Cada vez mais presentes nos palcos, teatros e museus, as mulheres não só apresentam o próprio trabalho artístico como constroem, com esses projetos, sentidos sobre sua situação na sociedade. Neste Dia Internacional da Mulher, espaços culturais e casas noturnas da Capital abrem as portas ao público para que se prestigie a contribuição e o talento dessas artistas.
Se, por um lado, elas se regozijam da condição de mulher na música e na dança, também provocam questionamentos sobre a opressão e a violência em debates, textos, encenações e exposições. Reunimos atrações culturais que ocorrem nos próximos dias, em uma programação que garante que a atenção da plateia será toda delas.
Ciranda de atividades
A programação do Mulheres em Ação, no Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues (Av. Erico Verissimo, 307), realiza, entre sexta (8) e domingo (10), espetáculos, debates, feiras e roda de bordado para reunir mulheres. Entre os destaques, estão um bate-papo sobre corpo, gênero, política e arte, às 19h, com a artista Andressa Cantergiani, a socióloga Enid Backes e as bailarinas Rita Rosa e Liana Alice na Sala Álvaro Moreyra. A Mostra de Dança Agora Aqui São Elas leva ao palco do Teatro Renascença, às 20h30min, apresentações de diversas artistas. Haverá sessões do espetáculo A Culpa Não É da Moça, do Tulipa Coletivo de Dança, no sábado, às 20h, e no domingo, às 19h. A programação é gratuita, com exceção dos espetáculos, cujos ingressos custam R$ 20 (sexta) e R$ 30 (sábado e domingo), e podem ser adquiridos na bilheteria, uma hora antes de cada apresentação.
Reflexões no teatro
Reconhecido espaço de resistência durante a ditadura, o Teatro de Arena (Av. Borges de Medeiros, 835) sedia uma série de atividades. Nesta sexta (8), às 20h, o painel Dia de Luta: Violência, Arte e Denúncia apresenta um trecho do espetáculo Arena Selvagem, seguido de debate sobre a violência contra a mulher. No sábado (9), às 20h, o Coletivo As DramaturgA fará leitura da obra CROMO SOMOS, de Clarisse Ilgenfritz, junto a atores que encenaram a peça na década de 1980 — a obra foi censurada em 1985. No domingo (10), às 18h, o grupo As Tubas, só de mulheres, apresenta um espetáculo musical. Os ingressos custam R$ 50 na hora. Às 20h, o painel A Mulher Negra na Poesia reúne as poetas Lilian Rocha, Fátima Farias, Delma Gonçalves, Isabete Fagundes, Carmem Lima e Ana dos Santos, integrantes do Sopapo Poético.
O espaço das negra
Um dos debates mais reivindicados desde a chamada primeira onda do feminismo, a situação das mulheres negras na sociedade é o bate-papo que ocorre nesta sexta (8), às 15h, no Auditório do Margs (Praça da Alfândega, s/nº), com entrada franca. O encontro coloca frente a frente a jornalista Carol Anchieta, repórter do Jornal do Almoço, da RBS TV, que fala sobre a importância da mulher negra na comunicação, e a coordenadora do Núcleo de Curadoria do Margs, Izis Abreu, que traz para a conversa a representação da mulher negra nas obras da artista plástica Maria Lídia Magliani, a primeira negra a graduar-se na Escola de Artes da UFRGS.
— Falar sobre feminismo negro ajuda a desconstruir a ideia de uma mulher universal. Historicamente, as mulheres negras sofrem opressões diferentes das brancas — observa Izis.
Evento com temática parecida ocorre no domingo (10), no Teatro de Arena, com poetas do Sopapo Poético (confira no bloco acima).
Vidas reais no cinema
Uma maratona de filmes que retratam a vida de artistas mulheres chega à tela da Cinemateca Paulo Amorim (Rua dos Andradas, 736). Nesta sexta (8), Nicole Kidman vive a fotógrafa norte-americana Diane Arbus em A Pele (2006), de Steven Shainberg. Sábado (9) é a vez de conferir detalhes da vida e da carreira da pintora mexicana Frida Kahlo, interpretada por Salma Hayek em Frida (2002), de Julie Taymor. No domingo (10), Piaf: Um Hino ao Amor (2007), de Olivier Dahan, traz Marion Cotillard no papel da cantora francesa que virou ícone no país. Na terça (12), Nicole Kidman retorna à programação, ao lado de Julianne Moore e Meryl Streep, como a escritora Virginia Woolf em As Horas (2002), de Stephen Daldry. Por fim, na quarta-feira, a história de uma das figuras mais marcantes da moda é contada em Coco Antes de Chanel (2009), de Anne Fontaine, com Audrey Tautou no papel principal. Todas as sessões ocorrem às 16h30 e os ingressos podem ser adquiridos na hora a R$ 4.
