Um casarão dos anos 1930 revitalizado abriga um novo espaço para as artes visuais em Porto Alegre. Localizado na Rua Santo Antônio, 366, no bairro Independência, o Remanso – Instituto Cultural abriu as portas no último sábado (9). Além de receber exposições, feiras, cursos, debates e ações educativas, o local se propõe a fomentar a produção de artistas iniciantes.
Após uma semana inaugural com feiras, apresentação de Jessie Jazz, bate-papos, ciclo de palestras e uma curta mostra de arte contemporânea, entra em cartaz nesta sexta-feira (15), às 19h, a exposição coletiva Mão de Obra?. A mostra, que tem curadoria de Izis Abreu e Guilherme Mautone, poderá ser visitada até 21 de junho. A entrada no Remanso é franca.
Segundo a organização do instituto, Mão de Obra? propõe uma reflexão sobre as noções de "força de trabalho" e "força produtiva", além de refletir sobre como essas expressões aparecem nas visualidades contemporâneas a partir da singularidade poética de cada artista. A exposição conta com nomes como Leandro Machado, Virginia di Lauro, Zarro, Henrique Pasqual Santos, Lia Braga, Silvana Rodrigues, Frente 3 de Fevereiro, Biblioteca da Vila e A Minha Empregada, entre outros.
Além de sediar mostras e eventos culturais, o Remanso deverá ceder espaços gratuitos em ateliê, além de bolsas e residências artísticas. Também há salas de aula para atividades práticas e teóricas, espaço expositivo, auditório para 30 lugares e um espaço com livros sobre arte.
O Remanso começou a ser idealizado quando os artistas Guilherme Leon Berno de Jesus e Karina Nery eram colegas do Instituto de Artes da UFRGS. Os dois constataram a dificuldade que um artista visual recém-formado tem para se estabelecer diante de baixas remunerações e escassez de espaços para produzir. Então, vislumbravam um espaço com ateliês gratuitos.
O projeto começou a tomar forma com a adesão do doutor em filosofia pela UFRGS, pesquisador e crítico de arte Guilherme Mautone, que elaborou uma tabela com imóveis à venda em Porto Alegre para a sede do instituto. O local no bairro Independência chamou atenção por servir como um ponto de encontro, ficando a poucos minutos do Instituto de Artes, no Centro, e da nova sede do Museu de Arte Contemporânea do RS (MACRS), no 4º Distrito. A partir de doação de um dos fundadores, eles conseguiram comprar a casa no final de 2022.
Já o nome do instituto tem relação com uma praia de Xangri-lá que Leon frequenta desde a infância. Foi em Remanso que ele ficou durante a pandemia e onde incrementou sua produção artística. O hoje diretor-executivo do instituto destaca que o nome também significa uma porção de enseada tranquila, cujo simbolismo pode ser pensado para a arte.
— Vivemos em um tempo mais acelerado, com redes sociais e demandas da vida. Só que para a produção artística é preciso um "remanso". Precisa dar uma desacelerada — explica. — É um espaço para que artistas possam produzir em seu ritmo. Um novo tempo para que outras coisas possam surgir.
Leon destaca, ainda, que o Remanso é um local para trabalhos de artistas em início de trajetória. Ele frisa que um dos objetivos do projeto é reter aquelas pessoas que talvez fossem abandonar a carreira artística, para que consigam seguir na arte com um trabalho potente.
— Tem essa finalidade de fomento da produção artística, sobretudo, ao considerar questões sociais, de raça e de gênero — acrescenta Leon.
Expansão
Partindo da premissa de ser um instituto sem fins lucrativos, o plano é que o Remanso se mantenha por meio de cursos, locações de espaço, loja, café e leis de fomento e editais. Também estão sendo planejados programas de assinatura relacionados a arte e curadoria.
Após o casarão ter sido adquirido pelo instituto, a casa vizinha também foi comprada. O local, que está sendo revitalizado, abrigará café e salas comerciais para serem alugadas. Conforme Leon, a previsão é que as obras anexas sejam concluídas em agosto.
Os dois espaços serão interligados, compartilhando o jardim nos fundos. Aliás, a expectativa é que o jardim entre na rotina de lazer do bairro. Leon ressalta que o Remanso está aberto para os moradores ao seu redor, sendo um ponto convidativo para as pessoas visitarem e relaxarem.
— Fazemos questão de nos relacionar com a vizinhança e com as pessoas que trabalham aqui perto. Estamos abertos em horário comercial, se quiserem descansar aqui depois do almoço. Entrando aqui, quem sabe sentem vontade de olhar uma exposição ou aproveitar o café. Que a gente consiga, assim, ampliar um pouco o público — conclui Leon.
Remanso — Instituto Cultural
- Endereço: Rua Santo Antônio, 366, bairro Independência, em Porto Alegre.
- Horário de funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h.
- Entrada franca.
- Visitas mediadas e ações de arte-educação mediante agendamento pelo telefone (51) 2112-3739 ou pelo e-mail contato@remanso.org.br.