de aumento no valor do livro, mas arrisca que o produto subirá em torno de 20% do seu valor atual.
— Não sabemos também o quanto vai diminuir o consumo, porque quanto mais caro, menos as pessoas compram — explica.
O editor acrescenta que o Sindicato dos Livros está trabalhando junto da Bancada Evangélica, que tem interesse de que o valor da Bíblia continue acessível para a população:
— Todas as entidades do livro se uniram nesta conversa. Temos um abaixo-assinado que está chegando em um milhão de assinaturas e uma atividade parlamentar forte.
Pereira explica que a leitura do brasileiro, per capita, fica em 2,5 livros por ano. Mas ele ressalta a importância do preço acessível do livro para o grande público, contradizendo a fala de Paulo Guedes — o ministro da Economia afirmou que apenas a elite brasileira lê, e portanto o preço alto do produto não seria um problema.
— Essa fala foi de uma infelicidade atroz. Exatamente quando o livro ficou mais acessível, lá em 2004, quando teve a isenção fiscal, iniciou um grande processo de barateamento do livro. O exemplo da minha editora Sextante... De 2006 a 2011, a gente saiu de 190 milhões de livros vendidos para 280 milhões — comentou.
O editor também cita o exemplo da Avon. Segundo ele, a empresa se tornou a maior vendedora de livros do país por meio de seus catálogos, chegando a comercializar mais de 20 milhões de exemplares por ano em edições especiais, "atingindo todas as camadas da população".
— Na Feira o Livro de Porto Alegre você vê gente de todos os extratos sociais comprando livro. O livro dá essa sensação de crescimento pessoal — acrescenta.
O presidente do Sindicato comentou ainda sobre a importância das livrarias no mercado literário:
— A livraria é o lugar onde você vai conhecer as novidades. Lançou-se muito pouco livro novo durante a pandemia. Eu acredito que a livraria do futuro é mais parecida com as livrarias mais íntimas, não é mais um supermercado de livros, mas sim um espaço cultural, onde você vai encontrar os autores, os amigos, onde você tem um bom livreiro que conhece seu gosto... Acho que essa vai ser a mudança.