Na série de peças Peep Classic Ésquilo, um dos destaques do 20º Porto Alegre Em Cena, o diretor Roberto Alvim encena todas as tragédias de Ésquilo como raramente se vê. A iluminação conta apenas com uma lâmpada fluorescente. O elenco é reduzido ao mínimo. E a tradução privilegia a poesia, em detrimento da comunicação.
Como consequência, a duração de cada texto ficou em apenas 30 minutos. Serão duas tragédias por sessão, totalizando uma hora, no Teatro Renascença, sempre às 20h, com ingressos a R$ 40 (veja detalhes na Agenda). Nesta segunda-feira, estarão em cartaz As Suplicantes e Os Persas; na terça, Sete Contra Tebas e Prometeu; e, na quarta-feira, Oresteia I e II (Oresteia é uma trilogia que ganha aqui uma versão em duas partes). O diretor garante fidelidade a Ésquilo:
- Ser fiel é estar no mesmo lugar pulsivo que o autor estava quando escreveu aquela obra. Essa ideia de fidelidade não tem a ver com a maneira como as peças foram montadas no passado.
Alvim afirma que o teatro é o lugar das pulsões, e não da consciência e da neurose. Esse pensamento norteou sua tradução dos textos diretamente do grego antigo:
- Há traduções em que três palavras viram cinco linhas. Na nossa, viram três palavras. O texto ficou tão poético, elíptico e estranho quanto o original.
O resultado é que as falas dos atores em português poderão soar para os espectadores como uma língua estrangeira. Trata-se de um espetáculo que se dirige ao inconsciente do público, como explica Alvim. Seu interesse em Ésquilo, o mais antigo tragediógrafo, reside no fato de ser o único que produziu no período pré-socrático - portanto, antes do paradigma de mundo tradicionalmente associado ao pensamento grego.
- Ésquilo trabalha com a ideia de que estamos em mutação permanente. Cada uma dessas tragédias instaura zonas de instabilidade, de multiplicidades radicais - resume.