O ator Eduardo Sterblitch e o diretor Roberto Alvim não poderiam ser mais diferentes entre si. Enquanto o primeiro virou uma estrela pop desde sua participação no Pânico na TV com personagens como Freddie Mercury Prateado, o segundo é uma figura cult da cena teatral brasileira à frente da Cia. Club Noir, de São Paulo. Mas Alvim ficou admirado com o trabalho de Sterblitch ao identificar uma semelhança com o humor melancólico de Buster Keaton e com o humor "quase agressivo" de Andy Kaufman.
É por isso que eles estão juntos no espetáculo O Rei do Mundo, que estreou neste ano e terá sessões em Porto Alegre neste sábado (21) e domingo (22) no Theatro São Pedro. Escrita por Alvim, livremente inspirado no clássico Peer Gynt (1867), do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828 – 1906), a peça encena a jornada de um sujeito chamado Pedro Peregrino (papel de Sterblitch – leia entrevista com o ator) em direção ao poder a qualquer custo – mesmo que para isso tenha que fazer um pacto com a Rainha do Centro da Terra (Louise D'tuani), personificação feminina do diabo. Completam o elenco Diego Becker, Claudinei Brandão e Thiago Brianti.
Indiferente à dor dos outros, o protagonista fica milionário com o tráfico de escravos e se torna o rei da Síria. Mas terá de enfrentar as consequências de sua escolha.
– Esse personagem somos todos nós, homens e mulheres que já viveram e viverão sobre a face da Terra – analisa Alvim. – Ele opta por essa que é supostamente a montanha do sucesso, mas quando está lá em cima percebe que talvez seja a montanha errada e que esse sucesso é uma espécie de fracasso existencial.
O Rei do Mundo é uma comédia, mas dessas que começam hilárias e vão se tornando absurdas no decorrer da ação, ao ponto de os espectadores se interrogarem se devem continuar rindo ou não. É a primeira incursão do diretor no teatro de gênero, ele que trouxe a Porto Alegre, nos últimos anos, produções baseadas em Ésquilo (Peep Classic Ésquilo), Beckett (Tríptico Samuel Beckett), Shakespeare (Caesar) e Chico Buarque (Leite Derramado).
Fábula ganhou brasilidade
Embora o mito de Fausto seja atemporal, remontando à Idade Média e passando pelo teatro elisabetano (com Marlowe), pelo romantismo alemão (Goethe) e pela literatura moderna (Thomas Mann), Alvim tratou de aproximá-lo do público brasileiro:
– Coloquei um acento muito forte nesta adaptação de Ibsen. Há um momento em que Pedro é internado em um manicômio e encontra uma série de personagens de fácil identificação, como Eike Batista, José Sarney e pessoas que fazem parte do nosso convívio na época do Carnaval.
O REI DO MUNDO
Neste sábado (21), às 21h, e domingo (22), às 18h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre. Duração: 80 minutos. Classificação: 14 anos.
Ingressos: R$ 30 (galerias), R$ 60 (camarotes laterais), R$ 70 (camarotes centrais) e R$ 80 (plateia e cadeiras extras). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda no site vendas.teatrosaopedro.com.br (com taxa) e na bilheteria do teatro nesta sexta, das 13h às 18h30, e sábado e domingo, das 15h até o horário de início do espetáculo.