Talvez por ser o melhor hospital do país e da América Latina (e o 34º do mundo), de acordo com o ranking World’s Best Hospitals 2023, publicado pela revista Newsweek, muita gente pensa que o Albert Einstein tenha sido o primeiro estabelecimento hospitalar da comunidade judaica no Brasil. Mas essa primazia cabe ao Hospital Leonardo Cohen, criado por colonos judeus em Quatro Irmãos, na região do Alto Uruguai, em 1929 (26 anos antes da fundação da instituição paulista).
A vinda dos colonos para o Brasil havia sido financiada pela organização filantrópica do Barão Moritz von Hirsch, um dos cinco homens mais ricos do mundo no século 19. Consta que Hirsch teria investido o equivalente a US$ 300 bilhões para salvar a vida de judeus expostos aos pogroms, termo que designa os ataques à população judia praticados no Império Russo.
A saída foi enviá-los para Estados Unidos, Canadá, Austrália e países da América do Sul, como Brasil e Argentina. No caso do Rio Grande do Sul, os imigrantes chegaram em duas levas – primeiro em Santa Maria, em 1904, e depois em Quatro Irmãos, em 1912. No total, vieram cerca de 2,5 mil famílias.
– Ganharam lotes de terra, vacas e ferramentas, que mais tarde tiveram que pagar, porque as colônias precisavam ser autossustentáveis. Já na época, como filantropo, o barão possuía uma visão próxima da ideia profissionalizada de terceiro setor que temos hoje – diz o jornalista e cineasta Sérgio Lerrer, secretário-geral da comissão do Polo de Turismo Judaico de Quatro Irmãos.
Construído no alto de uma colina, para que fosse facilmente avistado, o hospital contou com um projeto arquitetônico arrojado, que buscava aproveitar ao máximo a luminosidade natural, devido à escassa disponibilidade de energia elétrica. Além disso, corredores de vento asseguravam a ventilação interna do prédio.
Atendendo judeus e não judeus, o corpo médico incluía experientes doutores europeus, a exemplo do alemão Otto Golberg, que havia atuado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Habituado a trabalhar em condições adversas, Otto sabia improvisar na mesa de cirurgia, como na ocasião em que um rapaz apareceu com o crânio afundado, após levar um coice de um cavalo.
– Na falta de outro instrumento, Otto pegou um desentupidor de pia e pressionou até desafundar o crânio. O paciente viveu ainda bons anos e não morreu por conta do coice – assegurou Moyses Henkin, genro de Otto, em depoimento a Lerrer.
O Hospital Leonardo Cohen funcionou até 1961. Tombado como patrimônio histórico pelo município de Quatro Irmãos, hoje é um Memorial da Imigração Judaica e faz parte da Rota Judaica que está sendo implantada na região. Em sua homenagem, será realizada, no próximo dia 14 de março, a I Jornada Médica Internacional, no Centro Cultural 25 de Julho, em Erechim. Com a participação de palestrantes de Israel, Estados Unidos, São Paulo, Paraná e RS, o encontro irá debater as tendências de inovação na medicina pública e privada. A realização é do Polo de Turismo Histórico Judaico de Quatro Irmãos e da prefeitura de Erechim, com apoio da URI/Erechim, do Simers e da Federação Israelita.