Ao pesquisar em sites de buscas o nome de Maria Firmina dos Reis (1822—1917), autora do romance Úrsula, as imagens que aparecerão serão conflituosas. Retratada até recentemente como uma mulher branca, a imagem real da escritora ainda é um mistério, já que não deixou registros de sua figura na época em que vivia, mas uma descoberta foi feita: ela foi confundida, por muitos anos, com a escritora gaúcha Maria Benedita Câmara (1853—1895), conhecida como Délia.
Relatos de ex-alunos de Firmina afirmam que seu biotipo não se parecia com a forma como costuma ser desenhada. Cabelos crespos, curto, rosto arredondado, nariz curto e grosso são adjetivos atribuídos por aqueles que conviveram com a escritora. Sua obra foi considerada a primeira produção literária afrobrasileira e ficou conhecida por ter fornecido voz, em meio a tantos que não o faziam, aos personagens negros da trama.
Na Câmara dos Vereadores de Guimarães, cidade do Maranhão em que Firmina viveu, um retrato pendurado de Délia era conferido à imagem de Firmina. Em entrevista a BBC Brasil, a professora da Universidade Federal do Maranhão Régia Agostinho relatou que os frequentadores do local afirmam que sabiam que aquela não era a autora de Úrsula, mas não tiravam a obra da parede porque havia sido um presente dado por alguém importante na cidade. Ela realizou uma tese de doutorado sobre a escritora.
Um busto feito em homenagem a Firmina na Praça do Pantheon, no centro de São Luís, também não bate com as características descritas por seus ex-alunos. Não se sabe como a confusão aconteceu, mas há, atualmente, algumas tentativas de reconstituição da imagem de Maria Firmina dos Reis, todas elas respeitando os traços descritos por seus conhecidos e seu tom de pele negro.
Biografia
Maria Firmina nasceu no dia 11 de março de 1822, na cidade de São Luís do Maranhão. No entanto, por muitos anos acreditou-se que ela havia nascido em 11 de outubro de 1825, quando foi batizada. A descoberta da nova data foi feita por Dilercy Aragão, professora aposentada da Universidade Federal do Maranhão.
Do nascimento até a publicação de Úrsula, em 1859, pouco se sabe sobre a vida de Firmina. Ela foi professora de primário e, como escritora, colaborou com diversos jornais maranhenses por mais de 50 anos, publicando poesias, contos e crônicas — entre os quais estavam Gupeva (1861) e A Escrava (1887). Morreu em 1917, aos 95 anos.
Legado
Nos últimos anos, o reconhecimento de Firmina se expandiu no país: Úrsula ganhou novas edições, e diversos outros estudos foram dedicados à escritora. Em 2018, foi uma das artistas homenageadas na Festa Literária das Periferias (Flup), no Rio de Janeiro. No ano passado, foi homenageada com um Doodle do Google, embora ainda na data errada de seu nascimento.