Há tempos que a academia perdeu seu preconceito com os quadrinhos como tema, e várias dissertações e teses sobre a chamada nona arte já passaram por bancas de várias instituições. O que Caçadora de Fãs: Uma Aventura Acadêmica, HQ com proposta pioneira da doutoranda em Comunicação Larissa Becko, quer fazer é levar essa aproximação um passo além e apresentar em um gibi os percursos e os percalços da elaboração de uma tese.
O gibi adapta em 60 páginas os passos metodológicos usados na dissertação da pesquisadora, Desvendando o Fã de Super-Heróis: Performances, Práticas de Consumo e Identidades, realizada este ano como parte do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Unisinos. Para o trabalho, Larissa entrevistou seis fãs de super-heróis dos estúdios Marvel e DC Comics, que residem em Porto Alegre, para mapear de forma qualitativa e quantitativa quem são esses entusiastas contemporâneos de um dos ramos hegemônicos da atual indústria do entretenimento.
– Já escrevi a dissertação com o intuito de naturalizar o conteúdo, popularizar o conhecimento acadêmico. É uma pesquisa em comunicação com viés antropológico, não é uma pesquisa etnográfica de aborígenes. Não fui para um lugar estranho estudar pessoas estranhas, foram pessoas como nós – explica.
No dia 7 de março deste ano, Larissa encarou a banca avaliadora de sua dissertação, orientada por Adriana Amaral, referência em cultura pop. Menos de duas semanas depois, no dia 20, ela iniciava os diálogos com a dupla que deu vida à HQ: Fabio Mesmo (roteiro) e Thiago Krening (ilustrações). Com o prólogo de oito páginas pronto, Larissa e os artistas iniciaram uma campanha em busca de recursos financeiros para publicar o material.
O objetivo é arrecadar R$ 10 mil até 30 de setembro na plataforma de financiamento coletivo Catarse. A partir da contribuição de R$ 45, o usuário tem direito a uma versão física do gibi, previsto para ser entregue em dezembro deste ano. Os valores para apoiar vão de
R$ 10 a R$ 120.
– O leitor vai ter uma outra perspectiva do Ampére (personagem imaginário que Larissa pincela na dissertação), que volta para me ajudar nesse processo de pesquisa. A HQ permite uma linguagem mais lúdica e linear, porque uma pesquisa acadêmica não é linear – esclarece.
Percurso
A dissertação de Larissa segue um diálogo franco com o leitor sobre os procedimentos empíricos e teóricos do trabalho ao longo de dois anos de estudos. Uma forma de contornar a formalidade muitas vezes associada com a escrita acadêmica.
– Eu tinha uma preocupação muito grande de que as pessoas que entrevistei pudessem retornar à dissertação e entender. Narrei em primeira pessoa para dar uma certa pessoalidade e busquei popularizar o conteúdo.
Mas entrar no Repositório Digital da Biblioteca da Unisinos, encontrar, baixar o arquivo e lê-lo é um caminho burocrático que também acaba por restringir a disseminação de pesquisas científicas. Por isso, Larissa acredita que a HQ Caçadora de Fãs: Uma Aventura Acadêmica é uma forma mais amigável de popularizar o trabalho.