O acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) está sempre em movimento. Com mais de 5,8 mil peças, constantemente recebe novas obras. Agora, um recorte deste conjunto artístico vem a público para celebrar as sete décadas da instituição que mora na Praça da Alfândega, no coração de Porto Alegre. É a mostra comemorativa Margs 70 — Percursos de um Acervo.
A exposição será dividida em duas partes, sendo a primeira inaugurada neste sábado (23), às 10h30min, no primeiro andar do museu, em evento gratuito e aberto ao público. Ali, estarão presentes mais de 200 obras, entre pinturas, desenhos, fotografias, gravuras, esculturas e instalações — algumas, velhas conhecidas, mas que não davam as caras há algum tempo; e outras fazendo a sua estreia.
Uma delas é a pintura sobre fotografia do Barão de Santo Ângelo, de 1929, feita pelo italiano Vicente Cervásio (sem informações de nascimento e morte). Resgatada da reserva técnica do Museu Julio de Castilhos, em 2021, a peça foi restaurada e agora está à disposição do público pela primeira vez no Margs, em um paredão destinado a retratos. Próximo a ele está um autorretrato de 1823 da mesma figura histórica, que se chamava Manuel de Araújo Porto Alegre (1806-1879).
Esta parede em que estão as duas representações do Barão de Santo Ângelo é um espaço dedicado a retratos, mas com uma variedade de artistas, sejam canônicos ou atuais, com representações que vão de senhoras da alta classe do século passado a personagens de povos originários. Percursos de um Acervo é dividida por setores, com temas definidos, mas oriundos de variadas origens, linguagens e épocas.
— É um recorte, mas não o definitivo. Fugimos muito da ideia de estabelecer os destaques do acervo. Isso, em outros tempos, foi bastante importante, mas hoje o debate contemporâneo crítico chama muito a atenção para essas obras que ficam invisibilizadas. Quando você seleciona um pequeno recorte do acervo, estabelece que estas obras são as mais importantes. Mas e as outras? Cria-se, então, uma hierarquia. Hoje, problematiza-se essas questões. Temos que trazer as outras obras e tentar tensionar estas hierarquias — reflete Francisco Dalcol, diretor-curador do Margs, que assina a curadoria desta mostra com assistência de Cristina Barros.
Dessa forma, estão nesta primeira fase da exposição obras icônicas que fazem parte do patrimônio cultural do Margs, como a pintura A Dama de Branco (1906), do carioca Timótheo da Costa (1882-1922), comprada para o acervo em 1957, e Bal a Pont l'Abbé (sem informação de data), do francês Lucien Simon (1861-1945), comprada em 1956. Elas estarão lado a lado de obras contemporâneas, como Última Terra (2000), com técnicas mistas sobre tela, em grande escala, da porto-alegrense Karin Lambrecht.
E, claro, a primeira peça do acervo do Margs, a de registro 0001, Almofada Amarela (1923), do pelotense Leopoldo Gotuzzo (1887-1983), que chegou ao museu por meio de transferência da Biblioteca Pública do Estado, em 1954, está presente na exposição. A obra serve para mostrar o percurso desde o ponto inicial da instituição, quando sequer tinha sede própria, funcionando em um espaço adaptado no Theatro São Pedro, até agora, em um prédio recém-reformado e com estrutura moderna para abrigar adequadamente as mais variadas peças culturais.
Acervo em expansão
A segunda parte de Margs 70 — Percursos de um Acervo será inaugurada em 18 de maio, no segundo andar do museu, após a saída da exposição de Carlos Vergara, que ficará na instituição até o dia 5 daquele mesmo mês. Com esta etapa complementar, a mostra pode chegar a 500 peças em exibição, com o local sendo totalmente tomado por obras que fazem parte de seu patrimônio. A partir de então, ambos os espaços expositivos seguirão em exibição simultânea até 18 de agosto.
— É uma oportunidade para mostrarmos um espectro amplo de obras tanto para o público rever quanto para conhecer, entendendo que o museu tem que estar sempre renovando essa relação com os seus públicos, até porque os públicos mudam. E, também, enfatizando a importância desta dimensão pública de um museu, como é o caso do Margs — complementa Dalcol.
Nesta proposta de renovar públicos, o curador da mostra acredita que o trabalho da instituição, de agregar novas peças, criando um acervo múltiplo e relevante para o Estado, ganhou tração nas últimas décadas, reforçando o caráter do espaço como museu. No século 21, o acervo do museu dobrou de tamanho em relação ao número de obras que tinha até a virada dos anos 2000. Dalcol acrescenta que em sua gestão, de 2019 para cá, mais de 400 peças foram adquiridas. A arte segue viva, ganhando diariamente novos capítulos para a sua história, e, por isso, pede cada vez mais espaço.
Margs 70 — Percursos de um Acervo
- Abertura da primeira parte da exposição neste sábado (23), às 10h30min, no primeiro andar expositivo do Margs (Praça da Alfândega, s/n° — Centro Histórico), em Porto Alegre.
- Visitação de terça-feira a domingo, das 10h às 19h (último acesso às 18h).
- Entrada gratuita.
- Visitas mediadas para escolas e grupos devem ser agendadas pelo e-mail educativo@margs.rs.gov.br.