Conflitos no palco
Um conflito entre gêneros está em discussão na peça Milhões Contra Um, com apresentação sexta (8), sábado (9) e domingo (10), às 20h, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736). Inspirada no texto O Doido e a Morte (1923), do português Raul Brandão, a peça do Grupo Oazes traz uma empresária poderosa que ameaça um homem com uma bomba enquanto coloca em xeque o comportamento masculino que a incomoda.
— Ela traz tudo o que ele representa como homem machista e que precisa ser destruído... Ou não. Ela desconstrói esse homem com a plateia. É potente, emocionante — adianta Lisiane Medeiros (foto), que interpreta a personagem estrategicamente chamada de Milhões.
Milhões Contra Um segue em cartaz até 31 de março, com ingressos na hora a R$ 30.
As vozes são delas
As mulheres também tomam conta dos microfones em bares e casas noturnas. Algumas, homenageando outras cantoras. Camila Toledo e a Ponte prestam tributo a divas do jazz e do soul nesta sexta (8), às 22h, no London Pub (Rua José do Patrocínio, 964), com ingressos na hora a R$ 25. Musas do rock são celebradas por Izmália no Gravador Pub (Conde de Porto Alegre, 22), às 21h desta sexta, com repertório que passa por Janis Joplin, Rita Lee e Amy Winehouse — ingressos na hora a R$ 20. Ainda na sexta, em Canoas, o grupo 50 Tons de Preta toca clássicos do samba e da MPB no Canoas Shopping (Av. Guilherme Schell, 6.750), às 20h, com entrada franca. Quem gosta de samba e prefere ficar na Capital pode conferir o tributo a Clara Nunes e Dona Ivone Lara prestado no Espaço Cultural 512 (Rua João Alfredo, 512) pelo trio Andréa Cavalheiro, Glau Barros e Maria Luiza, com show às 23h e ingressos na hora a R$ 25. No sábado (9), a cantora transexual Valéria Houston se apresenta no Espaço Cultural 512, às 23h, com ingressos a R$ 25.
Mostras e exposições
Uma série de exposições que valorizam o trabalho de artistas mulheres entrou na programação de museus da Capital, todos com entrada gratuita. No Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (Rua dos Andradas, 1.223), a exposição Feminicidas: O Machismo que Mata exibe um painel com 12 telas de Graça Craidy inspiradas em casos reais de feminicídio. A visitação é de terças a sábados, entre 10h e 19h, até 11/5. Somente nesta sexta (8), das 19h às 21h, o Museu de Arte Contemporânea (MACRS) apresenta a intervenção urbana Visíveis: Mulheres Contemporâneas, com obras de Andressa Cantergiani, Rochelle Zandavalli, Isabel Ramil, Julha Franz (foto) e Mariani Pessoa. Os trabalhos serão projetados na fachada do prédio ao lado da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736), e podem ser conferidos a partir do Jardim Lutzenberger da CCMQ. No Memorial do Rio Grande do Sul (Rua Sete de Setembro, 1.020), duas exposições relembram as marcas que as mulheres deixaram na história. Em Adelitas, a artista Cinthya Verri presta homenagem às mexicanas que pegaram em armas no início do século 20 e foram queimadas vivas por Pancho Villa. A abertura é sábado (9), às 16h, e a exposição segue até 28/4, de terças a sábados, das 10h às 18h, e aos domingos, das 13h às 17h. Em Ocupação Feminista: O Tempo Não Para – Memórias do Movimento Feminista no Rio Grande do Sul, com abertura também no sábado, às 15h, é possível conferir materiais gráficos, como panfletos e cartazes, usados em manifestações. Visitação até 23/3.
Sarau sobre lutas
Idealizadores do Sarau Voador, o jornalista Roger Lerina e a atriz Deborah Finocchiaro convidam quatro mulheres para falar sobre o esforço que fizeram para abrir espaço em suas carreiras. O encontro tem entrada gratuita e ocorre nesta sexta (8), às 19h, no Teatro Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665), com a jornalista Daniela Sallet, diretora do documentário Substantivo Feminino, a jornalista Carol Anchieta, repórter da RBS TV (que também fala sobre feminismo negro no Margs), a violinista Júlia Reis e a dançarina Manoela Santos. O tema é inspirado no documentário de Daniela, que retrata a luta de duas gaúchas que militaram pela causa ambiental no Brasil.
— No caso do Sarau, (vamos falar sobre) a força feminina em defesa da cultura, de lutar por seu espaço na dança, música, literatura, cinema — reforça Deborah.