Foi com poesia, feita e debate sobre a arte trans que a 11ª Festa Literária de Porto Alegre foi encerrada neste domingo (6). O último dia do festival, que havia iniciado na última quarta-feira, concentrou-se no bar Agulha. Desde a tarde, o local sediou a Feira Geleia Geral que contou com a participação de editoras independentes.
Ao longo do domingo, foi realizada uma edição especial do Slam Peleia. No começo da noite, as gaúchas Marília Kosby e Clarissa Ferreira subiram ao palco do Agulha para apresentarem Poesia Xucra. Direto de Porto Velho (RO), o poeta Elizeu Braga declamou o recital Mormaço.
Encerrando o evento, as cantoras Linn da Quebrada e Valéria falaram sobre a construção da arte trans, além de abordarem questões ligadas ao preconceito e a representatividade. A artista gaúcha iniciou o bate-papo.
– Faço questão de dizer que sou uma cantora preta e trans. Ainda não chegou o momento que eu não precise não falar disso – afirmou Valéria.
Ela também argumentou que a arte trans tem o papel de invadir terrenos:
– A arte trans tem esse papel de abrir caminhos, sendo um rio que não respeita as margens.
Linn da Quebrada refletiu sobre o ato de produzir arte:
– Faço minha música como memória, como a possibilidade de produzir outra história. A arte não tem necessariamente a ver com estar em cima do palco ou no foco das lentes, mas significa ter a possibilidade de eu criar sobre a minha própria existência.
Linn comentou sobre o incômodo que lhe causa a questão da representatividade:
– Pode ser tornar um problema quando se torna nosso objetivo. Eu não posso representar todos vocês. Não quero ser um ícone, isso é muito plano, "2D". Sou mais complexa que isso – destacou.
Valéria relatou sua vontade de ter problemas mais banais, como quando alguém se atravessa na fila do supermercado:
– Nós queremos problemas de gente comum, cansamos de ter problemas com a nossa sexualidade.
A cantora trans gaúcha também deixou uma provocação para o público para a propagação da arte trans.
– Vocês desconstruídos que estão aqui presentes já se desconstruíram demais. Está na hora de começarmos a construir – convocou.