Um dos maiores encontros de entusiastas da cultura pop, a ComicCon RS ocorre no final de semana, em Canoas. Serão dois dias de imersão no universo de quadrinhos, séries, games, cosplay e toda sorte de memorabilia. Em sua sexta edição, o evento trará nomes de peso, como o artista argentino Juan Ferreyra, responsável por revistas da DC Comics, e Ivan Reis, brasileiro com sólida carreira no mercado norte-americano de HQs. Além disso, uma série de painéis tratarão de assuntos do momento, como o game Pokémon Go e o seriado da Netflix Stranger things.
Leia mais
JOGAMOS: "No man's sky" quebra paradigmas, confunde e encanta
"American horror story" ganha poster e teasers da 6ª temporada
Morre ator que interpretou o robô R2-D2 da franquia "Star Wars"
A grande atração, no entanto, é o britânico David Lloyd, ilustrador da cultuada HQ V de vingança. Lançada nos anos 1980 em parceria com o escritor Alan Moore, a graphic novel tornou-se um clássico da literatura em quadrinhos ao apresentar uma alegoria distópica da Inglaterra da então primeira ministra Margaret Thatcher. Em 2005, foi levada aos cinemas pelo diretor James McTeigue e transformou a máscara criada por Lloyd para o personagem-título em um símbolo de rebeldia do século 21.
Confira, abaixo, a entrevista com Lloyd.
Como é ver que a máscara que você criou na década de 1980 tornou-se um símbolo do ativismo nos anos 2000?
Fico muito feliz com isso. Sempre que é usada, é como símbolo contra uma tirania, ou uma tirana intrínseca. Então seu uso reflete a natureza de sua origem, que é tudo o que um criador de qualquer objeto representativo pode esperar que aconteça.
Hoje, o Reino Unido é governado por uma mulher, Theresa May, e caminha para o isolamento depois da vitória do Brexit. É uma atmosfera similar à que você viveu nos anos 1980, quando ajudou a criar o mundo totalitarista de V de vingança?
Acho que a ascensão de uma ala de direita radical pela Europa, causada pela reação à imigração, é mais importante do que o que está acontecendo no Reino Unido. E Theresa May não é Margareth Thatcher, fico feliz em dizer. Mas o Brexit fez cair uma atmosfera sombria de regressão sobre nós, que guarda semelhança ao sentimento geral que queríamos gerar em V de vingança – deixando claro que não é a mesma coisa que nos anos 1980, com certeza.
Quadrinhos são hoje uma indústria gigantesca, que se estendeu ao cinema e domina a cultura pop de maneira geral. Como você avalia esse cenário?
Ah, mas não são as HQs que são grandes: são os personagens das versões do cinema de algumas HQs que são grandes. Eu adoraria que os quadrinhos como um todo fossem grandes e tivessem impacto real sobre a massa. Receio que, como mídia, eles ainda sejam pequenos demais no mercado de entretenimento – pelo menos na maior parte do mundo ocidental.
Você não assiste a filmes de super-heróis. O cinema não é uma boa maneira de botar personagens de histórias em quadrinhos nos holofotes e fazer algum dinheiro com eles?
Nunca vi nenhum filme de super-herói. Desde a adolescência, nunca fui fã de super-herói algum – embora eu goste desses que fazem algo interessante nas entrelinhas, como Deadpool e Kick-ass. E, sim, claro que a maior parte dos filmes são uma boa maneira de se fazer dinheiro – por isso fico feliz em dizer que o filme de V de vingança foi feito por pessoas que se importaram com os personagens e o que a história tinha a dizer.
Mesmo assim, os quadrinhos hoje constituem uma indústria maior do que antes. É diferente trabalhar com HQ hoje do que nos anos 1970 e 1980?
Existem mais possibilidades a serem exploradas no que toca ao formato de publicação e audiência, então por isso vivemos dias melhores. Mas, infelizmente, os super-heróis ainda dominam o cenário, quando ter prateleiras mais variadas poderia ser melhor para a expansão do mercado. Mesmo a bem-sucedida penetração de graphic novels em livrarias, por exemplo, foi explorada pelas duas maiores editoras de super-heróis, que empurraram um monte de arcos de história no formato de coleções e chamaram de graphic novels, mantendo assim seu poder nessas lojas. Excelente negócio, claro, mas nada bom para melhorar a imagem das HQs ante o público em geral, que precisa ser convencido de seu valor cultural.
Que tipo de quadrinhos você lê hoje em dia?
Só os que publico no Aces Weekly (site agregador de HQs). Não tenho tempo de ler mais nada, mas sei que há muita coisa boa sendo feita por aí.
COMICCON RS 2016
Sábado e domingo, das 11h às 20h.
Campus da Ulbra em Canoas (Avenida Farroupilha, 8.001).
Ingressos: antecipados a R$ 35 (individual) ou R$ 65 (passaporte para os dois dias). Na hora, os ingressos são limitados e custam R$ 40 para estudantes, idosos e todos que doarem 1kg de alimento não perecível ou R$ 5 para uma instituição de caridade parceira do evento.