A 11ª Bienal do Mercosul, em cartaz em Porto Alegre e Pelotas desde o início de abril, está se aproximando do encerramento, em 3 de junho. Não será possível, entretanto, conferir a mostra no próximo domingo.
Devido à informação divulgada pela EPTC de que não haverá transporte coletivo no domingo, o evento não poderá funcionar normalmente sem a equipe de apoio. A mostra e as atividades paralelas marcadas para o dia 27 de maio estão canceladas.
Se você ainda não conseguiu visitar as exposições, confira algumas obras que você não pode deixar de ver, de acordo com artistas e curadores de Porto Alegre:
Obra: Ebb & Flow, 2018, de El Anatsui (Anuako, Gana, 1944)
Comentário de Denis Rodriguez, artista e curador: "Outubro de 2017, Museu Nelson-Atkins, Kansas City. No meu primeiro encontro com o trabalho de El Anatsui, o forte brilho da trama me imantou em direção à obra. Ao me aproximar, constatei que era tecida com embalagens de alumínio, tampas de garrafa e malha de ferro. Material encontrado, coletado e reciclado, convertido em uma escultura flexível. Prefiro me referir a essas imensas peças como tapeçarias. Mesmo sem teares, o estúdio de Anatsui se assemelha aos estúdios de tapeceiros – muitas pessoas executando procedimentos semelhantes com resultados sempre singulares, únicos.
Ebb & Flow (ou Fluxo e Refluxo, em português), a obra em exibição nesta Bienal do Mercosul, não é muito diferente de Dusasa, o trabalho que vi em Kansas. Suas obras interrogam a história do colonialismo e estabelecem conexões entre consumo, desperdício e meio ambiente, mas no centro está a linguagem formal única que distingue sua prática: o efeito têxtil de suas esculturas.
Esse grande artista de Gana, que cria na Nigéria, tem percorrido as principais instituições do mundo da arte, e, em 2015, recebeu uma das maiores honrarias, o leão de ouro da Bienal de Veneza, pelo conjunto de sua obra.
Revestir o mundo com suas tramas de material descartado, transformar o lixo em cultura material que exige cuidado e que a cada dia escala em valor no bilionário mercado internacional da arte contemporânea... Admirar o trabalho de El Anatsui é se colocar de frente às contradições da vida social e política dos nossos dias."
Obra: A Última Aventura - Fordlândia, 2011, de Romy Pocztaruk (Porto Alegre, 1983)
Comentário de Carlos Carvalho, fotógrafo e diretor do FestFoto: "A Bienal consagra a gaúcha Romy Pocztaruk como uma artista contemporânea que enfrenta os debates mais amplos e se coloca no patamar de artistas consagrados internacionalmente. É sintomático que, no Santander Cultural, suas fotos da série A última Aventura – Fordlândia ocupem sozinhas uma das paredes e, na lateral, haja a presença do norte-americano Alec Soth, membro da Agência Magnum e um dos nomes de maior evidência na fotografia contemporânea. O inventário visual da decadência física do projeto tentado por Henry Ford na Amazônia na década de 1930 exibido na obra de Romy encontra uma resposta visual dos personagens desinteressados de Soth. No espaço expositivo, o fracasso da monumentalidade da Fordlândia reforça os personagens na obra de Soth."
Obra: The Park (Le Park), 2015, de Randa Maroufi (Casablanca, Marrocos, 1987)
Comentário de Bernardo de Souza, curador e diretor artístico da Fundação Iberê Camargo: "O filme, rodado em um único plano-sequência, apresenta uma situação limite: o momento exato em que um ato de violência está prestes a materializar-se. A cena, orquestrada em diferentes planos e espaços, é congelada, apresentada ao espectador como um momento em suspensão, do qual somos observadores privilegiados, uma vez que a câmera passeia pelo cenário, nos permitindo antecipar o que em uma fração de segundos – não fosse a ação estar em pause – se tornaria um ato brutal. O grupo de "atores" neste espaço são jovens muçulmanos de um gueto em Casablanca, e, as imagens, snapshots de suas rotinas."
