Será realizada neste fim de semana, no Campus da Ulbra, em Canoas, a nona edição da ComicCon RS, tradicional eventos de quadrinhos e cultura pop do Estado. O grande convidado internacional é o artista britânico David Lloyd (de V de Vingança), mas o principal homenageado é um gaúcho já veterano no competitivo mercado dos quadrinhos americanos.
É o quadrinista porto-alegrense Daniel HDR, que celebra em 2019 três décadas de uma carreira profissional iniciada aos 14 anos, em 1988. Um dos pioneiros brasucas a desenhar para as grandes editoras americanas Marvel e DC, a partir dos anos 1990, Daniel já trabalhou com personagens como Homem de Ferro, Vingadores e Tropa dos Lanternas Verdes.
Confira entrevista com Daniel HDR:
Você já foi homenageado este ano no evento do Dia do Quadrinho Nacional, em Alvorada. A que relaciona esse período de reconhecimentos?
Acho que são múltiplos fatores. Além da minha carreira no Brasil e no Exterior, muitas pessoas que têm produzido no Estado passaram pelo estúdio Dínamo (fundado por Daniel há 21 anos). Eu sou um cara de 45 anos que trabalha com uma coisa que, em geral, as pessoas ainda acham que não é trabalho. Esse meu processo de descoberta como autor foi calejado até conseguir publicar profissionalmente, receber. No momento em que também montei meu lado de professor e educador, pude trocar conhecimentos. É gratificante acompanhar outros talentos nascerem aqui no Estado.
Como avalia o mercado autoral?
O autor se tornou um empreendedor. Ele precisa encarar o seu projeto e a sua rotina de trabalho como profissional. Nós temos a nossa fase de entusiasta, mas se quiser permanecer no mercado e ter oportunidades de desenvolver o seu talento no nosso país, o artista precisa entender que não temos uma indústria, temos uma cena e ela tem se consolidado, justamente, com essa postura empreendedora dos autores. Não produzir só para si. Pensar no público como uma meta a atingir, ir a eventos, conhecer outros autores, colher feedbacks. Tem que perder o medo. Pode até ser mais um, mas aquilo que faz atinge o seu público.
Como avalia a importância nessa cena da ComicCon RS?
É um grande foco para a produção local que conseguiu dialogar com públicos que só conheciam história em quadrinhos por cima. Popularizou a linguagem da cultura pop para o público comum. No momento em que se tem eventos que estreitam o espaço entre o produtor de conteúdo e o consumidor, se desmistifica muita coisa e ao mesmo tempo você convida as pessoas a conhecerem as gamas de opções.
Trabalhar com quadrinhos faz você sair da sua zona de conforto o tempo todo
O que você sugere para quem quer entrar no mercado?
Trabalhar com quadrinhos faz você sair da sua zona de conforto o tempo todo. O quadrinho tem uma dinâmica de narrativa que faz você se desafiar como artista para deixá-la envolvente. Então, além de desenhar bastante, tem que desenhar o que sai do seu ambiente natural. Para escritores, aconselho a não ler só quadrinhos. Tem que ampliar a leitura.
Você já desenhou mangás, que se tornaram extremamente populares nas últimas décadas. A que atribui essa popularização?
O mangá começou a ficar popular no Brasil na metade dos anos 1990, principalmente por conta das animações japonesas em canais de TV aberta. Na época, para trabalhar profissionalmente com quadrinhos tinha que produzir nos gêneros de terror, infantil e erótico. Os mangás abriram um leque de opções para autores que queriam encontrar espaço. As editoras que publicavam outros estilos começaram a dar espaço para publicações com essa estética. Essa associação de fatores tornou a figura do mangá muito forte no Ocidente.
Serviço
- ComicCon RS: dias 3 e 4 de agosto, na Ulbratech, prédio 16 do campus da Ulbra em Canoas (Avenida Farroupilha, 8.001, São José). Os ingressos custam R$ 45 (3° lote, para cada dia) e R$ 80 (3° lote, para os dois dias), na bilheteria do local e pelo site sympla em bit.ly/comicconrs19.