O texto a seguir é uma colaboração de Lucídio Morsch Goelzer, de 79 anos, natural de Passo Fundo, fundador da Estância das Oliveiras.
Em 1948, o passo-fundense Mário Goelzer (1901-1975), da Vila Coxilha (hoje, já é município), decidiu plantar trigo nos campos do Planalto Médio, algo impensável à época, atendendo ao pedido do presidente Dutra aos brasileiros, o qual julgava imprescindível plantar trigo e aumentar a oferta urgente.
Naquele ano, nos campos do Butiá Grande, em Passo Fundo, foram plantados 96 sacos de semente de trigo, tendo a área sido preparada com arados manuais, tracionados por animais, gradeada com grade triangular e cravos de ferro como ponteiras, semeada a mão. Colhido com foice manual, os fardos da produção foram transportados em carroça e debulhados em trilhadeiras de madeira e, por fim, os grãos colocados em sacos costurados à mão.
A Granja Dona Eufrázia recebeu à época o comandante do 20º Regimento da Cavalaria do Exército, o comandante do quartel da Brigada Militar, padres Capuchinos, o prefeito municipal e pesquisadores da Estação Experimental Federal de Desvio Englert, além de vereadores e outras autoridades que foram lá comprovar que o plantio dava certo, que o trigal estava lindíssimo. Ao meio dia, foi servido um churrasco. Nesse primeiro plantio, foram colhidos cerca de 50 mil quilos de grãos de trigo de excelente qualidade.
Em 1950, Mário Goelzer importou um trator Fordson Major, movido a querosene, um arado, uma grade e uma colhedora de trigo que fazia feixes atados. O veículo agrícola tornou-se uma atração turística, já que foi o primeiro trator em operação no Estado.
Em 1949, Mário Goelzer foi condecorado pelo presidente Dutra e, em anos posteriores, pelos governadores gaúchos Ildo Meneghetti e Perachi de Barcelos. Em 1957, na primeira Feira Nacional do Trigo (Efrica), o governador Meneghetti descerrou uma placa que homenageava Mário Goelzer, como pioneiro do plantio do trigo em área de campo.
Hoje, com as tecnologias aplicadas às sementes e aos moderníssimos equipamentos de altíssima performance, fica difícil imaginar que, em 1948, os 50 hectares foram preparados de forma tão rudimentar e trabalhosa.
Os jornais Diário da Manhã e O Nacional registraram esta saga pioneira em detalhes, no início e nos anos seguintes. O Jornal do Brasil e a revista Veja também reconheceram o pioneirismo de Goelzer.
Nós, descendentes de Mário Goelzer, nos sentimos muito orgulhosos quando lemos, hoje, na mídia, que a safra de trigo 2022 será a maior da história em área plantada nos campos desse nosso Rio Grande. Esta cultura começou em Passo Fundo, no Butiá Grande, na Granja Dona Eufrazia, por um inovador chamado Mário Goelzer.
Há pouco mais de 17 anos, me aventurei na plantação de oliveiras. No sul do Brasil, fomos também um dos pioneiros no cultivo das azeitonas e na transformação em azeite de oliva. As condições de hoje são melhores que aquelas da época do meu pai, nos privilegiaram, mas não significa que foi menos penoso. São dias e noites de plantação, extração e acompanhamento para ver crescer e florescer uma linda oliveira, que gerará uma produtiva azeitona que nossa capacidade tecnológica transformará em um belo ouro líquido, chamado de azeite de oliva extra virgem. Essa caminhada, de quase duas décadas, reforça o orgulho aos antepassados, a mim e, certamente, ao RS, pois, em 2022, fomos agraciados com diversos títulos internacionais (Itália, EUA e Israel), nas principais competições de azeites de oliva extra virgem do mundo.
Acreditar nos sonhos me motiva, motivou meu pai e nos compromete em querer entregar o melhor. Que sigamos em frente, honrando nossa terra e nosso passado, colhendo frutos e plantando não somente boas sementes, mas valores como o esforço, a dedicação, o orgulho e a gratidão.