Como se fosse um palestrante de sucesso, Marcos Caruso estará na entrada do Theatro São Pedro para cumprimentar, um a um, os espectadores que assistirão ao espetáculo O Escândalo Philippe Dussaert, com sessões neste sábado (29/07), às 21h, e domingo (30/7), às 18h. Em seu primeiro solo em mais de 40 anos de carreira, o ator vive um conferencista que se dirige à plateia para abordar um escândalo na arte contemporânea que, claro, não pode ser revelado aqui. Por enquanto, basta dizer que, na peça, o Dussaert do título é um artista já falecido que costumava se apropriar criativamente de grandes pinturas da história, apagando as figuras e deixando apenas o fundo. Um de seus trabalhos, no entanto, alcança um preço tão alto que se torna um mistério. Desvendá-lo é uma missão para Marcos Caruso, ou melhor, para o conferencista que ele interpreta:
– A partir desse escândalo na arte contemporânea, você começa a questionar o quanto valem as coisas na sua vida. Quanto vale o metro quadrado no seu bairro? Quanto vale a palavra de um economista? Quanto vale o celular que você tem no bolso? Entramos nos pequenos escândalos cotidianos para pensar: "É caríssimo, não vale isso!".
O Escândalo Philippe Dussaert é sobre arte contemporânea, mas ninguém precisa entender do assunto para aproveitar o espetáculo. Pelo contrário. O premiado dramaturgo francês Jacques Mougenot se vale do bom humor para questionar a perplexidade do próprio público. Caruso explica:
– À primeira vista, poderia parecer uma palestra para iniciados, o que não é verdade. O espetáculo se torna extremamente popular pela forma como o autor o conduz, fazendo com que todas as pessoas da plateia entendam um pouco de arte.
Contudo, o ator não considera este um monólogo, e sim um "solo coletivo", porque os espectadores, que ficam à meia-luz, podem participar respondendo a indagações do conferencista, se assim desejarem. Caruso garante que nunca quis fazer um monólogo por se considerar uma pessoa "extremamente ansiosa" que gosta de ter ao lado outros atores. Receber o público na entrada, por exemplo, é um recurso coerente com a proposta do espetáculo dirigido por Fernando Philbert, mas o ator admite uma segunda motivação:
– É uma válvula de escape para eu não ficar sozinho no camarim, um temor que eu tinha em relação a monólogos.
De fato, Caruso não procurou o texto de Jacques Mougenot. Foi a peça que veio até ele por meio de duas donas de galeria de arte que o abordaram em um restaurante de comida a quilo no Leblon. Sem nenhuma relação com a área da produção teatral, elas tinham se encantado com uma montagem assistida na França e decidiram comprar os direitos. A tradução coube a uma terceira amiga, Marilu de Seixas Corrêa. O esforço valeu a pena: em março, Caruso ganhou por este trabalho o Prêmio Shell do Rio de Janeiro de melhor ator.
Entrevista com Marcos Caruso: "Leleco elevou a autoestima"
Pedrinho Guimarães, seu personagem em Pega Pega, vive uma vida de aparência. Nesse sentido, ele é uma figura comum entre os brasileiros?
Pedrinho Guimarães é o milionário de berço, mas milionário mesmo. É uma minoria que não representa nada para o resto da sociedade brasileira, a não ser inveja. O que acho é que todos nós somos um pouco como Pedrinho Guimarães, proporcionalmente falando. Mesmo que ele perca quase tudo, ainda tem alguma coisa, mas tem gente no Brasil que está perdendo tudo e ficando sem nada. Quem está ganhando no país? Quem rouba, quem é solto pelo Supremo Tribunal Federal, quem não obedece à lei.
Você considera Pedrinho uma pessoa que vive de autoengano ou alguém que vê o lado bom da vida?
O cara que nunca soube o preço de um pãozinho vive tão fora da realidade, em um mundo de enganos, que para ele tanto faz se o pão aumentou, se a gasolina subiu ou se perdeu o hotel. Ele vai continuar naquele mundo de glamour falso e vida fútil. Continua achando que está no fim do arco-íris e que vai encontrar o pote de ouro.
Você tem saudade do Leleco de Avenida Brasil?
Infelizmente, no Brasil, nossa educação e cultura passam muito pela novela. Digo infelizmente porque nesses horários as pessoas podiam estar fazendo outras coisas também. Podiam ler um livro, ouvir música, ir ao cinema, conversar com a família. É legal, porque é entretenimento, mas não é só isso. O povo brasileiro tem o hábito arraigado de ver novela o tempo inteiro. Então, é bom que se coloquem informações importantes. Leleco não é um cara que está gostando da gostosa. É uma menina de vinte e poucos anos que ama verdadeiramente um cara de 60. Esse tipo de ação do personagem eleva a autoestima da população.
O ESCÂNDALO PHILIPPE DUSSAERT
Neste sábado (29/07), às 21h, e domingo (30/7), às 18h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), fone (51) 3227-5100.
Ingressos: R$ 40 (galerias), R$ 90 (camarote lateral), R$ 100 (camarote central) e R$ 120 (plateia e cadeira extra). Desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante e um acompanhante. À venda na bilheteria do teatro hoje, das 13h às 20h30min, e amanhã e domingo, das 15h até o horário de início do espetáculo. Venda online pelo site vendas.teatrosaopedro.com.br.
Ouça a entrevista de Marcos Caruso ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, desta quinta-feira (27):