Duas das últimas obras do artista visual Aldo Locatelli (1915-1962) estão localizadas na Igreja Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Azenha, na Capital. Ambas foram tombadas pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) da prefeitura de Porto Alegre, levando em conta a importância do trabalho do artista no Estado do Rio Grande do Sul e de suas técnicas utilizadas. Uma dessas pinturas, a tela A Aparição da Virgem (óleo sobre tela, 1962), foi retirada do altar central da paróquia nesta terça-feira (23) para restauração.
Com dimensões de 5m40cm de altura e 3m34cm de largura, a restauração da obra de Locatelli é necessária, pois o bastidor de metal que sustenta a tela precisa ser substituído por outro de madeira. No caso, a tela corria grave risco de ruptura do suporte. As situações de conservação das pinturas da igreja também se agravaram com o passar do tempo, o que demandou uma imediata intervenção de restauro.
O processo de remoção da obra do altar começou às 8h e foi concluído às 14h. Antes, a tela foi preparada com faceamento — no caso, as restauradoras fizeram curativos nos espaços danificados da tela e em pontos como nas faces da Nossa Senhora de Lourdes e de Bernadette.
A restauração irá ocorrer dentro da igreja, em uma das laterais, já que a tela não passa pelas portas da paróquia devido ao seu tamanho. Os bancos foram recuados para fazer um fechamento com tapumes de proteção no local onde a obra estará sendo restaurada. Se tudo der certo, a estimativa é que a recuperação esteja concluída em julho.
A Aparição da Virgem foi uma obra encomendada pela igreja ao artista por ser a única paróquia Nossa Senhora de Lourdes em Porto Alegre, embora também haja a gruta no bairro Glória.
— A obra retrata a primeira aparição da Virgem Maria para Bernadette, hoje Santa Bernadette. Foi na gruta de Lourdes, na França. Para nós, esta obra tem um importante significado, pois a Nossa Senhora de Lourdes é a padroeira da paróquia. Esta tela tem todo um valor cultural e artístico, além do valor religioso — explica Ivanir Maria Argenta dos Santos, membro do Conselho Pastoral Paroquial (CPP) e integrante da equipe do projeto de restauração pela paróquia.
Além de A Aparição da Virgem, também está prevista a recuperação de uma segunda tela de Aldo Locatelli, intitulada Sagrado Coração de Jesus. Com dimensões de 5m73cm por 2m18cm, a pintura a óleo está situada na lateral esquerda da nave. Trata-se da última obra de Locatelli, que ficou inacabada em vida. No extremo direito da nave está São José, pintada pelo espanhol José Riera Sicart (1911-2007).
— A sagrada família está representada na paróquia: Maria, José e Jesus. É a nossa referência, é o aconchego do nosso lar. A família que nos acolhe e nos representa — destaca Ivanir.
A equipe responsável pela recuperação de A Aparição da Virgem é formada por Leila Sudbrak, Maria Cristina Ferrony e Vivian Lockmann. O trabalho delas é baseado nos princípios internacionais que regulamentam a restauração de bens culturais, dentro do padrão de conservação museológica, de patrimônio da humanidade, preconizados pelo Conselho Internacional de Museus.
O projeto de restauro tem patrocínio da Sulgás e da Medlive, por meio do financiamento Pró-Cultura do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A iniciativa é realizada pela Mitra da Arquidiocese de Porto Alegre, sob a coordenação geral da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e o acompanhamento da Cúria Metropolitana de Porto Alegre, enquanto a Cult Assessoria e Projetos Culturais responde pela gestão.
No entanto, para viabilizar a restauração das outras duas telas, a paróquia avisa que é fundamental a captação de saldo do valor aprovado. As empresas interessadas em patrocinar o projeto podem contatar a captadora Jac Sanchotene pelos telefones (51) 3279-5424 e (51) 99880-9129.
Aldo Locatelli
Nascido em Bérgamo, na Itália, em 1915, o pintor e muralista chegou ao Estado em 1948 para realizar afrescos na Catedral de Pelotas. Ele foi um dos fundadores da Escola de Belas Artes de Pelotas no ano seguinte.
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Nos 14 anos em que viveu no Rio Grande do Sul, Aldo Locatelli decorou diversas igrejas e espaços públicos que se tornaram patrimônios preciosos do Estado. O pintor costumava se pautar na arte Renascentista para os afrescos que realizava. Ele também executou valiosas telas de cavalete, hoje pertencentes a museus, instituições e coleções particulares.
Em 1950, fixou residência em Porto Alegre, onde passou a lecionar na então Escola de Belas Artes da UFRGS. No ano seguinte, começou a trabalhar na Igreja São Pelegrino, em Caxias do Sul, onde deixaria a sua obra-prima: a Via Sacra.
Na Capital, ele foi autor de painéis no antigo aeroporto Salgado Filho e na Reitoria da UFRGS, além dos afrescos que decoram o Palácio Piratini. Morreu aos 47 anos em Porto Alegre, em 1962.