O filme A Sociedade da Neve foi disponibilizado na quinta-feira (4). O longa não é o primeiro a retratar a história real do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, mas é inspirado no livro homônimo de Pablo Vierci, amigo de infância de um dos jovens que estavam no avião.
O longa da Netflix conta a história do time de rugby Old Christians, do colégio Stella Maris, que embarcou no voo em Montevidéu, no Uruguai, com destino a Santiago, no Chile, para uma competição. Além do time, estavam no avião familiares e amigos do grupo. Ao todo, 40 passageiros e cinco tripulantes embarcaram em 13 de outubro de 1972.
Quando a aeronave sobrevoava a Cordilheira dos Andes, em um dia de tempo ruim, o avião acabou colidindo com as montanhas, após perder velocidade. No dia seguinte, 18 pessoas já haviam perdido a vida, seja por conta do acidente ou do frio extremo, que chegou a −30º C.
Feridos, sem equipamentos, roupas adequadas ou alimentos, os sobreviventes improvisaram para conseguirem aguentar a situação até que fossem resgatados, mas muitos morreram antes disso. Após 72 dias nos Andes, somente 16 pessoas foram socorridas com vida.
O dia a dia nas montanhas
Isolados, os sobreviventes se abrigaram nos destroços do avião e, amontoados, tentavam se manter aquecidos. Nos primeiros dias, eles chegaram a ouvir ruídos de motores que buscavam pela aeronave, mas ninguém chegou até o local da queda. Logos nos primeiros dias, foram registradas as primeiras mortes entre os que haviam resistido ao impacto.
No oitavo dia de sobrevivência, ocorreu o fato mais marcante da história. Sem comida, os jovens tiveram de se alimentar da carne dos passageiros mortos. Eles fizeram cortes com cacos de vidros na pele dos cadáveres, endurecida pelo gelo.
Dez dias se passaram e os passageiros ouviram pelo rádio que a busca pelo avião e possíveis sobreviventes havia sido encerrada. Ao completar um mês da queda, um novo desastre assolou os sobreviventes: uma avalanche atingiu os destroços da aeronave onde os passageiros se abrigavam.
Eles foram soterrados e ficaram presos por três dias. Cavando na neve com as próprias mãos, alguns chegaram a urinar em si para evitar a paralisia dos membros congelados. Com isso, oito pessoas morreram.
Foram várias as tentativas — sem sucesso — de buscar ajuda. Em dezembro daquele ano, quase dois meses depois do acidente, o grupo escolheu os três sobreviventes com melhor preparo físico e psicológico para uma expedição. Roberto Canessa e Fernando Parrado andaram por cerca de 60 quilômetros até encontrarem outro ser humano. Antonio Vizintin os acompanhava, mas voltou ao avião antes do fim da caminhada.
A dupla encontrou o tropeiro Sergio Catalán do outro lado de um rio na província de Colchagua, no Chile, 10 dias depois da partida. O barulho da água impediu que ele os ouvisse, então Catalán jogou um papel até a outra margem. Parrado escreveu sobre o acidente e pediu socorro.
O resgate chegou de helicóptero em 22 de dezembro, no 72º dia. As equipes precisaram de dois dias para dar conta do serviço, devido às condições climáticas.
Lembranças e homenagens
Para marcar as quatro décadas da tragédia e homenagear as 45 pessoas que estavam no avião e também Sergio Catalán, uma série de exposições realizadas ao longo do ano de 2012 culminou na criação do Museu Andes 1972. O acervo, composto de fotografias, objetos originais, painéis e estátuas, ocupa 400 m² de um prédio histórico em Montevidéu, capital do Uruguai, país natal das vítimas.
Expedições já foram realizadas na área do acidente desde então, algumas inclusive com a presença dos sobreviventes. A primeira ocorreu em 1995, liderada por Daniel Fernández e Roy Harley. Hoje em dia, o piloto e guia de montanha Mauricio Guerra organiza tours com o apoio de moradores locais, saindo de Mendoza, na Argentina, para seis dias de cavalgadas ou caminhadas até a cruz de ferro fincada no chão onde o avião caiu.
Já foram produzidos três filmes e um documentário sobre a história. Os longas Os Sobreviventes dos Andes (1976), Vivos (1993) e A Sociedade da Neve estão disponíveis em serviços de streaming.