Nas palavras do artista gráfico Liniers, o show que ele e Kevin Johansen trazem ao Auditório Araújo Vianna nesta quinta-feira (8) "é como um exército que ataca por dois flancos": por um lado, vêm as investidas da voz grave e dos acordes de violão do músico e, por outro, vêm as cores e os traços do ilustrador, criando uma história visual das músicas. A feliz "vítima" dessa batalha é o público, que recebe um concerto ilustrado (veja detalhes sobre ingressos ao final).
Johansen explica:
— Creio que há uma licença poética entre o visual e a música. Liniers faz uma coisa que não se pode escutar, e eu faço algo que não se pode ver, porque a música é invisível. Aí está o equilíbrio do nosso espetáculo.
Parceria de mais de 20 anos
Há mais de 20 anos, os argentinos compartilham uma amizade e uma afinidade criativa que chega ao ápice sobre o palco. Nos últimos 15, o show percorreu diversos países dos continentes americano e europeu (no dia em que a dupla conversou com GZH, tinha recém voltado de uma temporada na Patagônia).
A parceria já rendeu livros e DVDs gravados ao vivo, o mais recente deles Desde que te Madrid, captado em um teatro da capital espanhola e recheado de diálogos entre os artistas e 14 músicas. A turnê, que chega pela primeira vez ao Brasil, dará origem a um novo DVD ao vivo ainda em 2025.
Canção inspirada em Porto Alegre
Boa parte dos sucessos da carreira de Johansen deve estar no repertório que será apresentado ao público gaúcho, como é o caso de Desde que te Perdí, Cumbiera Intelectual e outras. Também não vai faltar a música inspirada na capital gaúcha, Luna sobre Porto Alegre, escrita há cerca de 20 anos. O músico relembra:
— Era uma das primeiras vezes que eu tinha ido tocar em Porto Alegre. Quando voltei a Buenos Aires, morreu uma amiga muito querida, e essa música simplesmente saiu, dizendo: "Não sei se a lua está sobre Porto Alegre ou se Porto Alegre está sobre a lua". Fala sobre estar em um momento confuso, se sentir perdido, mas gostar de estar assim e agradecer por estar vivo e tendo esse tipo de problema. Essa amiga já não estava mais.

O show é ao mesmo tempo performance e conversa bem-humorada entre amigos, que são donos de uma ironia apurada. O improviso é parte essencial do espetáculo, de forma que a plateia está livre para tentar pedir alguma música imprevista, para desespero do cartunista.
— Kevin gosta de improvisar a setlist, então tem vezes que começa a cantar uma música que eu não conheço, e eu tenho que pensar rápido e encontrar algo na minha cabeça para desenhar. Mas me divirto muito nesse show, por alguma razão incompreensível — brinca Liniers.
Leia a entrevista:
Liniers, você ilustra enquanto a música de Kevin vai acontecendo. Fica nervoso com a velocidade com que tem que criar os desenhos?
Liniers: O que eu realmente gosto é que nos shows há uma coisa que não encontro no meu estúdio, que é adrenalina. O olhar do público gera em mim uma tensão, e a velocidade com que tenho que desenhar faz com que saia um desenho mais expressivo, o que eu gosto. Até já perguntei ao Kevin: "Por que você não faz um solo de guitarra de 10 minutos? Aí eu faço um desenho mais legal". Mas ele só quer fazer músicas de três, quatro minutos. Você sabe como é o Kevin, ele gosta das coisinhas elegantes.
Por sinal, o que podemos esperar do repertório?
Kevin: Vamos fazer de tudo, claro. O roteiro é muito flexível, tem improviso, eu adoro fazer show assim. É muito fácil fazer esse espetáculo com o meu amigo Liniers porque ele não é músico. Sou muito grato por estar trabalhando com alguém que não é músico (risos).
Liniers: De fato, algo que fica muito evidente quando invertemos os papéis no show — o Kevin vai desenhar e eu vou tocar meu ukulele e cantar — é que eu não sou músico.
Qual é a intenção ao trazer temas leves e assuntos cotidianos para algumas músicas, com trechos que falam “Ops, me apaixonei de novo” ou “Sentando num banquinho esperando o trem, a guacamole”?
Kevin: Acredito que a música contém tudo. Assim como no teatro grego temos a comédia e a tragédia, o riso e o choro, eu acredito que a música contém essa dualidade. Há profundidade na risada, na ironia bem ponderada. Acredito muito na frase de Oscar Wilde que diz: “To look like a fool is the secret of a wise man”, algo como: "Parecer um tolo é o segredo de um homem sábio". Sigo buscando isso.
Vocês já estiveram em Porto Alegre outras vezes, separados. Que lembranças guardam daqui?
Kevin: Eu já estive muitas vezes em Porto Alegre, mas faz muitos anos que não vou, então vai ser especial voltar para aí e cantar minha música Luna sobre Porto Alegre. É uma linda forma de voltar, com meu parceiro Liniers.
Liniers: Já estive em Porto Alegre para apresentar o meu primeiro livro. Tenho um amigo que é o Fabio Zimbres, um desenhista que adoro. Durante o lançamento do livro, comentei que gosto muito de fazer esboços, que em espanhol se diz bocetos. Falei: "Tenho um caderno cheio de bocetos", e as pessoas deram muita risada. Sou bem popular em Porto Alegre (risos).
Qual foi o melhor momento desta turnê até agora?
Liniers: Eu nunca tinha imaginado na minha vida que eu, um cartunista, ia fazer um show. Mas se hoje fosse eu quem estivesse na plateia de um show que tem um ilustrador em cima do palco desenhando, teria que ir embora de tanta inveja que me daria do filho da p*** que tem o trabalho dos sonhos. E com um amigo que admiro cantando enquanto eu desenho. E todas as canções ele canta para mim, não é para o público (risos).
Música e arte visual sempre combinam?
Liniers: Parando para pensar em The Velvet Underground e Andy Warhol, e Gerald Scarfe com The Wall, do Pink Floyd, para além das capas dos discos, sempre houve uma amizade entre o mundo gráfico e o mundo da música. Há uma frase muito linda de Jean-Michel Basquiat que diz que a arte é como decoramos o espaço, e a música é como decoramos o tempo.
Ótima frase, vamos dizer que ela é do Liniers, não do Basquiat...
Liniers: Sim, é preciso roubá-la! (risos).
Vai haver convidados no show? Músicos brasileiros, gaúchos quem sabe?
Kevin: Vamos ver. Nós somos muito tímidos com nossos ídolos. Eu tive a oportunidade de fazer parcerias com Paulinho Moska, (Maria) Gadú, Paula Toller, Arnaldo Antunes, Kassin e muitos mais. Eu convidaria todos porque os adoro. O Brasil é um grande império musical. O que tocamos no violão aprendemos muito da música brasileira. Eu mesmo tenho uma influência muito presente da música brasileira, uso acordes e harmonias que são muito próprios do Brasil. Vamos ver.
Que mensagem vocês deixam para quem vai assistir vocês em Porto Alegre?
Kevin: É muito simples: somos dois amigos sobre um palco fazendo poesia e amizade.
Liniers: É como eu sempre digo: decorando o espaço e o tempo, porque "a arte decora o espaço, e a música o tempo" LINIERS, 2025 (risos).
Kevin Johansen + Liniers
- Nesta quinta-feira (8), às 21h, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre. Abertura da casa às 19h30min.
- Ingressos a R$ 300 (plateia baixa lateral), R$ 380 (plateia baixa central) e R$ 480 (plateia gold), via Sympla.
- Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante e acompanhante