Um Salvator Mundi, quadro do ateliê de Leonardo da Vinci que estava exposto em uma igreja em Nápoles, na Itália, e cujo desaparecimento passou despercebido devido à pandemia de covid-19, foi encontrado no apartamento de um napolitano.
A pintura roubada, que representa um Cristo "salvador do mundo", estava no museu da Basílica de São Domingos Maior. A instituição faz parte de um famoso complexo monástico no centro histórico da cidade italiana. Segundo o promotor de Nápoles, Giovanni Melillo, nenhuma denúncia de furto foi registrada.
— Entramos em contato com o responsável pelo complexo, que não tinha conhecimento do desaparecimento porque a sala onde fica o quadro não era aberta há três meses — explicou.
Os museus italianos abriram muito pouco nos últimos 12 meses, em razão da pandemia de coronavírus. Segundo imagens divulgadas pela polícia, a pintura era guardada em uma ampla sala com enormes portas de madeira, com fechadura antiga e a chave era mantida em um cofre.
A investigação está em andamento, mas "é plausível que se trate de um roubo patrocinado por uma organização que lida com o comércio internacional de arte", acrescentou o promotor em entrevista à imprensa napolitana, na noite de segunda-feira (18).
A obra foi encontrada no último sábado (16) na parte superior de um armário, na casa de um comerciante de 36 anos, que afirma tê-la comprado em "um mercado de pulgas". Um rifle foi apreendido em seu quarto.
Alfredo Fabbrocini, que chefiou a operação policial, referiu-se à investigação como "complexa" e expressou sua "grande satisfação por ter restituído um bem tão importante à cidade de Nápoles".
A igreja de São Domingos Maior, que já foi roubada no passado, guarda um conjunto de obras importantes. Algumas já foram expostas em museus de Nápoles, como é o caso de pinturas de Caravaggio, Rafael e Ticiano.
Histórico
Em 2017, um Salvator Mundi atribuído a Leonardo da Vinci foi comprado por US$ 450 milhões pelas autoridades dos Emirados Árabes Unidos, informou na época o Museu do Louvre de Abu Dhabi.
Essa pintura de 65 x 45 cm, na qual Cristo emerge das trevas — abençoando o mundo com uma mão e segurando um globo transparente com a outra — foi atribuída em 2010 a Leonardo da Vinci, após exaustivas investigações ainda questionadas por alguns especialistas.
Em 2019, porém, quando França e Itália comemoraram 500 anos do artista italiano, não conseguiram encontrar a obra. A pintura localizada em Nápoles é um óleo sobre madeira, atribuído a outro artista da escola do grande mestre quando este voltou a viver em Milão, no final da sua vida, no início do século XVI, afirma o museu da basílica em seu site.
A obra provavelmente foi comprada em Milão por um conselheiro e embaixador de Carlos V.
O Salvator Mundi, atribuído a Leonardo da Vinci e o do museu napolitano, foram exibidos juntos em Nápoles durante uma exposição organizada por ocasião da visita do papa Francisco à cidade, em 2015.
A iconografia do Salvator Mundi se inspira em uma representação de Cristo da época bizantina, retomada em primeira instância por pintores da região de Flandres.