Com grande parte das obras concentrada no Margs, no Memorial do RS e no Santander Cultural, a 11ª Bienal do Mercosul tomou conta da Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre. No entanto, a exposição também pode ser vista em outros três espaços: a Igreja Nossa Senhora das Dores recebeu a instalação sonora Vozes Indígenas e Nigerianas, enquanto o Quilombo do Areal, no bairro Menino Deus, na Capital, e a Casa 6, em Pelotas, exibem o resultado das residências dos artistas Camila Soato e Jaime Lauriano, respectivamente. Abaixo, saiba mais sobre essas mostras:
Resgate de idiomas indígenas na Igreja
Durante a Bienal, o silêncio no interior da Igreja Nossa Senhora das Dores é quebrado pela instalação sonora Vozes Indígenas, composta por 14 caixas de som brancas – em cada uma, ouve-se um idioma em perigo de extinção. A concepção da instalação é do curador da Bienal, Alfons Hug, que selecionou oito idiomas nigerianos e oito ameríndios e convidou 16 artistas ou duplas de artistas para definirem os textos que seriam lidos. Nas traduções, é possível ver que se tratam de fábulas, histórias de família, orações, depoimentos sobre a vida cotidiana e até peças de teatro.
– Com cada língua extinta, desaparece não só um legado linguístico valioso, mas também uma visão genuína de mundo e do meio ambiente – explica o curador.
Hug lembra que é bastante comum usar igrejas como espaços da arte contemporânea, citando a Bienal de Veneza e galerias em Berlim. No caso da Igreja das Dores, há também um motivo histórico:
– É o local ideal para esta instalação não só porque uma nota espiritual é bem-vinda quando se trata de línguas, mas porque a igreja foi construída por escravos.
> Igreja Nossa Senhora das Dores – Rua dos Andradas, 587, no centro de Porto Alegre. Visitação de terça a sábado, das 10h às 17h (exceto 5/5), e domingo, das 13h às 17h
Força feminista no Quilombo do Areal
A artista brasiliense Camila Soato realiza pinturas que misturam imagens cotidianas encontradas na internet com quadros célebres da história da arte, discutindo questões de gênero e outros discursos predominantes. No Margs, ela expõe 10 pinturas nesta linha. Mas no Quilombo do Areal, em Porto Alegre, os espectadores são convidados a ver os trabalhos desenvolvidos pelos moradores do local a partir da orientação de Camila. Sua residência artística consistiu em uma oficina de pintura para um grupo de cerca de 20 moradoras do Areal, todas mulheres com idades entre 10 e 80 anos.
– A comunidade Areal da Baronesa é reconhecida por ser construída principalmente pela força feminista passada de geração a geração, estruturada a partir da força de trabalho das mulheres que, além de donas de casa, eram arrimo da família, em sua maioria lavadeiras – comenta a curadora adjunta Paula Borghi.
> Quilombo do Areal – Av. Luiz Guaranha, 2, bairro Menino Deus, Porto Alegre. Visitação em todos os dias da semana, das 9h às 18h
Na Casa 6, exemplos de resistência
Em seus trabalhos, o artista paulista Jaime Lauriano fala sobre as estruturas de poder que moldam a sociedade, propondo uma revisão da história. Além de expor duas obras no Memorial do RS, Lauriano trabalhou com duas comunidades quilombolas, Família Silva, em Porto Alegre e Vó Elvira, em Pelotas. O resultado da residência na última é apresentado na exposição Terra é Poder, na Casa 6, em Pelotas, que conta com fotografias, depoimentos e artesanatos produzidos pelos moradores da comunidade rural. Segundo a curadora adjunta Paula Borghi, o quilombo foi escolhido porque representa a luta afro-brasileira:
– As comunidades remanescentes de quilombos são oriundas de grupos negros descendentes de africanos escravizados que, durante os séculos de escravidão até a atualidade, afirmam-se como uma área de resistência igualitária.
Casa 6 – Praça Coronel Pedro Osorio, 6, Centro Histórico, Pelotas. Visitação de segunda-feira a sexta-feira das 8h às 18h30min
11ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
- Visitação às exposições: de 6 de abril a 3 de junho, conforme o horário de visitação de cada local (confira no mapa abaixo).
- Locais: Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), Memorial do Rio Grande do Sul, Santander Cultural, Praça da Alfândega, Igreja Nossa Senhora das Dores, Comunidade Quilombola do Areal e Casa 6 (Pelotas).
- Curadoria de Alfons Hug e curadoria adjunta de Paula Borghi.
- Entrada franca.
- Mais informações: bienalmercosul.art.br
Mapa da 11ª Bienal de Artes do Mercosul
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