A venda de livros está aumentando no Brasil. É o que aponta relatório divulgado pela empresa de pesquisa de consumo Nielsen em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros. No período de 18 de maio a 14 de junho, o setor livreiro teve faturamento de R$ 109 milhões, um crescimento de 31% em relação ao mês anterior. Mas comparado com o mesmo mês do ano passado, houve queda de 3,16% no valor total das vendas.
Apesar disso, a pesquisa animou o setor livreiro, pois aponta um movimento de recuperação após o abalo da pandemia. O levantamento é realizado a partir de dados coletados em livrarias, canais de e-commerce e varejistas, mas não demonstra como diferentes perfis de lojas foram afetados. Em entrevista para ZH, livreiros apontam que o aumento das vendas não é uniforme.
– Acredito que pessoas empobreceram com a pandemia. Além disso, as distribuidoras estão sem dinheiro e, portanto, com poucos livros. Muitas vezes os clientes ligam, mas, se não temos os livros na loja, consultamos as distribuidoras, e quase sempre elas não têm. É venda perdida – lamenta Milton Ribeiro, da Bamboletras.
Ao contrário da pesquisa divulgada pela Nielsen, a Bamboletras tem sofrido queda nas vendas. Sem um site de e-commerce, a livraria atende os clientes por telefone e redes sociais. Já a Baleia tem conseguido manter na pandemia um faturamento similar ao do mesmo período de 2019 – a exceção foi em maio, quando tradicionalmente ocorre a FestiPoa Literária, suspensa neste ano, evento que incrementa as vendas.
Nanni Rios, proprietária da Baleia, aponta que o retorno da grade de lançamentos das editoras, que, aos poucos, estão retomando trabalhos, pode impactar agosto de maneira ainda mais positiva.
A livraria tem realizado pré-vendas de livros cujos autores já têm identificação com o público da casa.
– Estamos mantendo uma média de venda mensal sem lançamentos presenciais, sem eventos e cursos, que movimentam a casa e atraem público. É uma vitória. Dá para dizer que as pessoas estão comprando mais no varejo, sem a gente emitir um gatilho, sem fazer um convite – afirma Nanni.
Na Livraria Taverna, as vendas aumentam desde o início da pandemia, compensando a queda no faturamento devido à impossibilidade de fazer cursos e outros eventos, que também geravam receita. Um motoboy trabalha exclusivamente para a casa para fazer entregas em Porto Alegre. Com uma loja online bem estruturada, as vendas para fora do Estado também aumentam – de um patamar mensal de 15% para cerca de 40% do volume de exemplares.
– Com o fechamento das livrarias de shopping, um novo perfil de público começou a buscar nossos serviços. São clientes atrás de livros espíritas, de autoajuda e outros best-sellers. Não conseguimos atendê-los porque não temos esses livros em loja, mas alguns livreiros menores devem ter se beneficiado com essa nova demanda – conta Ederson Lopes, sócio da Taverna.
Os editores também têm observado uma curva ascendente nos e-books. Muita gente aderiu ou intensificou a relação com os livros eletrônicos. A L&PM, por exemplo, de março a maio, teve média de 67% de incremento no faturamento com e-books em relação ao mesmo período de 2019.
– O aumento foi também impulsionado por promoções de desconto, ações com livros gratuitos e 45 lançamentos em e-book – explica Fernanda Scherer, da L&PM.
Gustavo Guertler, da Belas Letras, também estima que a demanda por e-books cresceu cerca de 50% desde o início da pandemia. Pondera, no entanto, que a venda de livros impressos tem chamado mais atenção dos editores:
– O problema é que o e-book representa algo como 3% a 5% do faturamento, então aumentar tudo isso não gera representatividade geral. No início, houve um pico de demanda, mas agora estabilizou. Considero como fenômeno comportamental. Por causa da falta de contato físico o que aumentou foi a procura pelos livros em papel, mas com a venda via canal digital.