Obra: International Anthem, 2016, de Luis Camnitzer (1937, Lubeck, Alemanha) e Gabo Camnitzer (1984, Nova York, Estados Unidos)
Comentário de Gabriela Motta, pesquisadora, crítica e curadora: "Entrar no Memorial e ver dezenas de caixas de som empilhadas e emaranhadas, ouvir a estranha orquestração que sai dos alto-falantes, já gera um monte de ideias. Conversando com uma monitora, soube que o trabalho é a reunião de trechos de dezenas de hinos nacionais. São partes instrumentais desses hinos que saem dessas caixas, compondo uma espécie de hino mundial... Mas, ao mesmo tempo, reproduzindo nesse hino a desigualdade em termos de representatividade das nossas diferenças. Umas sobre as outras, umas com som mais alto (forte) do que outras, algumas estragadas; são um prato cheio para pensarmos nas diásporas contemporâneas, na dificuldade em reconhecermos que somos todos, afinal, uma mesma espécie animal."
Obra: ALCANCE, 2018, de André Severo (Porto Alegre, 1974)
Comentário de André Venzon, artista visual, curador e coordenador da Galeria Ecarta: "Entre potentes vídeos de mares revoltos e delicadas pinturas de marinhas clássicas, aparece-nos um panorama magnífico em uma sala soturna como as profundezas oceânicas. De um lado, os vídeos, imagens de lugares que nos são conhecidas da memória, do outro, as pinturas, temas de antes, paisagens amputadas de continentes e pessoas. André Severo é um artista que anda, e a obra que apresenta na Bienal é fruto deste vagar constante de um artista e também de um povo que nunca se vê parado. Ao abrir um caminho de perseverança, em meio a mares seus e de outros, o artista nos permite alcançar poeticamente proféticas travessias, tão eternas como o culto à natureza e à arte."
11ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
- Visitação às exposições: de 6 de abril a 3 de junho, conforme o horário de visitação de cada local (confira no mapa abaixo).
- Locais: Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), Memorial do Rio Grande do Sul, Santander Cultural, Praça da Alfândega, Igreja Nossa Senhora das Dores, Comunidade Quilombola do Areal e Casa 6 (Pelotas).
- Curadoria de Alfons Hug e curadoria adjunta de Paula Borghi.
- Entrada franca.
- Mais informações: bienalmercosul.art.br
Próximas atividades paralelas da 11ª Bienal do Mercosul:
- Sexta de Seminários (programação em homenagem ao dia Internacional da África)
- Sexta-feira (25/5), no Auditório do Margs: às 16h, O Devir do Negro na África e na Diáspora, com os antropólogos Hippolyte Brice Sogbossi, do Benim, e José Carlos Gomes dos Anjos, de Cabo Verde (mediação de José Rivair Macedo); às 18h, A Expressão Filosófica da Arte, com Juleandra Lima, professora da Nova Acrópole.
- Sábado de Música
- Sábado (26/5), na Praça dos Cofres do Santander Cultural: às 17h, show de Pedro Miranda (voz e pandeiro), Luís Barcelos (bandolim e cavaquinho), Mathias Pinto (violão 7 cordas), Guilherme Sanches (pandeiro) e Luciano Krolow (flauta e sax).
- Domingo de Criação
- Domingo (27/5), em frente ao Memorial do RS, Praça da Alfândega: às 11h, apresentação da Banda Municipal, com regência de Davi Coelho da Rosa; às 12h, Maculelê, com Meninas Crespas e Afroativos; às 14h, espetáculo Eu Não Sou Macaco, coprodução Usina do Trabalho do Ator RS; às 15h, Coral Fecors apresenta Coralito (coral com cantores de várias partes do RS), sob regência de Ione Goetz.
- Praça da Alfândega (Rua Siqueira Campos, 2.529): performance Standard Time, de Mark Formanek, de quinta a domingo, das 10h às 19h
- * Todas as atividades são gratuitas
Mapa da 11ª Bienal de Artes do Mercosul
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