Quem é Linn da Quebrada, que se apresenta pela primeira vez em Porto Alegre nesta quinta-feira, no Opinião, como principal atração do evento Noites Morrostock? A resposta talvez mude entre o momento em que escrevo e o da sua leitura. "Ela é diva da sarjeta, seu corpo é uma ocupação / É favela, garagem, esgoto e pro teu desgosto / Está sempre em desconstrução", canta Linn em Mulher, dando algumas pistas sobre a sua personalidade. É "bicha, trans, preta e periférica. Nem ator, nem atriz, atroz", informa a página dela no Facebook, confundindo mais do que explicando.
Algumas certezas sobre a paulista Linn, 26 anos, que há pouco tirou o MC (na linguagem do rap, o mestre de cerimônias) de seu nome: é uma multiartista que se vale do funk para passar uma mensagem contra o preconceito e o machismo e discute sexualidade nas músicas a partir do universo das mulheres trans e travestis da periferia.
– O funk faz parte do meu contexto. Ele movimenta, é a poesia da quebrada. Fala de realidades marginalizadas que não são levadas em conta – afirma Linn, em fase de pré-produção do seu primeiro disco, Pajubá. – Mais explicitamente e de forma corajosa, o funk produz sexualidade e desejo, e isso não é necessariamente "de boa", livre do machismo, muito pelo contrário. E, como estava querendo falar sobre os meus afetos, me colocando em questão de forma relevante, uso o funk para construir novas pontes.
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A (des)construção de Linn passou a ser conhecida em maio do ano passado, quando lançou no YouTube o clipe de sua primeira música, Enviadescer, em que convocava o "macho discreto" para "bater um papo reto". "Eu gosto mesmo é das bichas / das que são afeminadas / das que mostram muita pele, rebolam, saem maquiadas", provoca Linn no vídeo, que já conta com mais de 300 mil visualizações.
A artista diz não ser uma cantora. Está cantora. É também bailarina, performer e "terrorista de gênero". Ela explica:
– Uso o meu corpo como arma, bomba e pólvora para me defender, como ferramenta política, para colocar em xeque e aterrorizar o que está posto como norma. Estou em uma zona hostil onde o meu corpo não tem importância. Uso tudo o que é visto em mim como algo a ser combatido, a minha feminilidade, por exemplo, como ferramenta não só para me proteger, mas também para colocar em risco o próprio sistema.
Esse espírito terrorista está no experimento audiovisual blasFêmea, lançado neste mês. Trata-se de um "transclipe", nas palavras de Linn, em que uma rede de mulheres é formada a partir de uma situação de agressão vivida por uma travesti:
– Não se trata só de união, mas também de combate, de terror, de evidenciar no clipe uma violência simbólica. Nas ruas e nos corpos, a violência é física, real e material – explica a artista. – O que o vídeo mostra é um ajuntamento do feminino em combate a essa opressão machista, misógina e transfóbica. A forma como nós responderemos a isso não está representada, teremos que descobrir juntas. Mas não dá mais para fingir que não sabemos, que não estamos vendo e que essa é uma situação fantasiosa.
No Opinião, o combate se dará ao lado da cantora Jup do Bairro, do percussionista Valentino Valentino e do DJ Pininga, músicos que acompanham Linn. Orquestra Friorenta e Mulamba, de Curitiba, completam o line-up da noite feminista do Noites Morrostock.
NOITES MORROSTOCK
Nesta quinta (27/4), às 22h.
Opinião (Rua José do Patrocínio, 834, fone 51 3211-2838).
Classificação: 16 anos.
Ingressos: R$ 35 (com a doação de 1kg de alimento não perecível) a R$ 90. Pontos de venda: Youcom Bourbon Wallig (somente em dinheiro); Youcom Shopping Praia de Belas, Iguatemi, Bourbon Ipiranga, Barra Shopping Sul, Bourbon Novo Hamburgo e Canoas Shopping, Mil Sons Alberto Bins, 366, Coronel Vicente, 434, e Alberto Bins, 554 (com taxa de conveniência, somente em dinheiro); online: www.blueticket.com.br/grupo/opiniao.
Os shows: MC Linn da Quebrada (SP), Orquestra Friorenta (PR) e Mulamba (PR).