Em meados dos anos 1970, um festival de rock agitou a juventude de São Francisco de Paula, junto ao Lago São Bernardo, na serra gaúcha. Músicos do IAPI, reduto roqueiro da Capital, se juntaram aos artistas locais para celebrar a cultura de paz e amor que florescia na época. A história é contada pelo leitor José Carlos Santos da Fonseca, que escreve livros sobre as memórias da cidade natal, carinhosamente conhecida como São Chico. Entre eles, os volumes 1, 2 e 3 da série São Francisco de Paula: História, Encantos e Mistérios – Resgatando o Passado Serrano, publicados em 2012, 2015 e 2019. Eis o seu relato:
No final de 1974 ou início de 1975 (a data exata é uma incógnita), um jovem serrano, José Luiz Medeiros Traslatti, então com pouco mais de 20 anos, provavelmente apoiado por uma turma de roqueiros da Vila IAPI, de Porto Alegre, resolveu fazer um show de rock junto ao Lago São Bernardo, em São Francisco de Paula. Contou ainda, é claro, com a ajuda de amigos, além da participação de músicos da região da Serra.
José Luiz tinha um apelido, “Devoh”, pelo qual todos os seus amigos o chamavam. Por isso, o show ficou conhecido como “Devohstock”. Já outras pessoas batizaram de “Lagostock”, em função do local onde aconteceu. Em ambos os casos, era uma referência ao célebre Festival de Woodstock, realizado em uma fazenda do estado de Nova York, nos Estados Unidos, em 1969. Meu amigo “Tunico” (Antonio Batista Ebenhardt) lembra que o Festival do Devoh atraiu a atenção também de alguns fazendeiros. Esses pensaram que haveria na cidade uma feira de gado devon (nome de uma raça de bovinos). Só que, em vez disso, se depararam com um grupo de hippies acampado na margem direita do Lago São Bernardo.
Este show deu o que falar na cidade serrana e na Capital, pois algumas gurias fugiram de casa e vieram com os namorados a “São Chico” para prestigiar o evento musical. Eu tinha 12 anos na época e acompanhei, a pedido dos meus pais, a minha irmã Carmem com seu namorado Paulinho, um “cabeludo” de Caxias do Sul. Sentamos na relva, em frente ao palco, que foi improvisado em cima do alpendre de entrada do então abandonado Hotel Cavalinho Branco. Recordo que um dos músicos que se apresentava em cima do alpendre, onde foram colocadas algumas tábuas para tapar um grande buraco que havia ali, chegou a cair do palco, mas ainda bem que não se feriu.
Acredito que cerca de duas centenas de jovens tenham vindo prestigiar o festival, para decepção de nosso amigo “Devoh”, que esperava público bem maior, já que estava munido de ótimas intenções a fim de proporcionar um bom rock and roll aos entusiastas deste ritmo musical, que perdura até os dias de hoje. Mas se alguém perguntar se os que foram lá curtiram aquele final de semana, a resposta é: “pode crê, bicho”, curtiram e muito. Perdeu quem não compareceu!