Dois espetáculos que estreiam nesta sexta-feira (13) em Porto Alegre – um de dança e outro de teatro – exploram a interseção entre o humano e o animal. Ambos fazem uso de máscaras em cena, mas as semelhanças param por aí. Em matéria de linguagem e procedimento, os caminhos se bifurcam.
Uma das principais coreógrafas de dança contemporânea do Rio Grande do Sul e referência no Brasil na formação de bailarinos, Eva Schul apresenta Fisiologia do Desespero dentro do projeto Ponto de Teatro, que promove estreias de produções gaúchas no Instituto Ling (Rua João Caetano, 440). As sessões serão às sextas, às 20h, e aos sábados, às 18h, até o dia 28, com ingressos a R$ 40, à venda no site institutoling.org.br e no local.
Com as intérpretes-criadoras Carla Vendramin, Renata de Lélis e Viviane Lencina, a montagem parte do conceito de "anatomia emocional" para explorar como o corpo responde às pressões sociais e como se molda conforme as tensões criadas. Inspirado no relato histórico de um professor que desenvolveu exercícios para bailarinos a partir do estudo da musculatura dos cavalos, o trabalho evidencia o fato de que a fisiologia aproxima humanos e animais.
– Pensamos sobre como essas bailarinas forçam seus corpos ao extremo e como têm de trabalhar para reagir às tensões e se adaptar fisicamente a todas as questões que o mundo cotidiano impõe. É uma força inumana de suportar tudo e ir além – explica Eva.
A diretora adianta que o espetáculo “foge do que é bonitinho” e espera que as pessoas saiam do teatro do Instituto Ling mobilizadas para questionar o mundo em que vivem. Para Eva, os espetáculos devem ter conotação social, ou seja, estabelecer diálogos, e não monólogos. É nesse sentido que entra a questão do feminino:
– São três mulheres em cena mostrando corpos que não são frágeis, mas poderosos, com linguagem e resistência, superando todas as questões.
Também fora dos palcos os artistas têm precisado fazer uso de todas as suas capacidades para transpor obstáculos. Eva lamenta as dificuldades de financiamento à cultura, com a redução de editais e fundos. Com o fechamento da Usina do Gasômetro para reforma, a cena da dança perdeu a sala 209, que era um espaço de efervescência. Hoje, a coreógrafa dá aulas de dança em sua própria residência. A demanda não diminuiu, mas muitos alunos desejam se qualificar para deixar o país.
– As coisas estão mais complicadas, mas sempre fui uma educadora. Os bailarinos querem se formar para buscar outras saídas. Aqui está muito ruim no nível municipal, estadual e federal – diz.