Festival de artes cênicas que se tornou um dos mais importantes do Brasil, o Porto Alegre em Cena abre nesta quinta-feira (7) sua 30ª edição, comemorando uma longevidade rara em eventos culturais no país. Até o dia 19, serão apresentados, em diferentes espaços da Capital, cinco espetáculos nacionais e 17 gaúchos. Haverá também atividades formativas, que já começam nesta quarta (6).
Entre os destaques da programação, estão as montagens Julius Caesar — Vidas Paralelas, da Cia. dos Atores (RJ), uma das mais importantes do país, completando 35 anos de atividade, e Vala: Corpos Negros e Sobrevidas, da Cia Sansacroma (SP), que denuncia o genocídio de pessoas pretas ao longo da história. Os ingressos para o festival têm preço máximo de R$ 60, à venda no site guicheweb.com.br e no Campus da PUCRS (térreo do prédio 5, de segunda a sexta, das 9h às 13h e das 14h às 19h), e há atrações gratuitas. A programação completa está no site portoalegreemcena.com.
Esta é a segunda edição realizada pela nova equipe do Em Cena, sob coordenação-geral de Vitor Ortiz, Denise Viana Pereira e Michel Flores, contando com uma direção artística coletiva: participam da curadoria Adriane Azevedo, Adriane Mottola, Airton Tomazzoni, Antônio Grassi, Juliano Barros, Renato Mendonça, Ricardo Barberena e Thiago Pirajira. A 29ª edição ocorreu em duas etapas: em dezembro de 2022 e em março deste ano. Esta 30ª edição marca, portanto, a volta ao período tradicional do evento.
— O grande desafio que havia para este ano era trazer o Em Cena de volta para setembro. Isso é relevante porque as companhias de teatro, dança e circo do país se referenciam muito nos festivais para organizar sua agenda de circulação nacional — observa Vitor Ortiz, um dos coordenadores-gerais.
A programação do 30º Em Cena começa com Julius Caesar (nesta quinta e sexta, às 20h, no Teatro da PUCRS, no prédio 40 da universidade — na sexta, haverá interpretação em Libras e audiodescrição), com dramaturgia e direção de Gustavo Gasparani. A trama mostra os ensaios de uma companhia teatral que está montando a tragédia Júlio César, de Shakespeare. No decorrer da trama, questões do meio artístico se cruzam com o enredo do texto shakespeariano. Entre os destaques da primeira semana também estão Muximba — O Coração Sempre Permanece Criança (nesta sexta, às 16h, no saguão do Centro Municipal de Cultura, para todas as idades, com entrada gratuita e interpretação em Libras), da Cia. Giradança (RN), que recria, por meio da fabulação, um passado distante; Transiterrifluxório (desta sexta a domingo, às 20h, no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa), de Cláudio Lacerda/Dança Amorfa (PE), espetáculo de dança inspirado na obra da prestigiada arquiteta iraquiana-britânica Zaha Hadid; e Reminiscências — Memórias do Nosso Carnaval (sábado, às 21h, no Theatro São Pedro), do Grupo de Música e Dança Afro-Sul (RS), que presta homenagem aos Carnavais de Porto Alegre..
— Trabalhamos com o conceito de que Porto Alegre é uma cidade-porto, um lugar de chegadas e partidas, com conexões nacionais e internacionais. Nesse contexto, há também dilemas sociais refletidos pela linguagem artística. A questão dos corpos negros, por exemplo, está muito presente em espetáculos como Vala: Corpos Negros e Sobrevidas (dias 15 e 16/9, às 21h, no Teatro Renascença) e Reminiscências. Na edição anterior, esteve presente com Cárcere ou por que as Mulheres Viram Búfalos, da Companhia de Teatro Heliópolis (SP), e em Embarque Imediato, com Antonio Pitanga. É o festival colocando a comunidade negra dentro do teatro – celebra Ortiz.
Calendário
Assim como outros grandes eventos do Rio Grande do Sul, o Em Cena deste ano não contou com verba da Lei de Incentivo à Cultura do RS (LIC-RS) — o projeto foi aprovado, mas não foi priorizado. Realizado pela prefeitura de Porto Alegre, o festival foi viabilizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da prefeitura, com correalização da PUCRS e patrocínio do Zaffari. As dificuldades de captação levaram a uma reorganização da agenda desta edição, que, assim como a anterior, terá uma segunda etapa, em março de 2024. A programação ainda não foi anunciada, mas, segundo Ortiz, incluirá uma homenagem ao diretor Zé Celso Martinez Corrêa, morto em julho, aos 86 anos.
Em sua trajetória, o Em Cena se notabilizou por trazer montagens de alguns dos maiores encenadores do mundo, como Bob Wilson, Peter Brook, Robert Lepage e Angélica Liddell, e de grupos estrelados, como o Théâtre du Soleil e a Socìetas Raffaello Sanzio. Coordenado na maior parte de sua história por Luciano Alabarse — e, depois, por seu braço-direito Fernando Zugno —, o festival também foi marcado por espetáculos latino-americanos. Falando sobre a equipe que iniciou os trabalhos em 2022, Ortiz não descarta uma atração internacional para março de 2024:
— Queríamos ter agora para setembro, mas não foi possível. Assim como conseguimos resgatar o calendário do evento para setembro, queremos resgatar essa característica internacional do festival.