Você é uma artista trans na estrada há muito tempo. O que já mudou na sua realidade?
A arte trans e com discussão de gênero sempre esteve aí, mas a visibilidade estava focada no transformismo e na dublagem. Era muito caricato, não se deixava mostrar o trabalho. Agora, tomou um tamanho muito legal, as pessoas estão realmente se empoderando, dizendo: "Estou aqui, minha imagem é esta". Vejo muitas pessoas me tomando como referência, e isso é muito louco, é muita responsabilidade, mas eu gosto e incentivo. A aceitação de toda essa gama de pessoas talentosas tem que ter visibilidade ainda maior.
Ainda é importante se identificar como uma cantora trans?
Ainda. Eu preciso falar como cantora trans porque atrelo isso a um bom exemplo, a uma imagem legal. Eu luto para ser só uma cantora, mas, por enquanto, ainda preciso falar e usar isso. Comecei profissionalmente em 2000, cantando Whitney Houston vestida com roupas masculinas, sendo que já tinha até começado o processo hormonal. Mas a banda não aceitava, então eu era uma no palco e outra fora do palco. E sentia muita falta de representatividade, então resolvi ser a representatividade eu mesma. Tinha que começar por algo. Comecei por mim.
Leia mais:
Artistas LGBT conquistam espaços e trazem debate sobre gênero para a linha de frente da produção cultural
"Amor & Sexo": com artistas LGBT no palco, programa desta quinta-feira discute questões de gênero
MPBTrans: de Liniker a Pabllo Vittar, conheça o movimento musical que discute a diversidade sexual
Como é ser a primeira trans a receber o Troféu Mulher Cidadã de Porto Alegre?
O que mais quero é que várias ganhem. O troféu é a maior honraria dada a mulheres no Estado, então gera incômodo. Tentou-se fazer um boicote, pessoas foram à Justiça, mas foram ver na minha certidão e está lá o nome: Valéria.
Confira ensaio de fotos da cantora Valéria Houston realizado no Venezianos Pub Café, em Porto Alegre: