Com um modelo totalmente acessível a pessoas com deficiência, a exposição virtual Presença na Ausência será lançada na segunda-feira (18). A mostra online, que tem como objetivo refletir sobre diferentes aspectos da vida durante a pandemia, traz cerca de 50 obras de 22 artistas. São nomes do Rio Grande do Sul, do Paraná, de São Paulo, do Canadá e até mesmo da China.
— Acho muito interessante que essa exposição tem artistas de lugares tão diferentes com obras que dialogam entre si. Faz com que percebamos que apesar da distância, não somos tão diferentes assim, sabe. Que temos mais coisas em comum do que a gente pensa — afirma a designer Sheisa Bittencourt, uma das idealizadoras do projeto.
Um dos trabalhos presentes é Teu Cheiro em Mim. Nele, Magna Sperb mistura fotos de família com os frascos de perfume que eram usados por sua mãe. Mariana Corteze, Marcela Novaes, Piper Maru, Zhang Qinzhe, José Maçãs de Carvalho e Pedro Santos também participam da exposição.
Apresentada pela Feevale, a mostra nasceu do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão da universidade. Sheisa e sua irmã, a artista France Amaral, decidiram acatar os questionamentos feitos por sua orientadora do doutorado e fazer um levantamento sobre exposições e museus virtuais. Com as diretrizes de acessibilidade para o conteúdo da web (WCAG, na sigla em inglês) em mãos, elas descobriram que nenhum dos 20 sites pesquisados oferecia uma experiência completa para quem tem deficiência, nem mesmo o famoso Museu do Louvre. De fato, as mostras não completavam critérios suficientes nem para serem classificadas no ranking de média acessibilidade (AA).
— Começamos a pesquisar sobre isso e ficamos chocadas. As exposições de arte virtuais não são acessíveis, não tentam proporcionar uma experiência completa. O que a gente tenta fazer é proporcionar o máximo dessa experiência física — diz Sheisa.
O Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova York, tem sido uma das referências das pesquisadoras. No Estado, France aponta que o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) também está sendo utilizado como parâmetro, embora não tenha o recurso 3D. Para isso, explica, seria necessário ao menos um arquiteto e um programador, caracterizando-se como um trabalho com custo elevado. Ainda assim, a instituição tem o núcleo educativo, onde são elaboradas audiodescrições das obras de arte.
Para garantir acessibilidade em Presença na Ausência, foi reunida uma equipe multidisciplinar com profissionais da área de arte, tecnologia da informação, psicologia, arquitetura, entre outros. Além disso, a mostra também conta com consultores cegos para orientar cada etapa do trabalho. As doutorandas consideram que a exposição estará em "beta" (versão de testes) até o final, uma vez que há uma caixa de sugestões para que usuários possam enviar mensagens com opiniões sobre como melhorá-la.
— As pessoas perguntam: "Ah, é uma exposição para pessoas com deficiência?" Não, não é uma exposição para pessoas com deficiência, é uma exposição inclusiva para pessoas com deficiência, pessoas essas que inclusive não deveriam ser excluídas em hipótese nenhuma — aponta France.
Questionadas sobre como mudar a realidade da inclusão social em termos de acessibilidade no mundo das artes visuais, a resposta foi uníssona: políticas públicas.
— A gente tá percebendo a quantidade de recursos que despende para tornar o conteúdo acessível. É difícil, mas é necessário. Mas se uma equipe como nós, de voluntários, consegue fazer, uma instituição que tem tanto dinheiro quanto o Louvre com certeza teria condições para fazer isso. Enquanto não tivermos políticas públicas, enquanto não tiver a população pressionando, enquanto não tiver mais projetos como o nosso que denunciam: "Ô Louvre, presta atenção nas pessoas com deficiência", isso não vai mudar — avalia France.
A mostra Presença na Ausência fica disponível no site, e poderá ser acessada gratuitamente até o dia 18 de junho de 2021. A exibição conta com os recursos de audiodescrição, libras e legendas, sendo compatível com um leitor de tela. Além disso, a navegação pode ser realizada em português e inglês.
