Responsável por preservar a memória da Capital gaúcha, o Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo já registrou quatro boletins de ocorrência em 2021. O espaço foi invadido para furtos e atos de vandalismo nas incidências. Localizado na Rua João Alfredo, 582, na Cidade Baixa, o museu histórico também está sem direção desde o começo de janeiro.
O cargo na coordenação do espaço está vago desde que a historiadora Letícia Bauer saiu para dirigir o Memorial do Rio Grande do Sul, no começo do ano. A instituição conta com sete servidores, dos quais três estão em regime de home office e quatro revezam em plantões em atendimento externo. No momento, a situação é descrita por eles como um constante “apagar de incêndio”. Um novo nome para a direção deveria ser indicado pela Secretaria Municipal de Cultura, porém esse impasse já se estende por mais de quatro meses.
De acordo com o secretário municipal de Cultura, Gunter Axt, houve uma reunião na prefeitura na última terça-feira (20) para avançar na definição da escolha do novo nome da direção do museu, entre outros cargos.
— O museu integra a Diretoria de Patrimônio e Memória, recém-criada a partir da antiga Coordenação de Memória Cultural. A Diretoria foi um avanço para o setor de patrimônio. A nova Diretoria, estabelecida com a reforma administrativa, reconfigurou os cargos, cuja composição demanda visão de conjunto. O governo está construindo combinação de competência técnica e aderência política e essa equação requer maturação. Mas em breve os postos serão anunciados — justificou o secretário.
João de los Santos, presidente da Associação de Amigos do Museu de Porto Alegre, aponta que os problemas administrativos podem acarretar na falta de manutenção do espaço, deixando-o com a aparência de um casarão abandonado — entre as questões de estrutura que o museu enfrenta, há portão caindo e gramado alto. Ele argumenta que os locais onde o patrimônio não é conservado acabam sendo um convite para a ação de ladrões e vândalos.
O primeiro ataque ao Museu de Porto Alegre ocorreu no dia 19 de fevereiro. Na ocasião, os invasores levaram o registro de consumo de água do DMAE, localizado no jardim. Em 29 de março, foram furtados fios de cobre do aparelho de ar-condicionado. No dia 16 de abril, roubaram três das cinco placas comemorativas que estavam postadas no muro do pátio interno. No último domingo (18), levaram a unidade externa do ar-condicionado, que é destinada ao acervo arqueológico — segundo um dos servidores do museu, o aparelho só foi instalado por força de ação do Ministério Público para preservação do acervo —, e também a grade sobre o túnel de drenagem da água da chuva.
— O que mais me assusta é esse vandalismo se transformar em uma fogueira ou a uma invasão ao próprio prédio, o que poderia acarretar perdas de acervo. Perder coisas inestimáveis, que não se tem como recuperar. Há um grande acervo fotográfico e arqueológico no museu, que caso haja uma perda, será a memória da cidade que será perdida — lamenta João.
Na última segunda-feira (19), um agente da Guarda Municipal passou fazer plantão no museu à noite, o que deve se repetir em outros prédios da Cultura, como garante Gunter.
— Estamos orçando a contratação de um serviço terceirizado de segurança, pois essa tarefa sobrecarrega a Guarda — diz o secretário.
Segundo o presidente da associação de amigos, o ideal seria que o prédio contasse com guarda fixa:
— Sem a presença ostensiva de vigilância há o risco de que possa ocorrer algum tipo de incidente.
João de los Santos destaca que a nova administração da prefeitura se mostrou receptiva ao diálogo com a associação de amigos. Para ele, seria importante a abertura de uma parceria de trabalho em conjunto do executivo com a associação.
— No momento que a prefeitura não tem condições para investir no museu, a associação de amigos poderia captar recursos. O que ocorre é que já faz pelo menos dois anos que nós formamos a associação, mas ainda estamos em uma disputa para que seja liberado nosso alvará de funcionamento. A gestão passada negou — justifica.
De acordo com o presidente da associação, a ideia seria captar investimentos para criar um padrão de segurança para o museu, como a vigilância terceirizada. Outra prioridade seria a criação de um espaço anexo para comportar o acervo do museu.
— Ano que vem Porto Alegre comemora 250 anos, e é vital que o museu esteja em pleno funcionamento para desenvolver atividades com a população — pontua João.
Questionado se há medidas em vista para garantir a manutenção do Museu de Porto Alegre, Gunter assegurou que "dedica-se no momento grande esforço para se encontrar alternativas de gestão construtivas para todos os equipamentos da Cultura". Conforme o secretário, isso começa pela discussão do financiamento da Cultura, pela recomposição do orçamento e dos fundos (Fumpach, Funcultura e Fumproarte).
— Pretendemos ampliar o leque de parcerias da Cultura. Especificamente sobre o Museu, há reformas a serem feitas no prédio principal e pretende-se a ampliação da reserva técnica (uma aspiração de muitos anos). É ainda preciso potencializar seu alcance, com maior divulgação do acervo e presença mais ativa no horizonte digital — concluiu Gunter.
Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo
Como informou a coluna Almanaque em janeiro, o museu reúne em seu acervo cerca de nove mil fotografias dos séculos 19 e 20, além de 400 antigos cartões postais. Conta com 1,3 mil itens coletados de construções prestes a serem inventariadas, a exemplo de objetos de decoração, instrumentos musicais, móveis e vestimentas. A coleção arqueológica abarca 200 mil registros da ocupação indígena anterior à colonização portuguesa, como peças de louça, cerâmica, vidro, metal, couro e pedra.
A instituição também apresenta exposições presenciais e virtuais. Por conta da situação da pandemia em bandeira preta na Capital, o museu só está atendendo à solicitação de pesquisas pelo e-mail museu@smc.prefpoa.com.br.